Trinta e dois - Constelações, beatles e magnitude

Começar do início
                                    

— Só vem comigo.

Primeiro, elas caminham de mãos dadas. Depois estão correndo. Aquela corrida boba que poderia fazer parte de qualquer filme de romance que reduz tudo que não for o casal a um borrão passageiro. Estão rindo, estão brincando e felizes. Camila sentiu o ar frio, mas as mãos de Lauren pareciam muito com um casaco quente de inverno. A luz fraca do sol, as árvores e a passagem profunda e rápida do mundo não tão opressivo dos apaixonados.

Quando já estavam dentro do carro, Camila percebeu que aceitaria ir com ela pra qualquer lugar. Se Lauren quisesse ao shopping, ela seguiria. Se quisesse levá-la para sua casa, ela seguiria. Se Lauren quisesse roubá-la para qualquer lugar dentro do seu mundo, ela seguiria.

Levou uma hora para chegarem no destino escolhido por Lauren. O início de dezembro pintou a paisagem californiana de branco. Tudo parecia meio suave, desbotado. A cor mudando conforme o inverno chega. Lauren deixa que Camila escolha a música que vai tocar. Ela fica surpresa quando "And I love her" uma canção dos Beatles enche o carro com sua melodia.

Sorriem e começam cantar juntas.

Bright are the stars that shine, dark is the sky. I know this love of mine...

Camila para de cantar e encara Lauren com os lábios abertos. Nunca tinha visto Lauren cantar.

— Você sabe cantar também. – Seus olhos brilham maravilhados.

— Eu sei que foi horrível, não precisa me zoar. Nem todo mundo nasce com sua voz. – Lauren é tímida, mas, ao mesmo tempo, divertida.

— Não, é sério... Sua voz é maravilhosa...

Lauren observou Camila por um longo tempo. Então sorriu.

— Nesse caso. – Falou, girando o botão até a música voltar a soar no carro.

Logo estão cantando a plenos pulmões. Beatles combina com aquele momento. A calma. A voz de Lennon. A guitarra de Paul.

A música acaba, a próxima faixa começa e elas seguem cantando, substancial como ar, mas que eleva as duas do mesmo modo. Camila fechou os olhos pensando no seu primeiro pedido aquele dia, e é como se já tivesse sendo recompensada. O tempo relaxa ao redor delas. Então ela para de pensar na fugacidade do momento e se permite unir-se a ele.

Ela abaixou os vidros e estendeu a mão no ar. Lauren dirigiu depressa, deixando o vento assumir o controle, soprando seus fios por todos os lados. Dirigem assim durante alguns quilômetros. Falam sobre suas famílias. Falam de seu passado. Lauren conta que nunca teve um cãozinho, mas adoraria. Camila diz que cão seu peixe sempre lhe dá bons conselhos.

O mundo, naquele momento, consiste em apenas elas duas. Continuam a conversar. A cantar sem se preocupar se estão atingindo as notas corretas. Trocam olhares enquanto cantam; elas agora são um dueto. É uma forma própria de conversa.

Você pode aprender muito sobre as pessoas a partir do que sai de dentro das suas bocas, mas também pode conhecê-las pelo modo como elas trocam olhares. Em conversas de olhares não importa se você veio de uma ilha da América Central, ou se nasceu em Miami. Se vive de acordo com seu mapa astral ou se não sabe o que é ter o sol em aquário. Olhares dizem aquilo que a boca esconde.

Lauren diz a Camila pra onde estão indo. Para a praia. Não é verão, não é fim de semana. É terça-feira, está frio e ninguém além delas quer ir a praia.

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