Capítulo Quarenta e Nove

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O que significou aquela conversa? Estavam falando sobre mim? Ela existiu mesmo?

Minha cabeça dói só de lembrar dele. Tento o ignorar e olho para o lado. Percebo que estou no banco de trás. Estamos voltando para o condomínio. Vejo sangue na perna de Niall. Isso não é nada bom. Está manchando o carro e parece que não para de sair sangrar. Parece estar piorando. Olho para Mandy, nossa motorista. Ela também não está nada bem. Seu braço está sangrando um pouco e ela usa um pedaço de papel para tentar limpar, o que não adianta muita coisa. Niall dorme profundamente ao meu lado.

— Ele está muito ruim — digo.

Sinto um pouco de culpa por isso. Se eu não tivesse aquela ideia estupida de jogar a bomba para cima... Rodrigues ainda estaria vivo. E os dois estariam bem.

— Eu sei — diz ela. — O pior, é que ainda estamos um pouco lon...

Ela freia o carro bruscamente. Levo um susto e quase bato a cabeça no banco da frente, se não fosse pelo cinto. Acontece a mesma coisa com Niall. Ele acorda num pulo.

Olho para o parabrisa e vejo um homem apontar uma arma para nós, no meio da estrada. Meu coração dispara.

— Saiam do carro! — vejo outro homem se aproximar com uma pistola, perto da porta de Mandy.

Ele abre a porta dela e a obriga a sair. Eu e Niall saímos, antes que nos façam sair também. Levanto às mãos e deixo o arco no carro. Três pessoas apontam armas para nós, duas do outro lado da rua, que estão desarmando Mandy e Niall e a outra se aproxima para me desarmar.

Era o homem que nos parou. Ele tira minha aljava e a joga no banco do carro também. Então aponta seu fuzil para o meu crânio. Meu coração bate forte.

— Quem são vocês? — pergunta o homem apontando a arma para mim.

— Por favor! — ouço Mandy choramingar. — Nós precisamos voltar para casa, por favor!

Eu a olho e vejo as lágrimas percorrerem seu rosto. Um homem segura ela e outro segura Niall. Com controle, resolvo responder a pergunta do homem:

— Somos sobreviventes de outro lugar. Estávamos tentando voltar para a casa.

Não acredito que eles vão nos matar. Mantenho a calma.

— O que estavam fazendo aqui? — pergunta o mesmo cara.

Ele tem olhos escuros, que combina com seus cabelos negros. Sua barba parece ter sido raspada recentemente.

— Nós fomos procurar suprimentos no shopping. — Digo. — Meu amigo se feriu gravemente, precisamos ajudá-lo rápido.

O homem olha para os outros. Respiro fundo. Meu coração continua batendo rapidamente. Olho para os outros homens também. Eles parecem em duvida. Isso me dá medo.

Então o homem que aponta a arma para mim, abaixa a arma.

— Nos sigam — diz ele.

***

Eles nos levam para uma porta de um beco. Então, nos guia pelo beco cheio de portas. Ouço alguns barulhos vindos dos prédios que fecham o beco.

— Vocês têm sorte. — Fala o homem que nos parou. — Temos médicos aqui. E muitos medicamentos.

Então, ele abre uma das portas do prédio direito. A imagem que vejo é incrivelmente surpreendente. Pessoas trabalham para lá e para cá. Vejo um homem segurar um saco de terra. Outro carrega um carrinho com vários sacos de algo que eu não sei o que é. Vejo pessoas manuseando máquinas para produzir algo de metal. Pessoas lutam com bonecos e sacos de pancada. O lugar é bem grande.

Nós entramos. Acima de nós, passarelas com várias pessoas que carregam coisas lá.

— Karmen! — diz o homem que nos parou.

Não sei com quem ele estava falando, pois são muitas pessoas. Mas de repente, uma menina ruiva, baixa — acho que do mesmo tamanho que eu, ou menor —, com sardas e olhos verdes.

— Me chamou? — percebo que está com um jaleco.

— Sim, leve esse garoto e essa garota para a enfermaria. — Diz o homem. — Obrigado.

Ela chama Niall e Mandy para irem com ela. Os dois a seguem. O homem avança e pede para mim segui-lo. Andamos pelo local. A maioria das pessoas fazem alguma coisa. Eu analiso cada coisa do local. As paredes desgastadas, as pessoas soando com o calor que faz aqui dentro, a terra que esta caída no chão e as pessoas que a varrem.

— Meu nome é Jonas. — Diz o homem. — Como pode ter percebido, somos um grupo de sobreviventes. Nós trabalhamos muito aqui.

Eu olho para as passarelas. Vejo que tem uma escada que dá para o teto. As pessoas carregam terra para lá.

— Isso é incrível. — Comento.

— É... — diz Jonas. — Nós praticamente produzimos tudo que consumimos. Plantamos lá em cima, produzimos alguns objetos aqui embaixo... Mas é claro que não fazemos tudo. Mandamos pessoas lá fora também.

As coisas parecem bem organizadas aqui.

— Onde dormem? — pergunto.

— No prédio no outro lado do beco. Lá é onde estão a maioria das pessoas. Onde as crianças brincam. Onde todos dormem.

Aqui parece ser melhor que o condomínio. E não tem vestígios de LPB. Posso confiar nas pessoas daqui. Talvez seja melhor eu morar aqui.

— Como se chama? — pergunta ele.

— Claire. — Respondo.

Jonas para e eu paro junto. Encaro seus olhos escuros e ele encara os meus.

— Claire... — ele fala. — Se você quiser, você e seus amigos podem morar aqui. Nós temos lugar para vocês.

*Eai? Acham que Claire vai aceitar ir morar lá?*

SinistraWhere stories live. Discover now