Trama

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Os raios de sol entravam pela fresta da escotilha do quarto, iluminando parcialmente o corpo de Hinata, que não teve nada além dos braços dele para cobri-la da brisa noturna. Os cabelos preto-azulados estavam emaranhados, cobrindo-lhe a face e a conferindo um ar etéreo de uma pintura. Com uma pitada de orgulho por saber que a possuía, Neji afastou os fios da bochecha dela, beijando-a suavemente em seguida.

Hinata resmungou e se virou em sua direção. Não havia sequer despertado por completo ou aberto os olhos e ainda assim o rubor subia pelo pescoço dela, tomando sua face. Neji mordeu o lábio inferior, deliciado com a visão da timidez dela tão nítida, mas então foi assaltado por uma possibilidade que o fez perder o ar.

Claro, havia ficado surpreso com a investida de Hinata, mas também não podia negar que tinha um toque de naturalidade no que havia acontecido. Afinal de contas, eram duas pessoas que se gostavam e que sentiam atração sexual um pelo outro. O problema era que agora, olhando-a corar com os olhos ainda fechados, pensou na possibilidade de ela ter agido por puro impulso. Tentou refrear sua mente. Estavam juntos, estavam bem. Não precisava colocar complicações onde não havia. Mas e se?...

— Bom dia — disse ele, afagando o rosto dela. — Logo mais o navio vai chegar no País da Água.

Ela fez um muxoxo e abriu os olhos com piscadelas rápidas, focando-se aos poucos no rosto dele.

— Tão rápido assim? Achei que teríamos mais tempo.

— Bom, e temos, mas precisamos comer alguma coisa, tomar um banho, nos arrumar...

Ela se espreguiçou, prendendo a perna dele entre as dela. Havia uma expressão diferente no rosto de Hinata e Neji tentou eternizar aquela sensação de leveza em sua memória para levar consigo para sempre.

Quando ela se virou para ele outra vez, o abraçou delicadamente e de forma hesitante. Aproveitou para puxá-la mais uma vez para seus braços, beijando-a na boca e no pescoço. A vontade que ele tinha era de ficar ali por toda uma eternidade, no entanto tinham um dever a cumprir e não podiam falhar.

— Está arrependida — murmurou ele no ouvido dela. A questão era boba e poderia ter sido deixado de lado, ele sabia, mas não conseguiu se conter. Olhou para ela, percebendo que ela estava ainda mais vermelha do que antes e com algo que parecia ser medo nos olhos perolados.

— Mas é claro que não. Você está?

— Como poderia?

Ela deu de ombros.

— Não sei. Você perguntar isso assim de repente me deixa até assustada.

— Acho que a gente ainda precisa se acostumar com o fato de que há amor nisso tudo.

Hinata anuiu e o abraçou, mas a impressão que ele teve foi de que ela queria apenas se esconder por vergonha depois de ter ouvido aquilo, o que o fez sorrir. Adorava cada traço que a compunha e aquele jeito meigo e tímido dela não ficava de fora da lista de coisas que ele achava adorável nela.

Neji nunca foi uma pessoa que pudesse ser considerada carinhosa ou emotiva, no entanto trocar carinhos com Hinata e demonstrar de fato seus sentimentos para ela era algo que agora descobria fazer com que ele sentisse prazer. Vê-la comovida por sua entrega genuína não tinha preço e fazia com que cada um de seus esforços valessem a pena. Só esperava que tudo aquilo fortalecesse os laços que estavam criando.

Depois de mais alguns minutos de preguiça e troca de carinhos, os dois foram obrigados a se levantar. O banheiro da cabine não era grande, mas isso não pareceu atrapalhar os planos de Hinata de invadir o banho de Neji, o que depois acabou se mostrando uma ideia muito boa. Ele só desejou poder ter tido um pouco mais de tempo para aproveitar.

EpifaniaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora