Obstáculos

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Havia uma nova e diferente centelha de vida naquele quarto hospitalar. Hinata podia sentir isso em seus ossos. Antes, quando entrava naquele lugar, sentia-se em um filme com tons foscos e amarelados, como se estivesse em um mundo paralelo e com cores diferentes, o que era irônico diante da situação em que Neji se encontrava. Agora, as cores pareciam mais vivas, o ar mais puro e o ambiente mais claro. Sabia que isso tudo podia ser apenas fruto de sua imaginação, porém não conseguia evitar a sensação de novidade que havia em seu peito.

Quando entrou, percebeu que havia flores no jarro e que as cortinas estavam completamente abertas, deixando a visão do campo que ficava atrás do hospital dar ainda mais vida ao quarto. Neji se encontrava sentado recostado ao travesseiro, uma cesta de frutas na mão, com uma maçã mordida dentro. Ele abriu um sorriso ao ver Hinata se aproximar, o qual ela devolveu feliz por vê-lo tão receptivo — o que sabia ser raro.

— Recebeu visitas cedo hoje — disse ela.

— Quase todos vieram. Tenten, Rock Lee, Chouji, Ino e até o Sai. — A voz dele estava melhor, mais confiante e o mais próxima possível do que um dia fora.

— Os outros devem estar ocupados — comentou Hinata, e se sentou na poltrona.

— Pelo que soube, sim... Mal posso esperar para voltar à ativa de novo também.

— Você vai, Neji. Basta ter paciência. Quer que eu guarde a cesta?

— Por favor. A Tenten me obrigou a morder a maçã! Você sabe como ela e o Lee são... Mas já tomei café da manhã e não quero encher minha barriga demais antes da fisioterapia.

Hinata ouviu tudo enquanto imaginava a bagunça que seus amigos deviam ter feito durante a visita. Pensar naquilo era bom, muito bom. Quando Neji ainda se encontrava em coma, todos apareciam ali com um ar soturno e triste, quase reverente, e saber que isso havia mudado trazia ainda mais alívio.

— Eles estão felizes por ver você bem — disse ela. Pegou a cesta do colo dele e a depositou na mesinha de cabeceira. — Espero que esteja tudo bem para você o fato de eu querer te ajudar com a físio.

— Vai ser bom. Na verdade, acho melhor ter você me acompanhando do que uma enfermeira que nem conheço, considerando que Sakura está em uma missão.

Hinata abriu um meio sorriso. Não havia recebido treinamento médico, porém seu byakugan a habilitava para o trabalho de reabilitação muscular, apenas precisava seguir o protocolo de segurança e os procedimentos que estavam listados na folha que Shizune a deu no dia anterior, quando se prontificou a ajudá-lo. Sentia-se um pouco insegura em relação a isso, afinal de contas nunca fizera algo parecido, porém tinha fé de que daria tudo certo. Era o mínimo que poderia oferecer depois do sacrifício de seu primo.

— Podemos começar? — questionou ela, um pouco incerta.

— A Godaime avisou você?

As sobrancelhas de Hinata se curvaram por um segundo, a dúvida no rosto, mas logo um sorriso iluminou a face alva dela. No dia anterior, Tsunade havia submetido Neji a uma bateria de exames, inclusive físicos, a fim de verificar a extensão dos danos sofridos e, então, poder recomendar uma lista de exercícios fisioterapêuticos para ele. Durante os testes, acabaram descobrindo que a sensibilidade das solas dos pés de Neji estavam retornando. Isso era mais uma vitória.

— Na verdade — começou ela —, foi a Shizune que me falou. Ela explicou sobre tudo o que fizeram ontem... os exames. Você está muito bem, só precisa aguentar um pouco mais e ser forte, como sempre é, e logo estará fora deste hospital.

Neji pareceu refletir sobre o que Hinata disse, compenetrado enquanto encarava a face dela. Nesse instante, a Hyuuga percebeu que havia algo de diferente na forma em que ele a olhava, como se existisse um segredo, bem ali, no meio dos dois, que os envolvia como um escudo de ar que só se fez visível nesse instante para ela. Um enigma.

EpifaniaWhere stories live. Discover now