Capítulo 16

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Caitlin? Caitlin, acorde! Você está atrasada!". A voz continua, incessantemente, repetidas vezes, acompanhada de batidas na porta do seu quarto. Caitlin finalmente abre os olhos, despertando de um sono profundo. Deitada de bruços na cama, ela olha a sua volta, ainda desorientada. A ilha. Ela ainda estava na ilha. Graças à Deus. Em seu pequeno quarto, no alto da torre, nesta pequena ilha que ela tinha aprendido a chamar de lar, ela se sente segura. Ele olha para os pés da cama e vê Rose, deitada ali, olhando-a pacientemente. Ela deve estar com fome, esperando que ela acordasse também. Caitlin se senta na cama e estremece com os brilhantes raios de sol que entram por suas janelas abertas. Ela rapidamente estica o braço e pega seu colírio, pingando uma gota em cada olho. "Caitlin, Caitlin. Deixe-me entrar!" diz a voz
mais uma vez. Polly. O que será que ela queria uma hora dessas? Caitlin não tinha nenhum relógio - não havia eletrônicos em qualquer parte da ilha - mas ela não precisava de um para saber que o sol mal tinha nascido. Era cedo demais. "Entre!" Caitlin finalmente responde, "Está aberta!" A porta se abre com força, e Polly entra excitada, ofegante, como sempre, como um grande sorriso nos lábios. Ela parecia pronta e animada para encarar o novo dia. Caitlin se pergunta onde ela arrumava tanta energia. Ela fica sentada, na beira da cama, segurando a cabeça com as mãos, massageando os olhos e prendendo seus cabelos em um rabo. Seus pensamentos estão confusos. O dia não seria fácil. Ela tinha ficado acordada a maior parte da noite, conversando com seus colegas de coven. Agora ela consegue se lembrar. Hoje era o dia dela. Ficar de guarda. Ela boceja, esgotada. Bem,
pelo menos ela não tinha mais sonhado com Caleb. Uma coisa a menos. Polly corre até ela, entrelaçando seu braço no dela, e a coloca em pé. "Se você se atrasar, o Aiden vai matar você. Você nunca, nunca deve se atrasar para montar guarda. Começa em dez minutos. E é puxado. A ilha é maior do que você pensa. Vista-se, vamos," diz ela, de uma só vez. Caitlin analisa o quarto e vê suas roupas espalhadas pelo chão. Polly tinha sido bastante generosa, dando a Caitlin diversas roupas. Por sorte, eram do mesmo tamanho. Caitlin esperava que todas as roupas de vampiros fossem pretas, ou no mínimo diferentes tons de perto, mas ficou surpresa ao ver que o guarda roupa de Polly era composto em grande parte por roupas rosas e roxas. Polly tinha dado um sorriso sem graça, dizendo "Bem, só porque sou vampira não significa que eu tenha que ser como os outros. Não há uma regra, sabia. Posso usar a cor que eu
quiser.". Fazia sentido. Se algum vampiro tinha que usar roxo e rosa, com certeza seria Polly. Ela era a pessoa mais feliz que Caitlin já tinha conhecido, e ela não conseguia imaginar Polly vestindo preto, isso jamais. Então, mais uma vez, Caitlin se encontrava vestindo roupas que não eram de sua escolha. Ela se veste prontamente, olhando-se no grande espelho. Nenhum reflexo. Claro. Ela tinha esquecido. Esse era um lado da vida vampira que não lhe faria falta. Ao invés disso, ela olha para si mesma. Toda de rosa. Ela devia estar ridícula. "Você está ótima," diz Polly. "Podemos ir agora?" Caitlin e Polly se apressam em sair do quarto, seguidas por Rose. Rose fica pulando em cima de Polly, como de costume, e Polly agradece, acariciando sua cabeça. Rose gostava de Polly, e o sentimento era mútuo. Caitlin não se surpreende.
