Todos os dias ela acordava pensando que seria aquele o dia em que Naruto bateria à sua porta, os olhos azuis cansados, o corpo tenso e o sorriso tímido que havia assumido. Mas isso não acontecia e a Hyuuga ficava cada vez mais ansiosa. Era tão difícil para ele se posicionar?

Deve estar muito ocupado, pensou ela, como pensava todos os dias, o que não deixava de ser verdade. Assim que a grande guerra ninja terminou, Hinata chegou a vê-lo de longe algumas vezes e notou o quão diferente ele estava. Mais sério, mais maduro. Talvez essa mudança tivesse sido causada pelas coisas que vivenciaram nas batalhas, talvez pelo aumento das responsabilidades atribuídas ao herói de Konoha. Um título desses demandava muito, imaginava ela.

Mesmo assim, mesmo com todos os deveres que ele tinha agora, Hinata não conseguia compreender o motivo de tanto silêncio. Desde muito pequena seus olhos sempre estiveram atentos a ele, buscavam por ele. Sabia que Naruto tinha muito o que aprender com o tempo e que precisava amadurecer e compreender as coisas que aconteciam no mundo como de fato eram em vez de idealizar tudo à sua maneira, como sempre fazia. Não era boba como as pessoas costumavam pensar: sabia que o Uzumaki tinha seus defeitos, todos tinham, afinal. Ainda assim, as qualidades dele sempre estiveram muito claras para ela e sobrepujavam a impaciência e a infantilidade que ele possuía. Antes de qualquer coisa, a Hyuuga o admirava pela pessoa que ele era, por quem ele se esforçava para se tornar. No entanto, aquele distanciamento, a falta de pronunciamento dele para com algo que era tão visivelmente importante para ela, deixava-a decepcionada.

O mais constrangedor de tudo era saber que as pessoas ao seu redor sabiam o que tinha acontecido e que também estavam cientes de que Naruto nada havia feito ou falado sobre o assunto. Não podia mais ficar pensativa, pois corria o risco de perceber os olhares que a lançavam. Nem mesmo sua irmã mais nova deixava seus momentos de silêncio escapar; perguntava, sempre, se estava quieta por causa de Naruto, e Hinata preferia inventar uma desculpa qualquer a ter de admitir a verdade. E isso doía. Em principal porque ele ocupava metade dos pensamentos que tinha por dia.

Às vezes acordava e dizia a si mesma: Hoje será diferente, e tentava esquecer um pouco do que sentia por ele. Mas como esquecer alguém que estava na maioria das lembranças boas que possuía? Como esquecer uma pessoa que havia ajudado a moldar quem você havia se tornado?

— Obsessão — dissera-lhe Hanabi uma vez, quando a viu sozinha no pátio de casa, dias depois da guerra.

— O quê? — perguntara.

— Isso não é amor, é obsessão. Você fala dele sempre e aposto que, quando fica olhando pro nada assim, é porque está pensando nele também.

— Estava pensando em Neji... — Aquilo não era verdade, mas também não era mentira: quando se sentou no pátio, estava refletindo sobre os momentos bons que tivera com seu primo e como queria ele por perto, mas então sua mente divagou até encontrar Naruto outra vez.

— Sei...

E a conversa acabou. Porém, na mente de Hinata, a palavra usada para definir o que Hanabi achava que ela sentia por Naruto perdurava e incomodava como um alfinete colocado na lateral de um vestido a fim de apertá-lo.

Não se achava obcecada e sequer entendia o motivo de sua irmã ter dito algo tão radical, mas confessava a si mesma, no silêncio de seu quarto, antes de dormir, que às vezes queria se desapegar um pouco que fosse. Aquele sentimento tão bonito que nutria por Naruto agora a estava consumindo de uma forma que jamais imaginou possível, e isso era assustador.

Só queria ser correspondida, pensou. Ou ao menos respondida.

Deixou esses pensamentos de lado por um momento e entrou no hospital de Konoha. Havia caminhado tão rápido para chegar lá a tempo, que estava sem fôlego. Foi direto à recepção.

EpifaniaWhere stories live. Discover now