Capitulo 13

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Caitlin se senta na gôndola, e Blake se posiciona atrás dela, remando gentilmente pelos canais estreitos dentro da cidade de Veneza.  É bastante tarde, e a cidade parece dormir, em completo silêncio enquanto a escuridão toma conta de tudo à medida que as tochas vão se apagando. A única coisa que continua iluminando a cidade é a imensa lua no céu acima deles, e eventuais lâmpadas nos parapeitos das janelas.  Caitlin ouve apenas o som da água batendo no casco da gôndola e o barulho dos remos de Blake, ao cortarem a água; - tudo muito calmo e romântico.

Este é um lado de Veneza completamente novo para Caitlin, calmo e vazio. Esta é a parte interna da cidade, com seus canais estreitos e sinuosos, assim como as ruas e becos, mas sobre a água.  A cada cem metros, ela e Blake têm que abaixar as cabeças para não batê-las nas pequenas pontespara pedestres. Os canais são tão estreitos, que mal há espaço para que duas gôndolas naveguem lado a lado. Caitlin olha para cima, e vê os interiores das casas construídas na cidade.

Todas elas têm portas que se abrem diretamente sobre a água, e a maioria tem gôndolas amarradas em frente delas. Bem no alto, varais exibem roupas expostas para secar. O interior da cidade, onde vivem os nativos, parece calmo e antiquado. Caitlin se pergunta sobre o que Blake está pensando enquanto navegam juntos em silêncio. Ele é um dos homens mais silenciosos que ela já tinha conhecido, e ela sempre tem dificuldades em deduzir seus pensamentos. 

Eles já estavam em silêncio há bastante tempo. Por um lado, ela tem milhares de perguntas que gostaria fazer; mas, por outro lado, estranhamente, ela se sente confortável com o silêncio.  Ela não sente a necessidade de falar para se sentir confortável quando está perto dele, e percebe que ele sente o mesmo.  Ela selembra do tempo que passaram juntos em Pollepel, do silêncio daquele dia. Nada havia mudado – séculos poderiam passar, mas as pessoas seriam sempre as mesmas.  E ela não vê problema algum nisso. Caitlin está feliz em simplesmente estar ao lado dele, dando essa volta. Ela fecha os olhos, respira o ar salgado e se esforça para impedir que o momento se acabe – um passeio de gôndola sob a luz do luar em Veneza.

O que mais ela poderia desejar? Mas, finalmente, algumas perguntas surgem em sua cabeça, e ela não consegue deixar de perguntar.  Respirando profundamente e esperando não estragar o momento, Caitlin finalmente pergunta: “Do quanto você se lembra?”. A pergunta paira no ar por um tempo que parece interminável, tanto tempo que Caitlin começa a se perguntar se ele a teria ouvido, se ela teria mesmo feito a pergunta. Por fim, ela ouve a resposta dele: “O suficiente.”

Caitlin não entende o que ele quer dizer. Esse é Blake, sempre tão enigmático, nunca dizendo mais do que o necessário. “Você se lembra de Pollepel?” ela pergunta. Mais uma vez, o silêncio. E então: “Eu não chamaria isso de lembrança,” ele responde. “É mais como uma previsão do futuro. Como ver como seria uma vida. Eu vejo tudo, intelectualmente; mas nunca vivi essas experiências.” “Então…” Caitlin pausa. “Você consegue ver o tempo que passamos juntos?” Ele pensa um pouco. “Algumas partes,” ele responde. “É mais como uma impressão. Eu tenho a forte impressão de tê-la conhecido em algum outro momento, mas, os detalhes... São um pouco confusos. Creio que é assim que deva ser. Afinal, devemos começar de novo a cada dia, não é mesmo?” “E qual é a impressão que você tem?” ela pergunta.

Ela não consegue vê-lo, já que ele está atrás dela, remando, mas ela acredita que, no silêncio, pode ouvi-lo sorrindo. “Muito positiva” ele responde. E então completa, “Dizem que há determinadas pessoas destinadas a encontrarem-se, várias e várias vezes, em cada encarnação, em qualquer lugar… Eu sinto isso em relação a você.” Caitlin sabe exatamente o que ele quer dizer. Ela também sente o mesmo. Não é uma questão de amor – é algo mais forte. Destino. Carma. Inevitabilidade.

