•Capítulo 1•

7.1K 462 36
                                    

"Pitbull"

London

Paro o que eu estava fazendo apenas para observar um casal saindo de sua casa. Ambos estão com cara feia, e não parecem nem um pouco animados com a segunda-feira. Há um menino junto com eles, e a criança parece resmungar por não ter dormido mais um pouco. Sorrio.
Eu nunca fui de reclamar por sair da cama mais cedo. Eu sempre acreditei que quanto mais cedo você acorda, mais tempo você aproveita. E embora hoje fosse uma manhã fria, aquelas que nos faz desejar uma xícara de café e ficar embaixo das cobertas no sofá. Eu sabia que tinha tarefas para fazer, e cuidar do meu gramado era a prioridade nesse momento.

Então eu peguei meu cortador de grama e aqui estou eu manobrando o carrinho por toda extensão do meu pátio, enquanto suas lâminas levantam cascalhos e pedaços de folhas pra todos os lados.
O barulho do motor é o único som que pode ser ouvido desde que a maior parte da vizinhança parece continuar dormindo. Talvez eu não esteja contribuindo muito para isso. Mas enfim, eu precisava tocar meu dia, e isso consequentemente incluía tomar o lugar do despertador dos meus vizinhos. Continuo guiando a máquina pelo chão, sentindo algumas gotas de suor brotar no topo da minha cabeça.
O sol não tinha chegado ao seu auge por completo, mas eu já podia sentir sua presença aquecendo minhas costas.

— Merda! - xingo quando o cortador da um solavanco, como se tivesse passado em cima de um buraco. Forço ele a continuar cortando, mas quando dou alguns passos para frente, e puxo o cabo  comigo, sinto que existe alguma coisa proibindo que sigamos em frente. Mas é só quando eu olho para trás que percebo o que estava me fazendo não conseguir puxar o fio pra frente.

— O que você pensa que está fazendo? - pergunto quando meus olhos caem para um par de pés femininos pressionando o cabo da minha máquina no chão.

— Você está violando o meu sossego.

Levanto meus olhos para seu rosto,  tentando ignorar o fato de que ela está usando um robe. Mas eu não consigo deixar de imaginar se há algo além dele embaixo daquele tecido fino e lilás.
Porra.
Preciso me concentrar.

— Sinto muito por perturbar seu sono moça. - sorrio com um pouco de ironia. Ela continua me olhando seriamente com seu par de amêndoas azul picante. — Mas você não acha que é uma manhã linda? Porque gastá-la dormindo?

Sua cabeça se agita de um lado para o outro, e suas mãos vão para sua cintura. Que é fina, e faz seu quadril parecer um pouco desproporcional. Mas eu gosto do que vejo. 
— A questão aqui não é sobre a manhã, e sim sobre esse barulho infernal que você está fazendo. - grita ela, pisando com mais força no fio do meu cortador de grama.
Não consigo deixar de sorrir olhando para sua coragem em bater de frente comigo. Era primeira vez que alguém se preocupava com meus barulhos.

— Eu já pedi desculpas. - ergo meus braços. E começo analisar seu rosto.
Seus olhos são tão azuis que mesmo olhando de longe me sinto como se tivesse diante do oceano. Quase sendo engolido pela vibração hipnotizantes  que há neles.

— E você acha que pedir desculpas adianta? Eu já perdi meu sono, e essa não é a primeira vez que isso acontece.

Não consigo parar de estudar cada pedacinho dela, agora meus olhos estão em seus lábios que parecem cheios e rosados, e mesmo de longe consigo ver que estão um pouco ressecados. Era a primeira vez que eu estava vendo-a de perto, e era a nossa primeira interação desde que ela se mudou para casa ao lado.
Há dois meses atrás.

— O que você quer que eu faça? - pergunto, querendo provocá-la ainda mais. — Preciso cortar minha grama. Não tenho outro momento para fazer isso.

Ela joga a cabeça para trás no momento que uma risada sem graça explode em seu peito.
— Ah quem você quer enganar? O dia tem vinte quatro horas, e você escolhe justamente seis horas da manhã?

— Você deveria agradecer por eu não ter vindo às cinco.

Seus olhos semicerram, e eu consigo sentir daqui toda sua fúria. — Já lhe disseram o quão babaca, estupido e arrogante você é? 

Meu sangue começa a ferver.
— Ei, calma aí filhote de pitbull. 
Eu não vou deixar uma vizinha qualquer me ofender. Eu estou na minha casa. No meu espaço pessoal. 

— Eu não sou filhote de pitbull.

— Mas está latindo para mim desde que chegou aqui. - grito jogando minhas mãos.

Poxa vida.
O que havia demais em cortar uma grama?
Eu não estava fazendo mal à ninguém.

Ela fica em silêncio por um momento, e quando eu penso que ela vai desistir e ir embora. Ela arranha a garganta, e dá de ombros.
— Quer saber? Não há mais conversa com você. Se houver uma próxima perturbação, eu vou denunciá-lo.

— Vá e faça-o, estou morrendo de medo. - provoco mais um pouco.

Mas ela não se dá o trabalho de olhar para trás. Continua seguindo pra sua casa. Meus olhos automaticamente caem para suas costas, e descem mais um pouco parando em seu traseiro, que por sinal, é bem sexy.

Agito minha cabeça, e ligo o cortador de grama como um aviso de que eu não vou ceder nem pela sua bunda gostosa, nem pela sua ameaça de me denunciar.

— Filho da Puta!

Meu peito explode em uma gargalhada quando escuto sua voz raivosa.

Ao Seu Lado Where stories live. Discover now