Capitulo 34

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Enquanto sobrevoa a região do interior da França, afastando-se de Versalhes com a cruz de prata e o pergaminho de seu pai no bolso e Ruth nos braços, Caitlin finalmente sente, pela primeira vez desde que havia chegado naquele lugar, que está no caminho certo. Ela sente na pele que está fazendo exatamente o que deve fazer. Procurando por seu pai, e em busca do Escudo. Seguindo as pistas, cumprindo seu destino. Caitlin voa sem parar, e quando mais se afasta de Versalhes, mais seus pensamentos se tornam mais claros.

Ela se culpa por não ter feito isso mais cedo. Ela sabia durante todo o tempo qual era sua missão: por que não embarcou nela desde o começo? Ela pensa em Caleb. Seu coração se aperta ao se lembrar de como havia sofrido quando ele partiu. Ao mesmo tempo, agora que está em sua missão, ela percebe que se ele não tivesse partido talvez ela tivesse se acomodado, e nunca partido em busca de seu pai.  Ela se dá conta, mais uma vez, que não importa o quanto algo doa no momento, ao considerá-las em retrospecto, com o tempo, tudo parece acontecer por uma razão. A razão nem sempre é clara ou fácil de identificar quando as coisas estão acontecendo, mas quanto mais distante dos fatos, mais os motivos se tornam claro. Enquanto se dirige de volta a Paris, Caitlin começa a sentir um tremor de antecipação pelo possível encontro iminente com seu pai.

Ele a estava esperando em Paris durante todo esse tempo? Tão perto? Ele estava mesmo na igreja de Saint-German-Des-Pres? Ou na catedral de Notre Dame? Ele a abraçaria, e ficaria orgulhoso dela? Ele estaria com o Escudo? Caitlin espera que ele esteja realmente orgulhoso dela, e que reconheça a mulher e verdadeira guerreira que ela havia se tornado. Que ele reconheça tudo que ela teve que sacrificar para encontrálo. Ele abriria as portas de um mundo completamente novo para ela, e a apresentaria ao seu coven. E talvez ela finalmente tivesse um lugar no mundo, um povo à que pertencer, e um lugar para se estabelecer.

Ela gostaria muito se isso acontecesse. Caitlin também pensa em Sam, com um pouco de arrependimento. Ela gostaria que ele estivesse com ela, ao seu lado, ajudando-a em sua missão. Mas ela sabe que ele está envolvido demais com Kendra, e não há nada que ela possa fazer quanto a isso. Às vezes, as pessoas têm que chegar à suas próprias conclusões, em seu próprio tempo. Ela apenas espera que tudo dê certo para ele. Mas ao pensar em Kendra, ela tem um mau pressentimento, e sente que as coisas não terminarão bem. Acima de qualquer coisa, Caitlin gostaria que Caleb estivesse com ela agora, como sempre havia estado durante sua busca.

Ela sente falta dele, e gostaria de poder compartilhar suas ideias com ele. E o que quer que fosse encontrar, ela gostaria que estivessem juntos quando isso acontecesse. E se mais uma vez, por alguma razão, ela tiver que viajar no tempo, ela desesperadamente deseja que ele esteja ao seu lado. Mas enquanto continua voando, Caitlin percebe que está muito mais forte agora; ela havia se tornado uma guerreira. E uma das responsabilidades de um guerreiro é não temer seguir sozinho se for necessário, e abrir seu próprio caminho neste mundo. Seguir em frente, mesmo quando mais ninguém está disposto a seguir em frente com você. É ter força e coragem diante das adversidades. E às vezes isso significava fazer o que ninguém mais estava fazendo.

Caitlin sente uma nova onda de força tomar conta dela, encorajada pelo treinamento com Aiden, todas as suas lições e pelos duelos que havia lutado.  Ela gostaria da companhia de Caleb, mas se sente forte o suficiente para cumprir sua missão. A paisagem de repente muda, e as densas florestas do interior da França dão lugar à paisagem urbana de Paris. Abaixo dela, Caitlin identifica alguns prédios, campanários, igrejas e abadias medievais, assim como algumas construções mais recentes, do século XVIII. De onde está, ela tem uma visão da cidade de tirar o fôlego. Mas ao mesmo tempo, ao olhar para baixo, ela é tomada pela preocupação. Apesar de ser tarde da noite, as ruas estão lotadas. Elas estão absolutamente repletas de cidadãos enraivecidos, carregando tochas.