O estar destinado a ficam com alguém, querendo ou não. É como um momento mágico em que o universo força caminhos a se cruzarem, sobrepondo-se ao livre arbítrio. O momento na vida em que a vontade própria deve submeter-se a algo maior, mais importante, - o destino. E isso, Caitlin pensa, é ainda mais forte que o amor. O amor, o verdadeiro amor, só se pode sentir por uma pessoa em cada vida, e é algo que ela não pode se dar ao luxo de perder.

Mas odestino – ela sente que seu destino está ligado ao de várias pessoas, e que ela não tem escolha a esse respeito. Ela tem receio de fazer a próxima pergunta, e seu coração bate acelerado. “Você sabia que eu estaria aqui esta noite?” ela pergunta. Há um longo silêncio, até que ele finalmente responde: “Sim. É por isso que vim.”. “Estamos destinados a ficar juntos nesta vida?” ela quer saber. “Não sei,” ele responde, “mas sei que quero ficar com você.”. Ao fazerem uma curva, o pequeno canal se abre, chegando ao enorme canal central. A lagoa se abre diante deles, suas águas azuis obscuras, devido à névoa que paira sobre tudo, fazem o brilho do luar parecer surreal.

Caitlin se sente confusa, as emoções tomam conta dela, e ela tem dificuldade em se lembrar dos motivos que a tinham levado a viajar no
tempo. Está cada vez mais difícil pensar em Caleb. Ela estava determinada a encontrá-lo, mas, agora, mais do que nunca, tem certeza que ele não está ali. Então, por que ela tinha vindo? Será que ela estava destinada a encontrar Blake? A ficar com ele? Blake encosta o barco ao longo de uma doca, o amarra, e se senta ao lado dela. O dia está amanhecendo, e o céu começa a clarear em uma mistura de cores.

Ela se vira e olha para ele, feliz em finalmente poder fazer isso. “O tempo é algo muito precioso,” ele fala, “parece durar para sempre, mas nunca o faz. A vida dá voltas e reviravoltas muito rapidamente; podemos estar juntos em um momento, e no minuto seguinte, separados para sempre.”. Ela considera o que ele disse, e percebe que ele tem razão. “É irônico,” ela diz, “que para uma raça imortal como a nossa, o tempo seja algo tão raro.”.

Ele a olha com intensidade quase incontrolável, e ela devolve o olhar, tomada pela emoção. “Moro em um palácio no interior,” ela diz, “e quero que venha comigo.”. Caitlin não sabe o que dizer, e fica sem reação. Seu coração bate acelerado dentro do seu peito, e ela sente a boca seca. Ela não tem forças para dizer não. Ela sente como se estivesse fora do seu corpo, assistindo a tudo acontecendo, como se fosse apenas uma passageira indefesa. Blake de repente se inclina na direção dela, e ela sabe que ele está prestes a beijá-la. Ela fica tonta e não se mexe, apenas fecha os olhos.  E então, alguns segundos depois, ela sente lábios macios encostarem-se aos seus. E é aí que ela ouve o barulho.

Ambos se afastam, virando-se ao mesmo tempo. Ali, andando na beira do píer, um jovem casal balança a criança que está entre eles. A criança praticamente exala alegria, e seus pais parecem radiantes. Eles estão se dirigindo a um barco,apenas a alguns metros de Caitlin e Blake e, ao se aproximarem, o pai se vira e olha na direção deles. O coração de Caitlin se aperta. O homem deve ter se surpreendido ao ver Caitlin também, pois seu grande sorriso desaparece, ele solta a mão da criança lentamente, e se vira para olhar diretamente para ela. A mulher ao lado dele, uma ruiva alta, se vira e também encara Caitlin. Blake, surpreso e sem compreender, olha para um lado e para o outro, tentando acompanhar o que está acontecendo. O mundo de Caitlin acaba de virar do avesso. Parado a apenas alguns metros, está Caleb.     

Memórias De Um VAMPIRO (Transformada, Amada, Traída, Destinada, Desejada, Ect)Kde žijí příběhy. Začni objevovat