Capítulo 5

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Sem revisão...😅

15:45.

Ainda é dia quando desperto. Peguei no sono que nem percebi, o cansaço havia tomado conta de mim e foram tantas coisas que aconteceram essa manhã que ainda estou perdido.
Decido tomar uma ducha fria, me sinto sujo. Não por ela, mas sim por toda a sujeira ao nosso redor, os lençóis também precisam ser trocados e minhas roupas lavadas.
Me dirijo ao box do banheiro lentamente, e me enfio debaixo da cascata gelada que agora cai sob minha pele igualmente fria, sentindo falta de algo, ou melhor... alguém. A latina de sotaque preguiçoso que conseguiu em um dia aquilo que ninguém mais conseguiu a anos. Não foi apenas uma regra, mas sim, uma porção delas que foram quebradas hoje. Aconteceu tão rápido.

   O som do alarme me tira dos devaneios. Os remédios. Está na hora da segunda dose diária. Não tomei nem a primeira, eu poderia não tomar essa também. Afinal eu estou me sentindo ótimo.
  Pego a embalagem laranja que está dentro de uma gaveta, sento na cama e fico encarando os comprimidos. Hoje eu não precisei deles, eu posso parar, posso me tratar. Melhorar. Eu mereço uma segunda chance.

_você não pode__ ouço a voz do meu irmão ecoando em minha cabeça.

_mas... hoje eu não precisei deles. Consegui  ficar sem eles irmão. Sem surtos__ digo na esperança que ele me escute ao menos dessa vez. Logo após o incidente com meu irmão, eu fiquei num estado tão deplorável que não  conseguia falar ou me mexer sequer. Foi quando num dia de surtos que eu comecei  a ouvir a voz do Clark, ele me ajudou muito. Me entendia e cuidava de mim. Só que depois de um tempo a sua voz ficou obcecada em me controlar e me dizer o que devia fazer. Não aguentava mais aquilo. Achei que fosse enlouquecer e quando tentei bloquea-la, descobri o sentido real de loucura. Não tive força para expulsa-la, ou talvez eu não quisesse realmente. O que acontece é que sempre que tento não ouvir eu acabo sofrendo. Depois de um tempo, quando eu não aguentava mais os surtos psicóticos, eu desisti e deixei a voz entrar de novo. fiquei normal. Mas acho que está na hora dela ir de vez. Penso convicto.

__voce não pode me abandonar irmão. Não de novo__ escuto mais uma vez a voz do meu irmão. sei que ele está com raiva, mas já tomei minha decisão.

__Irmão por favor me perdoa. Mas você precisa ir, você morreu a treze anos. isso não é normal, vou voltar a me tratar com a Doutora Stone__ digo na esperança de fazê-lo me deixar em paz. Agora que sei, como é ser normal de novo, que eu experimentei um pouco de liberdade, não quero perder isso.

__Não irmãozinho. Eu só vou, quando você se perdoar. Quando você deixar a culpa ir. Porque lá no fundo você sabe que a culpa é sua__  não, não, não pode ser. Eu não tive culpa de nada, a culpa não foi minha, não foi. Lágrimas grossas já escorrem pelo meu rosto, molhando toda minha roupa. Meus soluços são altos. Eu nunca vou conseguir me livrar dessa culpa. Eu deveria ter protegido o Clark, mas fui fraco e não consegui. Toco a cicatriz em meu ombro, o local onde  a segunda bala ficou alojada. A outra foi retirada do meu abdomen, um pouco abaixo do coração. Fiquei tres meses em coma, não pude me despedir do meu irmão,  dizer um último adeus.

__me perdoa por favor, me perdoa. Eu não queria, não queria. Se eu pudesse,  estaria morto no seu lugar Cal, mas não posso. Eu... quero mais__ repito isso várias vezes para mim mesmo em voz alta, tentando acreditar nessas palavras. Só sei que eu não quero mais tomar remédios, não mais. Nunca mais. Fecho os olhos, tentando me controlar. Quando volto a abri-los.
    Sangue. Sangue por todas as partes. Nos lençóis, nos móveis, descendo pelas paredes e tingindo o chão. Sinto o cheiro me invadir e me sinto tonto por um momento, minhas mãos estão ensanguentadas. Sinto nojo de mim mesmo. Logo a minha frente vejo meu irmão caído aos meus pés. Pare, eu peço. Eu só quero que isso pare. Por favor! Suplico ao nada. Não posso ver isso de novo. Se existe um Deus, ele com certeza me odeia. Ele se diz pai de todos, mas que pai permitiria isso para o filho, tendo todo o poder? deixar um filho viver prisioneiro da sua própria mente, atormentado por seus demônios interiores. Lutando todos os dias para não ser devorado por seus monstros.

