•Capítulo 7•

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Luz do banheiro

London

Bato minha porta, e sigo para o banheiro. Assim que entro, olho imediatamente para o espelho. Faço uma careta quando percebo um pequeno corte na parte direita do meu nariz.
Ligo a torneira, e jogo um pouco de água no rosto. Empurro a mecha do meu cabelo que sempre cai sobre meus olhos para trás da minha cabeça. Depois que seco meu rosto percebo que o dano causado pela vizinha foi bem menor do que parecia.
Saio do banheiro, e volto para sala. Mas dessa vez deixo a furadeira de lado, e pego o martelo para colocar um par de ganchos na parede. O barulho é bem mais baixo. Ainda não consigo acreditar que levei uma sapatada na cara.
Solto o martelo em cima do meu sofá, e pego o primeiro quadro que desenterrei de uma caixa de artigos velhos que meus pais guardavam. Era uma bela paisagem. Um pôr-do-sol contrastando com as águas do mar. O outro quadro era uma paisagem urbana. Luzes da cidade, carros com faróis acesos e pessoas borradas dando a impressão de que estavam em movimento. Coloquei ambos os quadros na mesma parede que está a estante da TV, mas cuidei para deixá-los longe o suficiente para que quem fosse me visitar conseguisse vê-los.
Juntei o martelo, e peguei a furadeira. Coloquei ambos dentro da minha antiga maleta preta. E segui para guardá-la no depósito. Quando saio pra rua meus olhos se animam com a escuridão da noite. Há um vento frio soprando as folhas. E estrelas começam a iluminar o céu em todo seu horizonte.
Empurro a porta pra trás, e ela range mais uma vez. Só jogo a maleta para dentro, e puxo a porta de volta. Bato minhas mãos em minhas calças, e quando viro para voltar pra casa, meus olhos espontaneamente correm para casa da vizinha. Há uma única luz acesa, e está vindo de uma janela pequena. Há também uma fumaça fraca saindo pelos cantos do vidros. Eu não preciso pensar muito para saber que lá é o seu banheiro. E que Lexie provavelmente está tomando banho. Coço meu queixo enquanto continuo observando o vidro embasando. Olho rapidamente para os lados apenas para me certificar de que não tem ninguém me cuidando. Mas então me dou conta que só é eu o espião aqui. Agito a cabeça, e sorrio.
Forço meus pés a irem embora, mas eles não me obedecem. Meus olhos continuam fixos na janela, e há algo aqui dentro de mim animado com a esperança de vê-la.
O que é impossível.
Então eu me contento apenas com a minha imaginação. Fecho os olhos por um momento, e saboreio a sensação do seu corpo junto ao meu. Eu não consigo criar uma imagem real, eu só consigo vê-la em seu robe, repetidamente.
Um barulho estranho faz meu coração bater rápido, e meus pensamentos logo se apagam. Abro os olhos, e não vejo nada em minha volta, além do meu depósito e um par de arbustos. Mas eu levo esse barulho como um sinal que já está na hora de eu ir embora. Ainda mais depois de ver que a luz do seu banheiro foi apagada.
Preciso entrar e cuidar de mim agora. 

                              §

Na manhã seguinte, acordo com meu celular tocando. Quando levanto minha cabeça do travesseiro, e percebo que já passava das oito, fico surpreendido por ter dormido tanto.
Era a primeira vez que isso acontecia.
Pego meu celular de cima da cômoda, e o levo até minha orelha. Viro meu corpo na cama, e fico deitado de costas agora.

— Alô? - minha voz sai um pouco arrastada. Meus olhos tremem com a claridade.

— London Thompson?

Esfrego o rosto com minha mão livre.
— É ele.

Há uma respiração forte do outro lado.
— Olá, bom dia. Aqui é Melanie Jackson, e falo da agência de recrutamento. Você enviou seu currículo para nós na última sexta-feira certo?

Meus olhos arregalam, e imediatamente me sento no colchão.
— Sim, sim. Enviei. Certo.
Começo a torcer mentalmente que eles tenham um emprego para mim.

— Você ainda está disponível?

Meu coração explode em excitação.
— Estou sim, claro.

— Ok, vou lhe enviar o horário e endereço da sua entrevista por e-mail.

— Ok.
Comemoro em silêncio.
Mas quando escuto uma pequena risada do outro lado, eu fico me perguntando se ela tem ouvido supersônico.
Finjo uma tosse.

— Fico no seu aguardo, London Thompson. Até mais.

— Até. - falo antes de desligar a chamada.
Jogo meu celular pra cima, e acompanho ele quicar em cima da cama.
Porra.
Conseguir uma entrevista. Era tudo que eu precisava.
Saio da cama, e procuro meu notebook nas gavetas da minha cômoda. Faz alguns dias que eu não o usava, e agora estou empolgado demais para me lembrar onde foi que eu o guardei da última vez.
Puxo todas as gavetas para fora, e encontro o aparelho na penúltima gaveta.
Há seis.
Sento no chão, e coloco o notebook em minhas pernas, ligo o aparelho, e espero o sinal da internet ficar verde para iniciar uma pesquisa no Google. Digito o site do meu e-mail, e assim que a página carrega, digito meus dados e espero tudo acontecer. Meu coração bate ansioso enquanto vasculho meus últimos recebimentos.
Encontro o e-mail da agência.
Levanto do chão, e pego um papel e uma caneta da gaveta. Digito o endereço e o horário.
Perfeito.
Ainda tenho um par de horas até minha primeira entrevista depois de um longo tempo.

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