•Capítulo 13•

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"Novas Experiências"  

London

Afasto a alça da minha mochila do meu ombro até ela deslizar pelo meu braço e chegar em minha mão. Seguro ela com força, e continuo seguindo até o ponto de ônibus. Eu poderia muito bem ir de Uber, mas desde que eu precisava economizar dinheiro, ir de ônibus era o mais aconselhável.
Cumprimento um par de jovens que me olham quando paro atrás deles na fila. A menina parece entusiasmada com alguma coisa. Ela tem muitas sardas no rosto, cabelos cor de fogo, e tudo isso somado a uma beleza que combina com o verão. O menino ao lado dela tem muita sorte. Espero que ele esteja aproveitando essa chance que a vida está lhe dando.
O ônibus se aproxima do ponto, e meus pensamentos sobre o futuro do casal em minha frente são evaporados.
Enfio a mão no bolso, e pego minha passagem. Espero o pessoal subir, e então eu subo. Escolho um banco lá no fundo quando pago o cobrador, e passo pela roleta metálica. Ninguém nesse ônibus parece contente em acordar cedo, embora agora não fosse tão mais cedo assim. Aperto meus lábios e sigo para meu banco. Desabo no fundo, e escoro minha cabeça contra a janela. Preso minha mochila contra meu peito, e uso meus braços para abraçá-la. E automaticamente meus olhos se fecham.
Fico pensando no casal que entrou antes de mim. No quão sintonizados eles pareciam. A menina ria de tudo que ele dizia. E ele mal conseguia conter suas mãos para si mesmo. Isso me fez lembrar de Sienna. A única garota que eu tive em toda minha vida até agora. Ficamos juntos por todo ensino médio, mas acabamos seguindo caminhos opostos depois da formatura. Ela queria mais, queria ser livre. Eu não consegui acompanha-la, eu precisava ajudar meu pai. Não posso dizer que não senti saudades, que não quis jogar tudo para o ar e correr atrás dos meus sonhos com ela. Mas a necessidade falou mais alto, a saúde dos meus pais era a prioridade.
Eu precisava estar em casa.
Eu era o único suporte dos meus pais.
Deixei de me perguntar sobre o paradeiro de Sienna depois que meu pai me deixou, e em seguida minha mãe. Hoje eu não sei se ela está viva ou morta. E essa dúvida não me afeta mais. Foram longos dez anos desde que ela me deixou, e eu sinto que meu coração já viveu seu luto, e agora está começando a abrir suas portas para viver novas experiências.
Alguma coisa ao longe faz meus pensamentos pararem por um instante, e de repente eu abro os olhos a tempo de perceber que eu estava quase passando do local onde eu deveria dar o sinal e descer.
Esfrego meu rosto rapidamente, pego minha mochila, e puxo a campainha. Sigo pelo corredor, me segurando pelo corrimão acima da minha cabeça, e chego até a porta.
Faço um aceno de cabeça para o cobrador na hora que a porta abre, e eu desço.
Volto a colocar a mochila nas minhas costas, e sigo para o endereço que consegui na entrevista. Puxo o papel do bolso, e leio novamente. Meus olhos se prendem no nome rabiscado com caneta preta.

Falar com Roger Ferrer.

O que eu faria nesse emprego era basicamente ajudar uma dúzia de caras a demolir um prédio antigo para então começar a montar uma nova infraestrutura para ele. Vai ser duro, e exaustivo. Mas desde que eu não consegui me formar na faculdade, eu não podia reclamar de nada, não é?
Talvez essa fosse a chance de eu conseguir juntar um bom dinheiro para cursar engenharia, e trabalhar como esse tal Roger Ferrer, que provavelmente tem formação para passar seu tempo em um escritório, assinando papéis, ou na rua vistoriando e cobrando o suor de seus subordinados.
Lembro do meu pai reclamar algumas vezes sobre seu chefe pegar em seu pé.
Quando chego no local, já vejo um par de rapazes usando um macacão azul, e chapéu branco. Mesmo de longe consigo ver o suor brilhando em seus rostos. Cada um está com uma marreta, e há duas montanhas de areia entorno de suas pernas. Sigo na direção do contêiner onde ao lado tem um banheiro químico. Dou uma olhada pelo lugar na intenção de procurar o escritório do Roger. Não encontro.
Faço então um sinal para um senhor sentado em uma cadeira bem em frente ao tal prédio que precisa ser demolido. Ele tem uns oito andares, parece que ninguém habita nele há anos, e sua pintura está totalmente descascada. Sem falar no mato que está crescendo em volta.

— Você por acaso sabe onde posso encontrar Roger Ferrer? - pergunto para o senhor barbudo.

Ele coça a ponta do seu nariz, e aponta para meu lado direito. Acompanho seu indicador e vejo o contêiner.
— Provavelmente está lá dentro.

— Ok, sim. - era o que eu imaginava. Olho de volta para o senhor. — Obrigado.

Ele maneia a cabeça, e sorri sem muito ânimo. Me viro e sigo até o pequeno escritório móvel do meu futuro chefe.

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