__A culpa é sua irmãozinho. Você não vai melhorar nunca, você vai ser um maldito doente para sempre. Para toda a eternidade. E eu nunca vou te deixar em paz, sabe porque? Porque eu estou dentro dessa sua cabeça ferrada. Acha mesmo que uma mulher como aquela vai gostar de você? Nunca. NUNCA. Seu doente maldito, só eu posso te ajudar._ ouço o cadáver do Clark dizendo. Ele tem razão, no que eu estava pensando? que de uma hora para outra eu poderia viver normalmente e ter alguma coisa com aquela mulher? Só por que em um dia eu não surtei e saí por aí feito um maldito louco. Quem me garante que em um dia comum eu não pire e magoe ela? ninguém pode garantir. 10 psicólogos, esse foi o número de fracassos. Não poderia me arriscar mais. Eu estou bem, do jeito que estou.
   Respiro fundo ainda tremendo e despejo todo o conteúdo do frasco de cor alaranjada em minhas mãos, tomo todos de uma só vez, sem água ou qualquer outro líquido para ajudar a descer. Ao total foram 5 comprimidos, logo sinto o efeito. É rápido. Me ajeito melhor na cama, ja tonto pela medicação.
  Desmaio.

    02:58 AM

    Que cheiro é esse? Abro os meus olhos sentindo o mundo rodar a minha volta. Minha garganta esta seca. Sinto sede. Olhando para o teto branco do meu quarto ainda sonolento, uma onda de enjoo me invade. tento me colocar de pé e falho miseravelmente e acabo caindo de cara no chão. Vomito ali mesmo pois não tenho forças para levantar. Meu estômago esta embrulhado e tenho a sensação que vou morrer. Visão desfocada e coordenação motora falhando. Durmo mais uma vez, sem forças sequer para levantar.

10:23 AM

    Abro os olhos, minha visão esta embaçada. O que aconteceu? Minha cabeça pesa e lateja. Tento me levantar, é em vão. Minhas mãos estão molhadas. Vômito. Não posso olhar senão vou acabar pondo tudo para fora  de novo. Depois de um tempo, levanto daquele chão imundo e corro até o banheiro, me ajoelho em frente ao vaso branco e lá deposito tudo que tenho dentro do estômago, o que não é muita coisa. Já sinto fortes dores na barriga por não ter mais nada para por pra fora. Nem a bile tenho mais, para jogar dentro do sanitário. Sento ali mesmo no chão, encostado na pia, criando forças para sair dali.
Preciso de um banho urgente, tem vômito em todas as minhas partes, inclusive no meu cabelo. Não entendo. Isso nunca aconteceu. É estranho. Sinto o quão horrível está o meu cheiro. Posso até ouvir as milhões de bactérias andando pelo meu corpo e comendo a minha carne. Um arrepio gela a minha espinha.
De roupa mesmo, me jogo dentro do box e ligo o chuveiro. Essa roupa com certeza vai para o lixo.

   Depois de quase duas horas debaixo da água, eu me sinto finalmente limpo. Acho que se eu pudesse usaria alvejante em mim mesmo.
Tenho que sair desse quarto o mais rápido possível ou vou acabar me sujando de novo. Caminho até a porta cuidadosamente para não tocar em nada daquele lugar imundo. Fecho a porta atrás de mim, ja me preparando para o interrogatório que viria a seguir. A dona Eleanor não vai deixar barato, só que antes... Antes eu preciso comer qualquer coisa, estou morrendo de fome. A última vez que comi foi no café da manhã de ontem.
Desço as escadas lentamente, já vendo a minha mãe no sofá e o meu pai em sua poltrona lendo um jornal qualquer. Minha mãe conversa animadíssima com o marido, e ja sei o motivo da sua empolgação. Pretendo deixar tudo bem claro para eles. Nada aconteceu. Nada mudou.

__Henry. Você esta em casa filho, em plena quinta-feira? Eu não disse Richard. O nosso filho esta mudado__ Diz minha mãe alegremente.

__Não é nada disso. Eu só não me senti bem hoje para trabalhar. Não se iludam, eu continuo o mesmo__ É apenas o que digo e me dirijo até a cozinha afim de procurar algo para comer.

         

Aceito o Desafio  [Livro 1] SENDO REVISADOOnde as histórias ganham vida. Descobre agora