•Capítulo 37•

2.6K 227 4
                                    

"Chegada Inesperada"

London

Acordei esta manhã com uma sensação estranha apertando meu peito. Um vontade de xingar o mundo, ou a mim mesmo por ser tão burro. Como pude deixar Lexie ir embora e não fazer nada para evitar isso? Ela esteve tão perto e eu simplesmente cruzei meus braços, como?
Isso é mais do que ser idiota. E eu odeio quando me sinto dessa forma.
Deixei uma mensagem para ela antes de vir para casa de May. Eu não soube dela desde sábado à tarde, e eu meio que suspeitava que ela fosse se distanciar de mim. Quem quer ficar perto de alguém que não dá o devido valor ao que tem?
Desde o início eu sei que eu a tenho, é tão claro na forma como ela me olha, na forma como ela me toca e implica comigo. Isso me faz um idiota por não ter feito nenhum movimento em relação à isso.
Mas sempre que ela está por perto torna tudo muito difícil. Eu sei que já sou um menino grande, e coragem é algo que não me falta. Mas porque eu tenho tanto medo de me revelar para ela?
Porque eu não consigo transformar o que sinto em palavras?
Seria mais fácil se não precisássemos passar por essa parte.
Cheguei na casa de May um pouco depois das nove da manhã. Ela estava me esperando na varanda com seu marido, o Chase. Cumprimentei os dois, e eles me passaram todas as informações necessárias. May me deixou uma chave reserva e disse que eu tinha passe livre para usar o quarto de hóspedes e o banheiro se eu precisasse. Ela não ficaria em casa por causa do cheiro da tinta, mesmo eu deixando claro que manteria a porta do cômodo fechada. Ela insistiu que não tinha problema, e que não podia desmarcar seu compromisso.
Chase por outro lado, me levou até o porão e me mostrou as tintas que devem ser usadas. Depois ele disse que não chegaria até o jantar, mas que se acontecesse alguma coisa era só eu chamá-lo.
O que May discordou na mesma hora. Ela disse que eu sou experiente nessa área, e que duvidava muito que eu precisasse de qualquer ajuda. Fiquei meio intrigado com sua conversa. Eles mal me conheciam e já estavam me liberaram a casa toda?
Por um dia inteiro?
Eu podia muito bem fazer uma festa, ou simplesmente não fazer nada e ficar explorando sua mansão chique.
Mas eu não era assim, e eles viam isso. Então eu apenas concordei, e eles seguiram em paz para seus destinos. Eu pensei em perguntar sobre Lexie para May, mas decidi que não era o momento. Talvez ela não sabia o que está acontecendo com a gente.
Já que nem mesmo eu sei.

