Esperança

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Hinata parou os movimentos e se olhou no espelho. Ao redor de seus olhos perolados, manchas escuras marcavam sua pele alva e destacavam o cansaço que a perseguia nos últimos dias. Seus cabelos negros molhados pingavam no roupão de banho, uma mão segurando-os pela metade enquanto a outra permanecia paralisada com a escova no ar. Queria poder deitar e dormir uma noite tranquila de sono, mas não conseguia fazer isso quando tantas coisas a preocupavam.

Voltou a escovar seus cabelos, os olhos baixos agora. Naquela tarde havia participado da terceira reunião pós-guerra de seu clã, porém nada estava saindo conforme ela, sua irmã e seu pai esperavam. Mudar algo enraizado por gerações era mais complexo do que parecia à primeira vista.

Hanabi, sua irmã mais nova, era a que menos conseguia compreender aquilo. Saíra de todas as reuniões irritada e reclamando. Apesar daquele jeito rabugento, e da situação em si, aqueles foram os únicos momentos em que Hinata conseguiu sorrir depois da guerra.

Os anciãos do clã Hyuuga diziam concordar com uma mudança de regime, também aceitavam o fato de que era arcaica a política de dicotomia de Casas primária e secundária, porém afirmavam que, mesmo assim, aquela lei do clã era o que protegia o Byakugan de cair em mãos erradas. E ainda usaram o sacrifício de Neji como exemplo.

Hinata pousou a escova em cima da penteadeira, fechou os olhos e começou a apertar os dedos, estalando-os nervosamente ao recordar o que disseram: Mesmo não concordando com a Casa secundária, Neji se colocou à frente de Hinata. Isso porque até ele podia perceber a importância da nossa política de proteção.

Hinata bateu o punho cerrado em cima da penteadeira e a escova pulou, pairando no ar por milésimos antes de cair com um baque de volta no móvel e escorregar para o chão. Como puderam usar ele como exemplo?! E pior: como puderam falar sobre ele usando o pretérito? A Hyuuga tinha cada vez mais raiva de toda aquela situação.

Respirou fundo e se recompôs o quanto possível. Pegou a escova do chão e a guardou. Sentia-se tão sozinha nos últimos dias que até mesmo as coisas mais simples do cotidiano a irritavam. Mas ela sabia que o motivo para tanto estresse estava atrelado aos acontecimentos da guerra e às coisas que vinham ocorrendo.

Trocou-se, vestindo uma blusa folgada e uma calça. Já eram quase 18 horas e sabia que, se não se apressasse, poderia perder o horário de visitas. Passou pela sala de estar, onde seu pai se encontrava sentado e concentrado em um documento que trouxe da reunião, e foi direto para a cozinha. Pegou uma cesta de vime, mas parou, pousando-a em cima da mesma. O que estava pensando!? De nada adiantaria levar comida. Guardou a cesta outra vez, um pouco mais abatida pela falta de atenção, e saiu da casa em silêncio. Não queria que alguém tentasse passar um sermão por estar fazendo daquelas visitas uma rotina. Aquela era a única coisa que podia fazer e ainda achava muito pouco.

Caminhou apressada em direção ao centro de Konoha. Havia alguns dias que não via Kiba ou Shino, que também estavam ocupados com os deveres de seus próprios clãs. Pelo que ficou sabendo, os Inuzuka estavam preparando as crianças que entrariam para a escola ninja, um ritual de passagem entre eles. Os Aburame também tinham muito o que fazer: por causa da guerra, precisaram se unir para uma extensa caçada a insetos.

Levantou os olhos e de longe avistou o prédio onde Naruto vivia. Sentiu um aperto no coração ao se lembrar dele, pois já havia algum tempo que tentava bloquear os pensamentos que a levavam até o Uzumaki.

Era estranho querer tanto vê-lo e ao mesmo tempo evitá-lo. Após se confessar durante a luta contra Pain e de novo na guerra, Hinata esperava que Naruto viesse ter com ela. Estava preparada para tudo: uma rejeição, um pedido para que pudessem se conhecer melhor, um tempo para pensar... tudo, menos que ele simplesmente deixasse sua confissão no ar como se não tivesse importância. Ainda assim, era isso o que tinha acontecido.

EpifaniaKde žijí příběhy. Začni objevovat