Capítulo 6 - Leonel

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O patrão já estava há mais de duas horas no jardim conversando com a moça. Aquilo não ia terminar bem.

Leonel os observava pela janela do escritório, segurando uma bebida na mão. O gelo tiritava no copo à medida que ele mexia, um som relaxante depois da conversa maçante com Miguel pela manhã. O homem não entendia nada de contabilidade, portanto, tinha que ouvir os conselhos de um administrador experiente. Mas, ao invés disso, fazia-o trabalhar dias a fio para organizar tudo. Felizmente, estava tudo resolvido.

O que não parecia estar nada certo eram aqueles dois sorrindo e conversando animadamente ali. Por Deus, não fazia nem um mês que dona Heloísa havia falecido, como ele podia estar flertando daquele jeito com uma garota mimada que invadira a casa simplesmente por curiosidade e tédio? Ela quase estragara tudo!

Leonel vira Gabrielle assim que ela entrou na mansão. Diferente do patrão, ele era extremamente observador. Lembrava-se dela na ocasião da viagem a Nova Iorque um pouco vagamente, mas bastara uma rápida busca na internet para saber exatamente quem ela era. Uma mulher alta, esguia, magra e elegante. Os ombros ligeiramente inclinados pela frente denotavam um pouco de timidez e insegurança, mas, mesmo assim, chamava a atenção com aqueles cabelos bem longos sobre as costas e os olhos pequenos pintados de lápis preto. Chamara, pelo menos, a sua atenção.

Tão logo a avistara, Leonel subiu rapidamente até o primeiro andar, encontrando o patrão sozinho no escritório. O homem não se dera nem ao trabalho de descer para ver a festa que acontecia em sua própria casa. Avisou-o da chegada dela, recebendo ordens para trazê-la discretamente e sozinha para lá. Não no escritório, que Miguel usava mais como um santuário. Eles se encontrariam no saguão. No saguão, onde Berenice aparecera.

Quando Leonel falou com Gabrielle para que fosse a uma reunião privada com Miguel para acertar a questão da sociedade, ele não a acompanhou. Tinha que garantir que os demais sócios não a seguiriam. Foi mesmo discreto como um felino ao contatá-la, não chamando a atenção de ninguém. Precisou, porém, se deter um momento para conferir se todos os sócios americanos estavam ali. Um momento que quase custou a vida da jovem que, agora, sorria distraidamente lá embaixo.

Tomando o último gole de seu uísque, o lacaio lembrou-se com nostalgia das outras esposas de Miguel. Heloísa fora a quarta, o que para um homem de 37 anos parecia algo, no mínimo, aterrador.

Leonel não chegou a conhecer a primeira esposa, Catharina. Morrera muito cedo, com apenas seis meses de casamento e 21 anos de idade. Quando ele foi contratado, Miguel era casado com Marcela, uma loira deslumbrante tanto quanto dispendiosa. Vira-a perdendo a razão gradualmente, até parar num sanatório, louca de pedra. Era impressionante o que um lugar como aqueles podia fazer com a pessoa mais formidável. Morrera aos 28 anos: 1 ano e 7 meses depois de casada.

Depois viera Raquel, uma jovem melancólica que parecia já ter sérios problemas mentais antes mesmo de se casar com Miguel. Leonel sabia que fora uma tentativa desesperada do patrão para esquecer Marcela, mas qualquer um teria que convir que aquela troca não fora nada justa. Considerava até um insulto à grandiosa Marcela. A mulher faleceu dentro de 8 meses, também com 28 anos de idade.

Por fim, Miguel conheceu Heloísa. Muito diferente da última, esta era espirituosa e alegre, mas enfadonhamente dependente de Miguel. Leonel não suportava as manifestações constantes de carinho e amor dela, mas o patrão parecia reagir de forma bem diferente. Não media esforços para cumprir cada um de seus caprichos. Até que ela também adoeceu e se foi, com 34 anos.

E agora essa.

Tudo sempre acontecia da mesma forma: Miguel se encantava por um belo rosto (e outros bons atributos), atraía sua vítima, olhava em seus olhos e tudo já era seu.

Sim, Leonel sabia do segredo do patrão. Ou, pelo menos, o que Miguel permitia que ele soubesse. Estava ciente do poder que aquele olhar tinha. Ele mesmo presenciara diversas vezes esse tipo de hipnose sendo posta em prática. Era impressionante.

Mas sabia também que Miguel não confiava nele tanto quanto devia. Ainda fazia reuniões com empregados, sócios e amigos a portas fechadas. E, depois, vinha com aquele maldito olhar sobre si, dizendo tudo o que queria que ele se lembrasse.

Agora, mais uma esposa. Mais uma infeliz para cair nas mãos do patrão. E mais uma mulher para lhe dizer o que fazer, como se um lacaio não tivesse nenhum outro dever se não atender aos fúteis caprichos de uma patroa que não permaneceria ali por muito tempo.

Ou, talvez, mais uma aliada. Marcela costumava tratá-lo muito bem e, não fosse o poder do patrão em saber de tudo, Leonel certamente teria conseguido viver um delicioso romance com aquela loira exuberante.

Bem, ele logo veria o que essa Berenice teria a oferecer. E se quebraria o recorde de Heloísa, de 3 anos, 5 meses e 17 dias casada com Miguel. Satisfeito ou não com aquela garota sem graça, era ela quem certamente seria a nova dona da casa.

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*** Olá, meu amigo (a)! Que bom ter chegado até aqui!

Nesse capítulo, conhecemos o fiel lacaio de Miguel. Ele é bastante diligente em suas funções, mas não tem um caráter muito mais exemplar que o patrão no que diz respeito às mulheres...

Ele ainda está sondando Berenice para ver o que ela poderá lhe oferecer, e aposta consigo mesmo quanto tempo ela sobreviverá na mansão maldita em que tantas mulheres já morreram.

E você, qual é o seu palpite?


NO PRÓXIMO CAPÍTULO...

Miguel vai conhecer de perto Berenice. Qual será sua opinião sobre ela? 

O que você arrisca, amigo leitor?

Um grande abraço!!! ***

O Programador de LembrançasHikayelerin yaşadığı yer. Şimdi keşfedin