Rose parecia gostar de todos que eram gentis com Caitlin, e odiar qualquer pessoa que não gostava dela. Ela estava sempre ao lado de Caitlin. Sempre. Ao descerem pelos sinuosos degraus de pedra, um a um, Caitlin admira a vista das deslumbrantes águas do Rio Hudson, iluminadas pelo sol da manhã. Era uma vista linda. As brisas frescas lhe refrescavam, e ela se sentia como uma princesa no céu, descendo de seus aposentos. Ela tinha sorte em estar ali. "Aposto que você nem sabe onde está indo, sabe?" Diz Polly com um sorriso, balançando a cabeça. "O que você faria sem mim?" Caitlin entrelaça seu braço no de Polly enquanto caminham. "Provavelmente dormiria," responde Caitlin com certa ironia. Elas entram na densa floresta, que começa q desabrochar com as flores de Abril, e Caitlin segue Polly pelas trilhas, para um lado e pra o outro, subindo e descendo.
"Bem, para sua informação, eu não estou de guarda hoje," Polly fala. "Na verdade, não há nada que eu gostaria mais do que dormir até a tarde. Mas algo me disse que você faria isso, então levantei cedo, pulei para fora da cama só pra te ajudar com isso." Caitlin fica sensibilizada pelo gesto. "Obrigada, Polly. Te devo uma." "E deve mesmo," retruca Polly, piscando o olho, "e estive pensando sobre aquela roupa da Lily Pulitzer que você guarda no seu quarto. Eu nunca a vi vestindo ela, e estive pensando, bem, se você por acaso quisesse agradar alguém...". "Ela é sua," responde Caitlin, alegremente. Ela queria se livrar daquelas roupas de qualquer forma, pois não eram as melhores cores para ela, e a faziam recordar Edgartown, de seu tempo ao lado de Caleb. Ela fica feliz que Polly gosta delas. Os olhos de Polly se abrem de espanto. "De verdade? Você esta falando sério? Quero dizer, não quis pressioná-la, estava falando por falar,
não estava falando sério, você não me deve favor algum..." "De verdade. Por favor," diz Caitlin. "Você estaria me fazendo um favor." "Por quê?" pergunta Polly, de olhos arregalados. Caitlin não quer explicar. "Hmm... elas não me servem". Na verdade, serviam perfeitamente nela. "Mas nós somos do mesmo tamanho," afirma Polly, confusa. Polly era inteligente de mais para ser enganada tão facilmente. Caitlin pensa rápido. "O que eu quis dizer foi... o material, o tecido... não é bem... do tipo que gosto de usar." "Ótimo!" exclama Polly, emocionada. "Agora eu te devo um favor. E um grande. Vou conversar com alguns dos nossos colegas de coven e ver se alguém tem uma roupa preta bem bonita pra você. Eu sei que você gosta de preto e, além disso, você vai precisar de alguma coisa para vestir no concerto de hoje à noite."
"Concerto?" Caitlin pergunta. "Ai meu Deus, você não esta sabendo?" Polly pergunta. "É o concentro da primavera. Acontece todos os anos. Todos vão acompanhados. Costuma ser meio estranho, pois antes de você chegar, havia 23 de nós, mas agora, com você aqui somos 24. Uma garota para cada rapaz. Estão todos muito animados! A divisão vai dar certo este ano. E as únicas duas pessoas ainda sem par são você e o Blake." Blake, pensa Caitlin. Ótimo. Não estou aqui nem há uma semana e já estou sendo pressionada a participar de uma situação romântica. "Ai meu Deus, eu te contei?" continua Polly. "Patrick me convidou! Estou tão animada!" diz ela, radiante. Perfeito, pensa Caitlin. Isso não só tiraria Patrick do pé dela, como deixaria Polly feliz. Ela fica feliz em ter rejeitado as investidas de Patrick, e feliz que ele tenha convidado Polly.