§

O quarto de Star não é tão pequeno quanto eu imaginava. Há espaço para colocar quantos berços May quiser, e sobrará lugar para os brinquedos, o roupeiro e o lavatório.
Incrível.
A garotinha nem nasceu ainda e nem sabe o tanto de conforto que lhe espera aqui fora. Pego a escada móvel e pouso ela na parede. Coloco duas tonalidade de rosa na paleta de tinta. May recomendou que eu fizesse degrade nas quatro paredes do quarto. Eu pensei em fazer metade rosa forte e metade rosa fraco.
Então eu pego um pincel largo e mergulho na tinta rosa forte, limpo o excesso na borda da paleta, e começo a pintar o canto da primeira parede. Tenho o máximo de cuidado para não borrar a madeira branca que separa a parede do chão.
Eu não sei quanto tempo vou levar nessa função, mas espero que até o final de semana eu consiga deixar o quarto do jeito que May quer.
O cheiro de tinta fresca enche o espaço, e minhas narinas dilatam um pouco. Continuo passando o pincel por toda parede seguindo a linha horizontal. Molho o pincel algumas vezes, e cuido para acertar o tom na parede.
Algumas gotas de tinta respingam em meus joelhos, estou agachado e minhas pernas já começam a sentir o peso do meu corpo sobre elas. Eu trouxe comigo uma muda de roupa extra, que se baseia em uma bermuda camuflada, e uma camiseta cinza. Não costumo usá-las em casa, deixo sempre guardado para ocasiões como está.
May e eu não combinamos o valor e nem como vai ser meu pagamento, mas eu não estou preocupado com isso. Na verdade estou até repensando em aceitar seu dinheiro. Afinal isso aqui é para uma boa causa. E parece meio errado cobrar de uma grávida o pagamento da pintura do quarto de um bebê.
Não sei.
Agito a cabeça, e continuo fazendo a pintura. Agora dá para notar diferença. A cor está cobrindo quase metade da primeira parede, a que tem uma janela de vidro com grades de proteção.
Sinto o suor começar a molhar minhas costas, então eu solto o pincel na paleta, e retiro minha blusa. Aproveito para usar ela pra secar meu rosto, e a jogo no canto. Puxo meu celular no bolso apenas para checar a hora, já é quase duas da tarde, talvez eu possa fazer uma pausa. Depois verifico se Lexie respondeu minha mensagem, e meu coração perde uma batida quando vejo que não há nada.
Nem mesmo um emoji.
Meu maxilar se contrai, e eu guardo o celular no bolso de trás da minha bermuda de moletom. Não lembro de May me dizendo se eu posso me alimentar da comida que há na sua geladeira. Mas isso não deve gerar nenhum problema, desde que sua casa esta liberada para mim.
Então eu saio do quarto, e vou até o banheiro mais próximo, e lavo minhas mãos. Há pingos de tinta seca por toda minha pele. Pego o sabonete de cima da pia, e esfrego minhas mãos e antebraços. A espuma começa a esconder minha pele, e eu solto o sabonete e em seguida enxáguo minhas mãos. A água está fria, mas vejo que há a opção de escolher quente conforme a estação.
Uau.
May mora muito melhor que sua irmã. Mas consigo imaginar porquê. Afinal, seu marido é advogado, não deve ter quaisquer preocupações financeiras. Seco minhas mãos na toalha pendurada no gancho na parede atrás de mim. E dou uma rápida olhada em meu reflexo no espelho. Não estou tão mal fora as bolsas escuras embaixo dos meus olhos.
Saio do banheiro, e sigo pelo corredor amplo. Chego no alto da escada, e desço seus mais de vinte degraus. Há um tapete elegante por toda sala até quase a porta de entrada. Um par de sofá vermelhos e sofisticados estão no centro da sala. E na frente deles, está uma TV enorme presa na parede. A cima do sofá há um lustre luxuoso no teto.
Chego na cozinha, e meus olhos ficam surpresos com tudo que vê. É como vejo nos filmes. Uma mesa enorme, com muitas cadeiras em sua volta. Um conjunto de armários visivelmente escolhidos a dedo para ocupar toda as paredes da cozinha.
É magnífico.
Vou até a geladeira, e abro a porta. Caramba.
Há um milhão de coisas para se escolher. Meus olhos correm pelas prateleiras, há doces como cereais, iogurtes, frutas e uma pequena torta. Há também muitos vegetais na gaveta de baixo. Na porta há ovos, garrafas de leite, e suco natural.
Inclino meu braço pra frente, e levanto a tampa da primeira prateleira, dentro encontro queijos, presuntos, e molhos prontos. Bom, não sei o que comer primeiro. Nunca tive uma geladeira tão cheia assim.
Como que May e Chase conseguem manter tudo isso?
Pego um pacote de queijo, e presunto. Abro a gaveta e pego um tomate e uma folha de alface. Depois pego uma garrafa de suco de laranja. E um pote de molho pronto. Seguro tudo em meus braços, e fecho a geladeira com minha perna.
Vou para mesa, e coloco tudo em cima dela. Depois vou para os armários procurar por pão de forma. Quando encontro, trago-o para mesa e começo a preparar um sanduíche.
Meu estômago ronca.
Eu estou no meio de uma mordida quando escuto alguns passos atrás de mim. Meus olhos arregalam, e único pedaço de pão que tinha em minha boca desce apertado pela minha garganta.
Deixo o pão em cima da mesa, e olho demoradamente para trás. É quando o ar falta em meus pulmões.

— Lexie?

E então me dou conta que estou vestido nada além de uma bermuda, e estou de pés descalços comendo um sanduíche na cozinha da sua irmã, bem à vontade, como se aqui fosse minha casa. Seus olhos me dizem que mais uma vez eu fui pego.

Ao Seu Lado Where stories live. Discover now