7° Cuide da minha dor

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"Uns dizem que amo minha dor. Sim, eu a amo tanto que gostaria de dá-la pra você, embrulhada com uma fita vermelha. Embrulhada com uma fita vermelha sangue, pode ficar com ela. Pode ficar com ela toda. Eu nunca vou sentir falta. Estou tentando me livrar dela, acredite."
- Charles Bukowski

Eu não gosto muito de hospital, é um lugar que costumo evitar bastante. Uma ar melancólico, pessoas preocupadas, médicos correndo, famílias desesperadas por notícias. Sem contar os milhões de macas passando para lá e para cá.
Depois de deixarmos nossas malas na casa do meu tio, fomos visitar minha avó que ainda respirava com ajuda de aparelhos.
4 paradas cardíacas.
Me perguntava se ela realmente ia se recuperar, o medo e a angústia se misturava quando queria a tal resposta.
Horas sem entrar em nenhuma rede social, meu celular estava até durando mais por conta de não usá-lo. Ao meu lado estava Rebeca, minha prima metida a besta que se acha superior assim como meu tio. Sinceramente? Não sei como a mulher dele o aguenta, ela é boazinha demais, fofa e simpática assim como sua filha Raquel, com apenas 12 anos é um amor de pessoa.
Minha família era divida em partes, a parte simpática e educada, claro, a parte egoísta e mal educada. Não julgo os meus avós, mas ele deveriam ter sido bem mais severos em relação ao meu tio, assim como meu tio em relação a Rebeca. Ela tinha a minha idade, se gabava por ter um celular de última geração, andar em um carro caro e ter viajado para fora do país. Mal sabe seus amigos que o pai dela é o maior falido, vive a custa de um processo que ele ganhou e só está esperando meus avós morrerem para ficarem com a metade da herança.
Eu, minha mãe, tia Claudia e Raquel éramos a parte boa da família. Raquel revirava os olhos sempre que sua irmã dizia algo de alguma roupa nova de sua marca preferida e sussurrava "Não precisa fingir para ela, Rebeca. Ela sabe que estamos falidos"
Era óbvio que eu sempre soltava uma risada fazendo Rebeca ficar irritada. Eu tinha sim todos os luxos de Rebeca, eu só não me exibia, minha mãe me ensinou a ser humilde. Até porque de uma hora para outra podemos perder tudo, assim como aconteceu com o meu tio.
Meus olhos observavam o movimento na rua, meus dedos brincava com o embaçamento do vidro tentando fazer alguns desenhos. Eu sentia que estava em um filme.
Desencontros.
Era disso que eu vivia, Rafael poderia estar na cidade, poderíamos ter marcado um lugar para se encontrar e tomar um sorvete. Ele está na minha cidade enquanto eu estou na dele. O destino as vezes era tão bom comigo e outras me odiava. Eu só queria sentar ao seu lado, poder ouvir suas histórias sobre os eventos enquanto tomávamos café, ele iria fazer graça e rir, eu riria junto por causa do som do seu riso. Ele jogaria a cabeça para trás com a voz fina iria gritar algo, eu riria mais e me apaixonaria mais.
- Vocês descem enquanto eu vou encontrar um lugar para estacionar, ok? - meu tio me tirou dos pensamentos, todos do carro concordaram saindo do carro em seguida.
Meu corpo todo esfriou assim que coloquei os pés no hospital, não gosto desse lugar. Seguimos até a recepção, a moça loira nos deu crachás de visitantes e por sorte poderíamos pelo menos visitar o vovô, já que minha avó ainda não tinha sido transferida para o quarto. Me encostei em uma parede, meus olhos passeavam pelo hospital, meus pés estavam cansados e minha cabeça parecia que iria explodir a qualquer momento.
Senti um peso em meus ombros, uma angústia e tentei de tudo ignorar aquilo, Raquel ficou ao meu lado por alguns minutos.
- Ei, você está bem? - ela me perguntou, pegou minha mão e acariciou os meus dedos
- Eu só estou com medo, você não?- a perguntei, ela afirmou com a cabeça e me olhou triste.
- Eu sei que ela irá ficar bem, pensamentos positivos nos dão resultados positivos - deixei meu ombro bater no seu e descansei minha cabeça na dela.
Seríamos as últimas a entrar, até achei que seria melhor, não estava com estômago para ver meu avô ainda.
Eu tenho uma certa fraqueza quando o assunto era hospital, sempre ficava mais pra baixo ou até mesmo com uma dor de cabeça insuportável. Eu queria minha cama, queria a Malu, queria meu celular e meu Twitter.
- Raquel, pode me emprestar seu celular? - ela primeiro franziu a testa, mas logo desbloqueou e me deu o celular, fiz o login do twitter e fui direito nas mensagens direta.

(EM REVISÃO) Qualquer Negócio|Rafael Lange| CellBitOnde as histórias ganham vida. Descobre agora