As duas continuam andando de braços dados pela ilha, dentro da floresta, subindo e descendo pelas trilhas. Enquanto andam, Caitlin começa a se sentir mais desperta, e começa a se perguntar onde estava indo. "Onde estamos indo exatamente?" pergunta Caitlin, começando a ficar cansada por causa da caminhada em ritmo acelerado. "O que é montar guarda mesmo?" "É um rodízio," responde Polly. "Todos nós temos que fazer isso uma vez por semana. Montamos guarda de manhã, enquanto os outros dormem. Caso alguém se aproxime da ilha. Humanos ou não. Aiden também usa a guarda como um exercício de treinamento. Montar guarda nos mantém em alerta, e também nos faz acordar mais cedo do que estamos acostumados. E cria um espírito de equipe. Ou alguma coisa assim. Você sabe, coisas típicas do Aiden. Mas devo dizer, que faz um certo sentido. Criei vínculo com mais pessoas durante a guarda do que em qualquer
outra situação." "Criou vínculo?" pergunta Caitlin, de repente preocupada. "O que isso quer dizer? Pensei que fosse uma tarefa solo? Eu achei que todos montassem guarda sozinhos?". Polly da uma risadinha, balançando a cabeça. "Nossa, você tem muito que aprender. Não, de maneira alguma. Há sempre dois de nós em cada rodízio. Em pares. Ficamos juntos, cuidando um do outro." Caitlin pensa. "Então, se você não esta de guarda hoje, isso quer dizer que estou fazendo dupla com outra pessoa? Tipo, alguém está esperando por mim?". "E ele provavelmente vai estar nervoso," completa Polly. "Você já esta 10 minutos atrasada. A única regra que temos é nunca nos atrasarmos.". "Ele?" Caitlin pergunta. Seu coração se aperta. Ela torce para não ficar sozinha durante a guarda com a única pessoa que não gostaria de ver.
"Blake," responde Polly, confirmando a suspeita de Caitlin. "Você é a feliz ganhadora," emenda ela com sarcasmo. O coração de Caitlin se aperta. Blake. Ele era a única pessoa de todo o grupo que conseguia aterrorizar Caitlin. Não que ela tivesse medo dele. Não. Ela tinha medo que ela sentia por ele. Depois de vê-lo rapidamente no dia anterior, durante o almoço, ele não tinha saído dos seus pensamentos. E quanto mais ela pensava nele, mais difícil estava ficando se concentrar em Caleb. Por outro lado, ela queria esquecer Caleb. Mas uma parte dela não conseguia esquecê-lo, apesar de sua traição. Então, juntando todas as suas forças, ela tinha finalmente tirado Blake da cabeça no dia anterior. E agora, isso. Sozinha. Junto dele. Apenas os dois. Montando guarda, por sabe-se lá quantas horas. Só podia ser uma piada sem graça. Por que justo ele, de todas as pessoas? E por que ninguém mais parecia gostar dele?
"Por que você diz que sou a feliz ganhadora?" Caitlin pergunta. "Bem, se você não percebeu, ele não é exatamente sociável," Polly responde. "Você o viu. Ele não se mistura. Não gosta de conversar." "Mas por quê?" pergunta Caitlin, ao darem mais uma volta pela trilha da densa floresta. "Por que ele é assim?" Polly dá de ombros. "Não sei. Nem fico pensando nisso. Não gosto de pensar sobre pessoas infelizes. Me deixa pra baixo." Elas chegam ao topo de um pequeno monte, e ali, à uma certa distância, há uma ruína de pedras de quase dez metros de altura, os restos de uma fortificação do castelo, parcialmente submersa no rio. As ruínas ficavam no rio, afastadas uns cinco metros da ilha. E, no topo delas, encarando-as, está Blake. Ele estava segurando uma lança em uma das mãos e, da maneira como se encontrava, de costas para o rio e para o céu aberto, ele parecia ser o último