A tensão e a raiva no ar são palpáveis, e Caitlin pode senti-las, mesmo a esta altura. O povo grita e corre pelas ruas caóticas, destruindo propriedades; jogando pedras nas janelas e tochas dentro dos prédios. A multidão parece se concentrar particularmente ao redor da Bastilha, e se espalhar a partir de lá. Ela não consegue acreditar: parece que uma guerra havia começado. Caitlin não esperava por isso. Ela esperava apenas voar até Saint-Germain-Des-Prés, encontrar o que tinha que encontrar, e continuar sua busca. Ela não esperava ter que atravessar uma multidão enfurecida de cidadãos espalhados pelas ruas. Elas não quer machucar ninguém, mas ao mesmo tempo, não pode deixar que eles a atrapalhem. Ao sobrevoar o lado esquerdo da cidade, ela vê a torre quadrada da igreja Saint-Germain-DesPrés. Ela é fácil de identificar, especialmente olhando de cima. Além da torre retangular, a igreja é ligada a um grande monastério com telhado inclinado.

Suas paredes são arqueadas nos dois extremos, dando ao complexo um curioso formato. A igreja se parece com outras igrejas medievais que ela havia visto no interior, mas ainda assim, ela se impressiona por encontrar aquela obra de arte medieval bem no meio da cidade. Por sorte, Os grupos de cidadãos não são tão numerosos nesta parte da cidade. Caitlin escolhe um beco escuro para poder aterrissar, onde ninguém pudesse vê-la, e desce rapidamente. Ainda segurando Ruth nos braços, sem ao menos lhe dar a chance de caminhar ou de se aliviar, Caitlin se dirige rapidamente até o que parece ser a porta de trás da igreja.

As enormes portas de entrada, ela havia notado, estavam trancadas, e ela não queria arriscar ir até a praça pública e dar a algum humano atrás de confusão a oportunidade de um confronto. Ao invés disso, ela vai até a parte de trás da igreja e vê uma pequena porta de madeira, provavelmente usada pelos padres. Esta porta também está trancada, mas Caitlin – mais forte do que nunca, simplesmente olha para ela, fecha os olhos, e se concentra profundamente na fechadura. Quando ela termina, ela ouve um clique, e vê a porta se abrir sozinha. Ela finalmente havia assimilado os truques de Aiden. Caitlin atravessa a porta aberta, sentindo orgulho de si mesma por não tê-la chutado, e então a fecha atrás de si, trancando-a. Está escuro, há apenas algumas poucas velas, quase no fim, espalhadas ao redor do altar, provavelmente restos das celebrações da noite. A única outra fonte de luz é a lua, cuja luz invade o local pelas imensos vitrais, que se erguem por todos os lados até o teto. Caitlin olha para cima e absorve tudo.

São alguns dos vitrais mais lindos que ela já tinha visto, fileiras e mais fileiras deles em todas as paredes, erguendo-se até o telhado arqueado, com colunas românicas. As paredes estão repletas de afrescos, e as pedras também parecem antigas, e ela pode ver que esta igreja é diferente das outras, que estava ali há muito tempo. Ela lembra que Lily havia dito que esta é uma das igrejas mais antigas de Paris, com milhares de anos de idade, e ao olhar para ela agora, ela sabe que Lily tinha razão. Ela acha aquilo incrível; ali está ela, no ano de 1789, em um lugar que já é antigo. Ela percebe sua insignificância diante do tempo.

Caitlin caminha pela nave principal em direção ao altar, e seus passos ecoam no chão de mármore branco e preto brilhante. Há centenas de pequenas cadeiras de madeira arranjadas em fileiras de maneira organizada, ela tem a impressão que o lugar tem capacidade para milhares de fiéis. Ao longo das paredes, há pequenos arcos com pequenas estátuas de diferentes santos medievais. Quando Caitlin finalmente alcança o outro lado da igreja, ela chega a um altar simples, embutido na parede. Ele contém uma grande estátua da Virgem Maria segurando uma cruz, montada em um pedestal de mármore.

Caitlin retira a cruz que Lily havia lhe dado, e a examina diante da estátua. Ao fazer isso, ela se surpreende ao perceber que ela parece ser do mesmo tamanho da cruz nas mãos da virgem. Ao olhar mais de perto, ela fica ainda mais surpresa ao perceber que a cruz que a virgem segura parece oca, como se estivesse faltando uma parte. Será possível? Caitlin se pergunta. Ela sobe no pedestal e ergue sua cruz, se perguntando se ela se encaixaria ali. Ao inseri-la, ela vê que o encaixe é perfeito. Caitlin empurra sua cruz, encaixando-a firmemente no lugar e, ao ouvir um barulho, ela olha para baixo e vê o pedestal da estátua se abrir.

Caitlin se apressa em descer, e abre o compartimento secreto. A pequena gaveta de mármore se abre lentamente, com um barulho de pedra raspando, e libera ar e poeira que estavam trancados ali há séculos. Caitlin coloca sua mão dentro da gaveta, pega alguma coisa e lentamente a remove, sem conseguir acreditar. Dentro do compartimento há outra caixa de prata, do mesmo estilo e tamanho que a que continha a primeira metade da carta de seu pai. Ela a abre lentamente, - com as mãos trêmulas, e fica boquiaberta ao ver o que ela contém.

Memórias De Um VAMPIRO (Transformada, Amada, Traída, Destinada, Desejada, Ect)Where stories live. Discover now