•Capítulo 14•

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"À sua altura"

Lexie

Volto para casa depois de distribuir muitos beijos de despedida em meus alunos, e depois de me certificar de que Maggie estava realmente bem.
E ela estava, para meu alívio.
Foi só um alarme.
Sua gravidez está totalmente segura.
Eu estou tão distraída com meus pensamentos que não percebo uma sombra se aproximar de mim até que ela esteja ao meu lado, e eu definitivamente vejo de quem se trata.
Agito minha cabeça, mas não consigo esconder minha cara de espanto.
— O que é isso? Meu coração continua disparando. - viro para ver seu rosto petulante. — Alguma tática para me matar?

Atravesso a rua, e ele continua me seguindo. Então paro na frente da minha casa. Cruzo meus braços, e o enfrento.
Ele esfrega seu queixo erguido.
— Longe de mim querer lhe transformar em uma estrelinha no céu.

Reviro meus olhos.
— Você não disse que eu não iria vê-lo mais? Te vi pela manhã, e to vendo você agora. Isso não parece "ver com menos frequência" para mim. – zombo dele.

— Eu posso ter me equivocado.

Semicerro meus olhos, e aproveito para analisar seu rosto. É oval, sua mandíbula é quadrada, seu queixo levemente erguido, seu lábio inferior é mais carnudo que o superior.
Gosto disso.
Zero bochechas, olhos cor de barro que revelam muito mais do que ele propriamente gosta de dizer. E o nariz até que se encaixa em seu rosto. Ah, e a forma como o seu cabelo escuro esconde um pouco da sua testa sem rugas é como a cereja no topo do bolo.
Porque ele tinha que ser tão lindo?

— Então? - chama ele, e minha atenção se concentra em seus olhos pardos. — Passei ou não?

Franzi o cenho sem entender o que ele estava querendo dizer.
— Do que você está falando?

— Estou perguntando se passei no seu teste. Você estava avaliando meu rosto por um sólido minuto. Quero saber. Estou a sua altura ou não?

Senti minhas bochechas esquentarem.
— Você é idiota.

— Isso não responde minha pergunta.

— Não. - eu cuspo. — Você não passou no teste. Seu rosto parece um ovo, tem pêlos demais em suas sobrancelhas, o tamanho do seu nariz é totalmente desproporcional, e sua boca só fala besteira.

Ele não parece ofendido com minhas mentiras, mas consigo sentir uma pontada de tensão pairando sobre nós. De repente eu começo a sentir meu corpo esquentar, ou talvez fosse porque o olhar fuzilante que ele está me dando poderia muito bem fritar um ovo.

— Caramba, – começa ele, usando um tom cuidadosamente sarcástico. — Você disse tantas coisas boas sobre minha aparência que talvez eu tenha deixado de registrar alguma.

Quando abro minha boca para falar novamente, ele me interrompe quando levanta as duas mãos até o alto da sua cabeça.
— Não precisa repetí-las. - ele pisca. — Mas eu preciso confessar que eu também tenho algumas observações sobre você.

Cubro meus ouvidos.
— Não perca seu tempo.

Bufo, quando ele fala mesmo assim.
Só que alto.
Alto o suficiente para que toda vizinhança escutasse e eu ouvisse perfeitamente cada palavra.
—  Seu corpo pode até parecer bonitinho, com todas essas curvas e enchimentos. - ele faz uma careta, mas eu consigo pegar um esboço de um sorriso chegando pelas beiradas. — Mas basta falar com você por dois minutos. Pra qualquer um querer sair correndo.

Sinto meu coração bater com tanta raiva que eu poderia devolver minha fúria batendo no rosto presunçoso dele. — Porque ainda está aqui então, London?

— Gosto quando você diz meu nome. - ele enfia as mãos no bolso, e me olha dos pés à cabeça.