guerreiro que restava na face da terra. "Todo seu," diz Polly., e com um beijo rápido no rosto de Caitlin, ela parte. Caitlin sente as batidas do seu coração, com receio de ficar sozinha. "Espere!" Caitlin grita. Polly se vira, mas continua caminhando, indo cada vez mais longe. Caitlin não sabe o que dizer. Ela queria apenas uma desculpa que impedisse Polly de deixá-la sozinha. "Quanto tempo... quanto tempo isso dura?" Polly ri, ao ver a situação de Caitlin. "Não se preocupe. Tenho certeza que vocês voltarão para o almoço!" ela responde. "Venha Rose!" completa ela. Mas Rose permanece onde está, tentada, mas recusando-se a abandonar Caitlin. Polly dá mais uma risada, e com alguns passos largos, desaparece dentro da floresta. Caitlin se vira e observa a fortificação. Blake
tinha virado de costas para ela, então pelo menos ela não teria que lidar com seu olhar, ou deixar que ele observasse enquanto ela se aproximava. Ela dá passos tímidos até a praia, com Rose ao seu lado, e fica parada na beira da água. Ela olha para cima, observando o forte de pedras. Ele se estende quase 12 metros acima da água, e há uns bons 5 metros de água entre ela e o forte. Ela se pergunta como chegaria até lá. Ela sabe que, com seu poder vampiro, um pequeno impulso e um salto a levariam até lá. Mas ela não estava a fim de tanto esforço tão cedo. E não queria deixar Rose para trás. Caitlin examina a água e vê, mergulhada abaixo da superfície, uma passarela de madeira que levava até o forte. Mas a água cobria a passarela em pelo menos meio metro, ela teria que se molhar até as coxas para chegar até lá. Ela coloca um dedo na água.  Ela está bastante gelada pela manhã. "Olá?" Caitlin grita.
Ele permanece lá, de costas para ela. "Olá?" ela grita mais uma vez, irritada. Que falta de educação. Ele deveria ter se virado, reconhecido a presença dela, deveria ter respondido e a recebido com um sorriso. Em vez disso, ele apenas se mantém de costas. "Você está atrasada," diz ele secamente, ainda de costas. "Bem, estou aqui agora," responde Caitlin, "e preciso saber como chegar até aí. Parece que a passarela esta coberta pela água.". "Está mesmo, responde ele. “A maré subiu. Você deveria ter chegado mais cedo; é isso que acontece quando se atrasa.". Cailtin sente seu rosto se enrubescer de irritação. Obviamente, ele não era do tipo de pessoa que deixava as coisas pra lá. Caitlin não tem escolha. Ela enrola a barra das calças acima do joelho, e entra nas águas geladas do rio. Ela faz caretas no caminho, sentindo água gélida como se fossem milhares de pequenas
agulhas. Rose, sempre animada, a acompanha, nadando pelo rio. À medida que Caitlin avança, a água vai ficando mais funda, chegando até acima dos seus joelhos, e então de suas coxas - alto o suficiente para molhar suas calças. Ótimo. Ela finalmente chega do outro lado. Ela estica o braço e pega Rose, tirando ela da água e ajudando-a com o parapeito de pedra. Então ela mesma sai da água, agarrando uma cavilha e se erguendo até o parapeito com um único movimento. Ela agora se encontra em um pequeno parapeito de pedras, no lado oposto de Blake, que ainda está de costas. Rose se chacoalha, jogando água para todos os lados, que respinga até sobre Blake. Caitlin vê que ele se retrai, para sua grande surpresa. Bem feito. Molhado pelas águas do Rio Hudson, não resta outra escolha a Blake a não ser se virar e
cumprimentá-la. Ele parece irritado. "Nada de cães," diz ele. "Rose não é um cachorro," Caitlin responde, friamente. "Ela é um lobo. Seu nome é Rose, caso você esteja curioso. E ela fica aqui comigo," conclui Caitlin, em tom desafiador. Ela encara Blake. Seus olhares se cruzam, e eles se encaram de lados opostos. Caitlin pode ver pela expressão dele que ela o tinha surpreendido - que Blake não sabe ao certo como responder. Por fim, derrotado, ele se vira de costas mais uma vez, e volta a observar o rio. Caitlin fica feliz com sua pequena vitória. Ela desenrola a barra de suas calças devagar, torcendo-as para remover o máximo de água possível. E torce para que o sol da manhã as seque. O forte de pedras não era muito grande, talvez 5 metros de largura, e não havia aonde ir. Ela não conseguia entender o propósito de montar guarda.
