20º Meu cérebro não funciona antes das 9:00.

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"Se não fossem as minhas malas cheias de memórias
Ou aquela história que faz mais de um ano
Não fossem os danos
Não seria eu
Se não fossem as minhas tias com todos os mimos
Ou se eu menino fosse mais amado
Se não desse errado
Não seria eu" (Capitão Gancho - Clarice Falcão)

– E protetor? – Amanda perguntou e revirei os olhos.
– Sim, já coloquei na mala. Mandy, são – conferi o horário no celular e sorri cínica – 8:30 da manhã, a viagem só é segunda e você tá se preocupando logo agora?
– Eu não quero que nada dê errado. Mia, você se deu conta que é nossa viagem de formatura? – ela disse com a boca cheia e tomei meu chá.
São exatamente 8:30 da manhã de uma quinta-feira. Não preciso mais ir no colégio para fazer as provas, Amanda tinha acabado de enfeitar a quadra e decidimos ficar em casa hoje.
Lê-se: Na minha casa, mas Mandy só vai para sua quando sua mãe pede pra lavar louça ou algo do tipo, ao contrário, ela fica o dia inteiro aqui.
Essa é a sorte da sua melhor amiga morar no andar de cima.
– É, eu sei. Aliás, você me lembra a cada dois minutos – ela abriu a boca indignada – São só 4 dias, tem como você relaxar?
– São 4 dias em Porto Seguro! – ela gritou e tampei os ouvidos – Eu sei que está me escutando, para com isso.
Ela tentava com todo o custo tirar minhas mãos das orelhas para eu escutar a maldita história.
– É nosso último ano, temos que curtir e blá blá blá. Já entendi essa história – falei com raiva e levantei para deixar a louça na pia.
– A Sarah estaria animada – ela disse vagamente e bufei.
– Acontece que a Sarah está em Toronto e não aqui, tem como se contentar comigo? – Mandy revirou os olhos e foi fazer mais uma panqueca.
– É o que eu tenho, né.
– Eu tô animada, tá legal? É que você tá falando tanto dessa viagem que eu estou me estressando – passei a mão pelo rosto de um jeito dramático e ela riu.
– Amanhã é dia – ela cantarolou e sorri nervosa – Você tá preparada?
– Na realidade não, passou muito rápido essa semana – ajudei Amanda a guardar as coisas da mesa – Você vai comigo amanhã, né?
– Acho que não vai dar – ela fez uma cara triste e arregalei os olhos.
– Como é? Não Amanda, você precisa ir – falei desesperada e ela começou a rir – Sua tonta!
– Você acha que eu ia recusar encontrar meus youtubers favoritos? – ela levantou as sobrancelhas e fiz uma cara confusa.
– Ah querida, de você eu não duvido nada.
– Nossa – ela ri e me dá um beijo na bochecha – Vamos procurar uma roupa para amanhã?
– Sem shopping, por favor.
– Ok, então vamos ver algo seu – ela me puxa pelo braço e vamos para o meu quarto – Jeans?
– Mostarda – falo rápido e ela retira duas calças minhas do guarda-roupa.
– Preto ou branco? – ela estende duas regatas soltas de rendas e pego a branca – Qual seu problema com coisa branca?
– Eu apenas gosto – respondi e Amanda riu – Você viu o meu vestido?
– Você esqueceu de me mostrar! – ela se sentiu ofendida.
Fiquei em pé na cama para conseguir pegar a caixa enorme que estava em cima do guarda-roupa.
– Foi tipo, amor à primeira vista – falei assim que posicionei o vestido nude na frente do meu corpo.
– Caralho, ele é lindo – Mandy disse com os olhos arregalados e me abraçou.
O vestido parecia que foi feito especialmente para mim, quando eu digo isso nem me refiro à cor e a modelagem. O nude realçava meu cabelo e meus olhos, o vestido é totalmente básico.
Justo no busto até o quadril, ele era reto, não tinha nada extravagante, as linhas foram bem desenhadas e marcava muito bem meu corpo.
– Ele é tão... Você – ela disse e acabei por concordar – Agora foco para amanhã.
– Acho que vou de shorts, minha camiseta do Kurt e... – Mandy me interrompeu.
– Aquela camiseta do Nirvana? Ela tá toda rasgada – ela quase gritou e ignorei a mesma – Vai com a do Young The Giant.

Amanda estendeu a camiseta branca com o símbolo de umas das minhas bandas preferidas, mas nada era melhor do que a do Kurt.
O desenho do rosto de Kurt Cobain foi feito por mim mesma em uma camiseta branca, a única obra minha que eu tenho maior orgulho.
A camiseta era mesmo rasgada perto da gola e alguns buracos perto da barra, mas Amanda não entendia que tudo foi de propósito.
– Nada como o velho Cobain para me dar coragem amanhã – dramatizei e Mandy fez uma careta.
– Ele se suicidou – ela começou com a história "Você deveria gostar de Pop".
Ele é e foi uma lenda, então menos – beijei meu ombro e ela riu com as mãos para o alto como tivesse se rendendo.
– Se você diz. Aliás, eu não entendo esse seu amor apenas por ídolos mortos.
– Opa, Gadhia não está morto. – disse com as mãos na cintura e Amanda tomou aquilo como desafio.
– Mas, Kurt, Elvis, Lennon, River... – ela contava nos dedos e me dei por vencida.
– Ok, já entendi!
– E como sempre eu ganhei! – Amanda fez um reverência junto com uma dança bem escrota.
– Mas, você tem que aceitar que eles todos são e foram lendas – Mandy assentiu e fiquei em pé na cama para guardar o vestido – Acho que meu celular tocou, pega lá no sofá pra mim?
– Você é folgada – Amanda cantarolou pelo caminho e ri sozinha.
Segundos depois senti meu celular ser tacado contra a minha barriga e urrei de dor.
– Me diz a macumba que você fez pra ser tão sortuda e ter o Cellbit mandando mensagem para você todo dia? – Mandy disse rindo e sentou ao meu lado.
Encolhi os ombros e verifiquei a mensagem dele.

(EM REVISÃO) Qualquer Negócio|Rafael Lange| CellBitOnde as histórias ganham vida. Descobre agora