Sinto minhas pernas ficarem zonzas.
Céus.
Eu não posso deixar ele perceber o que faz comigo.
— Você está me deixando louca. -suspiro, e então me viro para ir embora. Sem esperar qualquer resposta.
Quando chego na varanda, a poucos centímetros da minha mão tocar a maçaneta. Eu escuto uma risada que consegue encher meus ouvidos, mas eu não perco tempo e abro minha porta rapidamente e a fecho sem olhar para ele.

                           §

Depois de uma boa ducha, e um par de xícara de chá. Eu estou toda espalhada em minha cama, e me sinto como estivesse no paraíso. Não posso negar que esta é a minha parte favorita do dia. Pego meu celular, e decido ligar para minha mãe. Depois do convite de May, não pareceu certo que eu tenha me preocupado, nas últimas semanas, mais com o trabalho do que com meus pais.
Levo o telefone até meu ouvido, e espero a chamada ser completada.

— Olá quem é?

Apertei meus olhos.
— Mãe! - exclamo sentindo uma leve pontada no peito.
Eu logo percebi o que ela estava fazendo.

— Oh é você May? - continua ela, fingindo que não estava reconhecendo minha voz.
Sendo que eu sei que no seu celular meu nome piscou em sua tela, e possivelmente a minha foto de quando eu tinha cinco anos e segurava Star em meu colo surgiu no identificador de chamada.

— Não, é a Lexie. E você sabe disso.

Ela solta um suspiro.
— Faz tanto tempo.

Pressiono meus lábios.
— Eu sei, me desculpe.

— Tá desculpada. Como você tem passado filha?

— Muito atarefada? – coço minha cabeça. — Entre o trabalho e a casa, estou tentando me ajustar nessa nova realidade. Mas está sendo bom. Estou gostando de ter uma vida particular. Minha própria vida.

— Que bom minha menina, – sua voz cheia de emoção aqueceu meu coração. — Sentimos sua falta.

— May mencionou que vamos visitá-los no próximo final de semana?

O som fica mudo por um rápido minuto. Em seguida sua voz rouca enche o meu telefone.
— Sim, sim. Estamos ansiosos.

Sorrio.
— O que vocês têm feito desde que me mudei?

— Continuamos com nossa vida rotineira de sempre. Você sabe, seu pai sai cedo para o campo. E eu fico em casa cuidando das encomendas. Nos encontramos depois entorno da mesa do jantar, compartilhamos o controle remoto enquanto assistimos programas aleatórios e depois dormimos. No dia seguinte, tudo de novo. - uma risadinha escapa. Sorrio ao imaginar a careta que ela deve estar fazendo agora.

— E o papai? Como ele está?

Ela fica em silencio mais uma vez, e de repente um ruído alto me faz afastar o telefone da orelha por um instante. Só volto com ele quando uma voz grossa entra no alto-falante.
— Lexie é você? - diz meu pai, seu sotaque caloroso como sempre. — Quanto tempo filha.

Faço uma careta.
— Pouco mais de um mês?

— Não fique tão longe por muito tempo, sentimos sua falta aqui, de May também.

Expiro fundo na tentativa de acalmar as batidas aceleradas do meu coração.
— Eu sei, sinto muito. Mas foram semanas bem estressantes as que se seguiram depois que me mudei pra casa da May.

— E como anda as coisas por aí?

Agito meus ombros.
— Exceto que eu tenho um vizinho que incomoda a merda fora de mim. Tudo parece estar se encaixando agora.

— Vizinho? Preciso me preocupar?

— Não é nada tão grave assim. Só umas manias estranhas que ele tem, que eu ainda não me acostumei.

— Qualquer coisa que você precisar é só me chamar. Certo, bebê?

— Sim, pai. – um bocejo escapa. — Obrigada.

— Vá descansar filha, nos falamos em breve. Sua mãe está lhe mandando beijos.

— Beijo pra vocês também. Até logo.

Encerro a chamada, e levo meu celular de volta para o criado-mudo ao lado da minha cama. Desligo o abajur e assim que a escuridão preenche meu quarto, eu me aconchego em meu travesseiro e fecho os olhos.
Depois eu não me lembro de mais nada.

Ao Seu Lado Where stories live. Discover now