Com que frequência, ela se pergunta, um humano ou vampiro tentaria atacar, ou mesmo visitar, aquela ilha remota? Aquilo tudo não fazia o menor sentido, e era bastante tedioso. Pior ainda, ela ficaria presa ao Blake pelas próximas horas. Ela não conseguia acreditar que ele não conversaria com ela durante todo aquele tempo. Bem, se ele não fosse começar, ela daria o primeiro passo, alguém tinha que ser civilizado. "Eu sou Caitlin, a propósito," diz ela, dando-lhe mais uma chance. "Eu sei," responde ele, ainda de costas. Agora ela fica brava. Pronto, essa tinha sido sua última chance. Com que direito ele tinha a audácia de ficar ali parado, nem ao menos se virar para ela? "OK," retruca Caitlin. "Ótimo. Faça como quiser." Ela se afasta o quanto pode até o outro lado e fica ali, olhando na outra direção. Na verdade é um alívio. Todas as ilusões amorosas que ela
tinha, baseadas na experiência do dia anterior, baseadas no pouco tempo em que o tinha visto, começam a se desfazer. Ele não é, como ela tinha imaginado, um ótimo partido. Ele é um idiota. E fazia ficar mais fácil não gostar dele. O que era exatamente do que ela precisava agora. Mas algo ainda a incomoda. E ela não consegue deixar passar. Por que ele era grosso? O que teria acontecido com esse garoto? O mistério a incomoda. O tempo passa e ela fica ali, observando o rio, e Caitlin começa a ser perguntar se o problema não seria que ele não gostava dela. Seria isso? Se fosse, pensa ela, do que será que ele não gostava nela? Seria sua aparência física? Ou a maneira como ela se vestia? Por que ela tinha se atrasado? Ela não conseguia entender porque isso era tão importante. Não, conclui ela, deve haver mais algum motivo. Ela nunca tinha encontrado ninguém em toda sua vida que não gostasse dela desde o primeiro
encontro. Isso a incomoda. Ela tem que entender por que. "Então," ela finalmente fala ao virar-se, quebrando o silêncio, "por que você me odeia?". Ele se mantém de costas, mas desta vez ela nota que ele vira ligeiramente o pescoço em sua direção. "Eu não te odeio," responde ele, depois de algum tempo. "Ah, entendi," diz ela. "Você odeia todo mundo, é isso?" Isso o afeta. Ele finalmente se vira, e a encara. Com uma careta. "Eu não odeio ninguém," responde ele. "Ah, sim, é óbvio," ela retruca. Ele deve ter percebido que ela tinha razão, pois a expressão de seu rosto se altera. Agora ele parece apenas irritado. "Só porque não quero me envolver em uma conversa com você," ele fala, "não quer dizer que não goste de você."
"Se envolver?" ela pergunta. "Eu não estava tentando iniciar uma conversa significativa. Era só por educação. Tipo, 'Oi, prazer em conhecê-lo. Meu nome é tal. Como vai você nesta manhã? Estou bem, obrigada'... isso é o bastante pra mim." "Meu nome é Blake," ele responde rapidamente. "Esta feliz, agora?" Ela finalmente tinha conseguido afetá-lo, finalmente conseguiu uma reação, irritando ele, e ela sorri satisfeita. Bom. Ele mereceu. Esse rapaz arrogante precisava acordar para a vida. Mas ao olhar para ele, ela pode ver que ele é apenas uma alma perturbada, e sua raiva começa a se dissipar. Ele pode ver que, por trás da fachada séria, ele é na verdade bastante frágil. Vulnerável. Esse garoto tinha construído algumas grandes barreiras, disso não há dúvidas. Ela não sabe ao certo o que tinha acontecido com ele, mas sabe reconhecer uma pessoa cautelosa quando via uma. Isso a fazia se lembrar de seu irmão, Sam. Mas ele era ainda mais intenso.
