Capítulo 1

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Sendo Revisado😁

13 anos depois...
 
 
    Sentia frio. Eu estava de frente para um corredor com pouca iluminação, reconheci aquele lugar, era o meu antigo apartamento. Tive medo, pois sabia o que viria a seguir.

Tenho esse pesadelo a anos. Nunca consigo acordar antes de ver meu irmão sendo morto, isso aconteceu a 13 anos e nem assim eu deixo de temer. Ver a vida se esvaindo dos olhos da pessoa que você mais ama não é fácil, é doloroso e cruel.

  Sigo pelo corredor e abro a porta número 65, sou atingido por um clarão que me deixa momentaneamente cego, quando os meus olhos se adaptam a luz posso ver os detalhes do lugar, um sofá de canto na cor bege, escolha do meu irmão, nas janelas... cortinas brancas e uma mesa de centro no meio da sala, uma tv grande, eu lembro quando cheguei em casa com essa tv, o meu irmão odiou pois sabia que eu ia assistir ao jogo na maior altura e isso atrapalharia os seus estudos.

   Perdido em meus pensamentos não vejo a hora que alguém toca meu ombro,  me assusto ao ver a mão ensanguentada sobre a minha pele, não era para ser assim, o pesadelo não é assim, está diferente. Ouço a voz rouca do meu irmão pedindo por ajuda, eu olho para ele e vejo sangue, tem sangue saindo de seus olhos no lugar das lágrimas, sangue sai de seus ouvidos e boca, ele está engasgando e tento me aproximar para ajudar, não consigo. Eu corro em sua direção e não o alcanço, não consigo salva-lo, ele estava tão perto e não pude ajudar.

 Meu irmão cai no chão tossindo e convulsionando. Já estou preso em uma cadeira, amarrado por correntes. Mas, como assim? O sonho não é assim, não é... Já estou desesperado e com dificuldade para respirar, ele está morrendo... Não consigo falar, não consigo pedir para que não morra, para que fique comigo, não consigo. Lágrimas grossas escorrem pelos meus olhos embaçando a minha visão, a garganta está seca e eu sinto se fechando, parece que há concreto dentro do meu peito, não consigo respirar, não consigo... Meu irmão está olhando fixo para mim, ele não se mexe mais, ele não respira, seus olhos não tem mais brilho, apenas o opaco da morte...Ele se foi.

 Quero gritar, quero implorar para que volte, mas não consigo... Cada vez mais eu sinto meus pulmões pedindo por ar, eu sinto que vou morrer e não ligo, já estou preparado para a morte a muito tempo.
   _acorde!_ eu escuto, mas não sei de onde vem.
_acorde!_ mais uma vez, eu conheço essa voz mas não pode ser real... ele morreu e eu estou pronto para ir também. Eu quero ir também. Por Favor!
_ACORDA!_ é o grito que eu escuto antes de acordar.

     Estou no chão, minhas roupas encharcadas de suor e minhas mãos tremem, não consigo abrir os olhos. Sinto dificuldade para respirar, o ar se nega a entrar e sair dos meus pulmões, preciso me acalmar.

  Com dificuldade, consigo me arrastar até um canto escuro do quarto, sento no chão e coloco a cabeça entre os joelhos, eu sei o que é isso, ataque de pânico. Desde que o meu irmão morreu elas se intensificaram, quando eu era criança sempre tinha, mas ao chegar na adolescência elas diminuíram bastante, mas agora... sinto falta da adolescência. Tento me lembrar do que o médico disse em caso de crises mas não consigo, não dá, dói, dói muito. 

 Eu tenho que chegar até a cama, pegar meu celular, eu preciso... preciso... estou ficando sonolento e meus movimentos parecem lentos demais. Eu poderia simplesmente desistir, mas o meu pai conta comigo... Todos contam. Me arrasto com dificuldade até a cama, cada movimento é uma luta, meus olhos querem se fechar e meu corpo pede para que eu desista , mas não posso. Eu quero muito, esse é o desejo mais profundo do meu coração, entretanto não posso.

  Com um pouco mais de força consigo chegar até a cama e pegar meu celular, deito de barriga para cima e tento me lembrar de respirar devagar, meu peito dói e a visão esta turva, sinto uma tonelada em cima do meu corpo. Coloco na chamada de emergência e o celular disca automaticamente para o número do meu pai, não sei se ele atendeu pois perco a força na mão e deixo o aparelho cair, meu esforço para respirar é tão grande que sinto as gotículas de suor frio escorrerem pelo meu rosto, nada parece ajudar... Meu irmão me salvou no sonho, eu sei.

 O barulho que sobe pela minha garganta e sai entre meus lábios é tão alto que doem os meus ouvidos e minha cabeça pulsa insistentemente, meus olhos pesam, a audição já não está muito boa, tudo vira um borrão. Quase caindo no sono do vazio ouço a porta do meu quarto ser aberta num estrondo não tão alto como deveria ser, vejo uma silhueta vindo em minha direção... É uma mulher, mas não qualquer uma, é a minha mãe. Seus olhos cansados estão preocupados. Quero dizer que sinto muito por ser assim, mas as palavras não saem, só consigo chorar e soluçar o que dificulta ainda mais a respiração.

_Esta tudo bem meu amor, eu estou aqui. Respira devagar._ Ela diz, segura em minha mão e tenta me colocar sentado. Meu pai, que eu nem sabia que estava ali a ajuda. Ela me abraça e diz palavras de conforto e isso faz com que eu me acalme aos poucos. Minha respiração começa a regularizar depois de um tempo e já consigo sentir meu corpo de novo. Odeio essas crises. Às vezes evito até dormir, porque eu sei que sempre será assim.

__isso meu amor, devagar... Inspire e expire. Isso... Fica calmo, foi só um pesadelo.

    A minha mãe é a única que consegue fazer eu me acalmar. É sempre assim, noite após noite. Eu ainda moro com meus pais, não por comodismo ou não ter condições, mas minha mãe me fez prometer que eu ficaria perto dela. Lembro que uma vez sai de casa e fui morar com meu irmão e isso não deu muito certo, na verdade acabou em tragédia.
 
  Depois de um tempo, meus pais saíram do quarto me deixando sozinho com os meus pensamentos, olho no relógio do celular e está marcando 4:37 da manhã, deixo o aparelho em cima da cama e vou para o banheiro. Preciso tomar um banho frio e tentar descansar mais um pouco, logo mais é hora de ir para a empresa, tenho 45 entrevistas para a vaga de administrador. Vai ser um longo dia.

    De banho tomado, consigo engolir uma aspirina e deito tentando relaxar um pouco, mesmo sabendo que será impossível.


Aceito o Desafio  [Livro 1] SENDO REVISADOOnde as histórias ganham vida. Descobre agora