Capítulo 3 - Berenice

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Berenice não sabia mais o que fazer para o tempo passar. Estava há quase duas horas sentada ao lado da mãe e das tias, sem abrir a boca. Não que ela pudesse contribuir com o assunto de suma importância sobre qual cor de linha comprar para o tapete que a tia Lourdes faria para enfeitar o quartinho do neto da vizinha. Mas ouvir a própria voz, às vezes, era melhor do que ouvir apenas os pensamentos.

Estava farta do papel que tinha que fazer no meio daquela gente rica. Tudo por causa de uma maldita sociedade que o pai resolvera fazer no passado, antes de morrer, trazendo toda essa fantasia para a vida deles.

A família de Berenice nunca fora de muitas posses. Também nunca passara por nenhum tipo de privação. Podia-se chamar de uma típica família de classe média alta. A sociedade com a Informa, porém, transformou drasticamente a vida deles. Não que passaram a ter uma condição financeira muito melhor, mas o pai as obrigara a viver uma vida de luxo e aparências, quando tudo o que tinha mudado, de fato, era um carro importado na garagem e uma casa de praia no Caribe.

Berenice olhava mais uma vez para o visor do seu celular. 22:36. Ninguém para conversar. Nada para fazer.

Sufocada com aquele tédio, decidiu sair para tomar um pouco de ar e, talvez, encontrar alguém disposto a falar sobre o tempo, sobre política, crianças da África, as olimpíadas, qualquer coisa. Só não aguentava mais ficar ali.

Avisou sua tia que estava saindo, mas ela nem ao menos se deu o trabalho de virar a cabeça ao fazer um gesto que a tinha ouvido. O assunto agora era o novo namorado da irmã da nora.

Berenice passou por algumas pessoas, todas travando conversas animadas. Como gostaria de fazer parte de algum daqueles grupos. Poder opinar sobre um assunto qualquer, alguma trivialidade. Ela só queria passar um pouco o tempo, porque ele já havia passado muito para ela.

Procurou alguma saída da enorme mansão, mas todas elas estavam abarrotadas de gente. Esquivando-se de uns e de outros, a porta que encontrou a fez voltar no mesmo instante. Bastou pôr os pés do lado de fora para que um forte odor de cigarro e a visão de casais apaixonados mostrando sua paixão a convencessem a voltar. Pensou que nunca iria querer se expor daquela forma quando tivesse um companheiro. Coisa que já tinha desistido de acreditar que um dia teria.

Por fim, para não "perder a viagem", decidiu ir ao toalete. Talvez um pouco de água fria no rosto pudesse refrescá-la tão bem quanto alguns minutos respirando ar fresco.

O toalete estava igualmente lotado. Era incrível pensar que o homem conseguira encher uma mansão daquele tamanho. Mas também não poderia ser diferente: todos os seus sócios com suas respectivas famílias, alguns famosos e a imprensa foram convidados e estavam presentes. Ninguém estava disposto a perder uma "boca-livre". Os ricos, na verdade, são pobres — seu avô costumava dizer.

Da mesma forma, era impossível pensar que uma casa daquele porte só teria aqueles banheiros. Os outros andares certamente teriam um local mais livre e mais arejado para ela se refrescar.

Caminhando disfarçadamente em direção às escadas, convencendo-se de que procurar um lavabo numa festa não poderia ser considerado exatamente uma invasão de domicílio, Berenice alcançou o andar superior apenas para ficar pasmada.

A casa era muito maior do que podia imaginar. Toda aquela imensidão do salão era, na verdade, apenas um terço daquele monumento. No primeiro andar, o piso era tão impecável que parecia ser um insulto pisá-lo. Havia janelas que a faziam lembrar cisternas de igrejas, em formato de arco, com alguns desenhos que deviam ser de alguém famoso. Havia também pilares gigantes arredondados de cor marfim, contrastando com as cores escuras do piso. Corredores que prometiam um mundo novo. E à sua frente, ah, à sua frente... uma verdadeira galeria.

Protegidos dentro de vidros que só podiam ser blindados, estavam alguns instrumentos de guerra interessantíssimos. Pistolas, arcos, punhais, lanças, objetos centenários que certamente valiam uma fortuna. Apesar de não ser fã de instrumentos bélicos, a riqueza histórica daquelas armas a encantaram. Se tivesse uma fortuna, certamente seria com essas coisas que a gastaria.

Só se deu conta de sua invasão quando percebeu um vulto atrás de si. Se fosse algum segurança da casa que a havia flagrado, ela estaria perdida. Não teria como explicar como fora parar ali, a menos que o convencesse de que acreditara que uma daquelas tampas de vidro seria um portal secreto para o banheiro.

Berenice, porém, não teve tempo de reagir. No instante seguinte, o vulto a alcançara e a prensara na parede, segurando-a apenas pelo pescoço. Um homem muito bonito aparecera no seu campo de visão, que começava a ficar turvo pela falta de ar. Ao que tudo indicava, objetos caros e um belo rosto seriam as últimas coisas que ela veria na vida.


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*** Meus caros, sejam muito bem-vindos aqui no OPDL!

Berenice é a típica moça caseira e insegura, que acabou parando nas mãos de um homem com sede de vingança. O que será que vai acontecer com ela?


NO CAPÍTULO QUE VEM...

Um engano fatal que pode arruinar com a vida de uma jovem inocente. 

Grande tensão te aguarda, prepare-se!!***


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