"Blake," repete ela, como se já não soubesse, assentindo com a cabeça. "Algo mais?" ele pergunta. Agora é a vez dela de ser virar. Ela faz isso rapidamente, antes que ele possa dar-lhe as costas. Isso faz ela se sentir bem. Pelo menos ela tinha dado a última palavra. "Não," responde Caitlin, de costas. "É o bastante." Ela pode sentir o olhar dele em suas costas, provavelmente duas vezes mais bravo por ter sido provocado a iniciar uma conversa só para então ser interrompido quando ela lhe deu as costas. Ela sorri. Ela ouve seus passos e percebe que ele também tinha virado de costas para ela. Ambos permanecem assim por alguns minutos, o silêncio pesado ao redor deles. Minutos se tornam horas, e o sol atravessa o céu enquanto Caitlin observa o Hudson. Ela olha na direção da praia, e mais uma vez pensa em Caleb. Nos
penhascos Aquinnah. Na noite que os dois passaram juntos. Ela se lembra dos cavalos, das ondas arrebentando na areia da praia, das pedras, da caverna... E de repente sente tanta falta de Caleb que chega a doer. Não tinha sido há muito tempo. Como tudo poderia ter mudado tão rápido? Ela sente o poder sobre-humano circulando em suas veias e olha para o seu corpo, brilhando sob o sol, mais musculoso e torneado do que quando ela ainda era uma humana. Sim, muita coisa havia mudado. E a parte mais estranha de tudo aquilo, é que ela se sente bem com seu novo corpo. Ela acha natural ser uma vampira de fato, como se fosse assim que as coisas devessem ser. Durante toda sua vida, ela havia se sentido confusa em relação a sua identidade, - quem ela era realmente, e onde era o seu lugar. Agora, ela achava que finalmente havia descoberto. Ela era uma vampira. Era ali o lugar dela. Ali, naquela ilha, com aquele coven, e todos os seus novos amigos. Se Caleb não pudesse fazer parte de sua nova vida, pelo
menos agora ela tinha certeza de quem ela realmente era. Caitlin observa o maravilhoso Rio Hudson hora após hora, testemunhando o caminho do sol no céu. O silêncio é tão profundo, que após um tempo ela se esquece de que há mais alguém ali com ela. Ela adora a solidão daquele lugar, as paisagens, adora estar completamente cercada pela natureza. E adora ter Rose ao seu lado. Se era isso que significa montar guarda, ela certamente se ofereceria para realizar a tarefa todos os dias. O ar fresco vindo do rio a ajuda a espairecer, permitindo que ela organize seus pensamentos. Ela sente como se ar a purificasse, limpando se corpo e permitindo que ela deixasse o passado, deixasse tudo para trás. Justo quanto Caitlin sente a primeira pontada de fome, e começa a se perguntar quando o almoço seria servido, ela ouve um barulho estridente acima dela. Ela se afasta, protegendo os olhos do sol, e
avalia o horizonte. Não parece ser o pássaro de sempre. Blake também deve tê-lo ouvido, pois ele também se afasta e começa a procurar no céu. Enquanto ambos observam, um falcão enorme circula o céu sobre eles diversas vezes, se aproximando cada vez mais. Para surpresa de Caitlin, ele finalmente mergulha na direção deles, pousando na parede de pedras. Ele a encara, gralhando. Caitlin fica surpresa. Era um pássaro enorme, belo e primitivo. "O que ele é?" Caitlin pergunta. "Um falcão," informa Blake. Caitlin olha para a ave. "É um costume vampiro," continua ele. "Nós os usamos como mensageiros." "Mensageiros?" Caitlin pergunta. Blake deixa sua lança, dando dois passos à frente, e aponta para o pescoço do Falcão. Caitlin olha e vê a pequena caixa de metal, presa
em suas garras. "Abra-a," diz Blake. "É pra você." "Pra mim?" Pergunta Caitlin, espantada. "Como você sabe?" "Ele está olhando para você, e não pra mim," ele responde. Caitlin dá alguns passos tímidos na direção da ave, estica o braço e remove o medalhão ao redor do pescoço do Falcão. Assim que faz isso, ele a assusta batendo as enormes asas em seu rosto e alçando voo. Em segundos, tendo ganhado altitude, ele desaparece no horizonte. Caitlin examina a pequena caixa de metal em suas mãos, curiosa. Quem poderia ter lhe mandado uma mensagem? Ela empurra a pequena fechadura, e a pequena caixa, pouco maior que uma caixinha para comprimidos, se abre. De dentro dela, Caitlin retira um pedaço de papel dobrado. Do lado de fora, é possível ler: "Para Caitlin." Assim que segura o papel nas mãos, ela pode
sentir, em cada poro de sua pele. Era uma mensagem de Caleb. Ela tinha escrito uma carta para ela. Caitlin olha para o horizonte, respirando profundamente. Receber aquele bilhete dele doía mais profundamente do que ela poderia imaginar. Ele se sente dividida, em conflito, arrebatada pelas emoções. Por que ele estava escrevendo para ela? Por que ele não simplesmente a deixava em paz? Ele obviamente estava com Sera. Estava claro que eles tinham um filho juntos. E obviamente ele não se importava mais com Caitlin. Então por quê? Por que continuar a incomodando? O que ele poderia dizer em uma carta que mudasse a situação? Caitlin está prestes a rasgar a mensagem em pedaços e jogá-la no rio, deixando que desapareça para sempre. Mas ela não quer fazer isso na frente de Blake. Ele faria muitas perguntas. E uma parte simplesmente não consegue fazer isso, de qualquer forma.
Ao mesmo tempo, ela não consegue se forçar a ler a carta. E duvida que algum dia fosse ser capaz. Por agora, ela a guardaria. Mas ficaria lacrada. Caitlin enfia o papel em seu bolso, se vira, e volta para sua posição de guarda. Ela sente que Blake a observa. Pode sentir seus olhos nela. O falcão e a carta devem ter despertado sua curiosidade. "E aí?" ele pergunta. "Você não vai abrir?" "E o que lhe interessa?" ela responde, ainda de costas para ele. Pelo menos algo havia chamado a atenção dele. Ao menos ele estava vivo. "Vampiros não mandam mensagens a não ser que sejam urgentes. Você deveria respeitar isso. Deveria abrir a carta." "Vou perguntar mais uma vez," ela diz, olhando para ele, "que diferença faz pra você?" "Eu só não consigo entender," ele responde. "Por que você não abre a carta? Não faz o menor sentido."
"Talvez por que eu não queira ler a carta," ela desafia, "Talvez eu nunca a leia." Blake a encara. Quando ele faz isso, a luz muda, iluminando seus olhos azul-claros. E ela percebe o quão atraente ele é. Rapidamente, ela olha para o outro lado, disfarçando. "Você sabe de quem é?" ele pergunta. Caitlin não responde. "Claro que você sabe," ele mesmo responde. "É o único motivo para não abri-la... Deve ser de alguém de quem você não quer notícias," continua ele, pensando em voz alta. De repente, ele se dá conta. "É do seu namorado, não é?" Caitlin deixa a pergunta pairar no ar por algum tempo. "Eu não tenho namorado," diz ela, finalmente. E, mesmo enquanto sente pergaminho dentro do seu bolso, ela sabe ser esta a verdade. Ela não sabe exatamente o que Caleb significa para ela, mas certamente não é mais seu namorado. “Podemos simplesmente não falar mais nada?"
ela pede irritada,  querendo o silêncio. Caitlin sente a hesitação atrás dela, e então, enfim, após algum tempo, ela ouve os passos indicando que ele havia retornado ao seu posto. Pelo menos ele a tinha deixado em paz. O que era mais do que ela poderia dizer a respeito de Caleb. Naquele momento, ela odeia todos os garotos. Ela pensa sobre o concerto daquela noite, e sobre o fato de que ela e Blake seriam os únicos sem pares. Por ela, tudo bem. A última coisa que ela precisa agora é de outro homem em sua vida.

Memórias De Um VAMPIRO (Transformada, Amada, Traída, Destinada, Desejada, Ect)حيث تعيش القصص. اكتشف الآن