Capítulo Vinte e Três

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Subo as escadas do meu prédio correndo, até chegar no andar onde fica a enfermaria. Meus pés doem e Demi começa a pesar em meus braços. Já estamos chegando.

Deixamos um rastro de sangue no chão do corredor. Vejo a porta da enfermaria se abrir e eu corro até ela. Coloco Demi na maca em que os médicos já estavam preparando para ela. Eu a vejo olhar para mim. Está com medo. Com dor.

Tento entrar, mas um médico me impede. Ele diz:

— Não pode ficar aqui!

Sou empurrada para fora. A porta se fecha na minha cara. Os médicos são as pessoas que já se envolveram com medicina e sobreviveram ao caos lá fora. Poucos são extremamente experientes, mas todos já pelo menos estudaram um pouco sobre o assunto. No nosso prédio há apenas três, mas normalmente os dos outros prédios vêm ajudar também, quando a situação é muito grave.

Coloco a cabeça contra a porta. Demi está bem machucada. Eu queria saber o que vai acontecer com ela. Ela vai ficar bem, digo para mim mesma.

— Precisamos ir — diz Harry, colocando a mão em meu ombro.

Viro-me para ele. Dylan está ao seu lado, me encarando igual Harry. Com olhar de pena. Eu vim carregando Demi correndo até aqui, enquanto eles me davam cobertura. Ela estava leve, ou eu que estava forte — que é o mais provável. Isso tudo. Os meus sonhos. A outra eu. Minha força, minha rapidez, meu reflexo e a minha cura rápida... Está tudo ligado de alguma forma. Estou começando a ter certeza disso. Preciso descobrir o que está acontecendo comigo.

Desencosto da porta e caminho com eles.

***

Expliquei o que aconteceu para Niall. Nós dois estamos conversando no térreo, fora do prédio. Estamos sentados do lado da porta, onde pessoas passam o tempo inteiro. Faz mais de duas horas que estou sem notícias de Demi. Estou ficando preocupada.

— Eu queria saber como ela está... — diz Niall.

Olho para o céu. O sol está atrás de um dos prédios, nos fazendo ficar dentro de uma imensa sombra. Vejo a corda da tirolesa. Cada prédio tem uma corda dessa. Mas eles aparentam ter caminhos diferentes cada uma.

Então, uma pergunta surge no meio das quinhentas na minha mente. Como eles colocaram essas cordas aí?

— É... — respondo Niall, sem olhar para ele. — Eu também.

A situação de Demi deve ser grave. Alguns médicos de outros prédios apareceram para ajudar os médicos desse prédio. Isso me preocupa.

— É difícil? — pergunta Niall, me desconcentrando e me fazendo olhar para ele. — O teste para Sinistro?

Somos aconselhados a nunca contar nada a ninguém sobre o teste. Se descobrirem que eu contei algo do teste para alguém, eu levo uma infração.

Eu até poderia contar o teste todo para ele, mas acho que ele se sairá melhor se for despreparado.

— Só se você tiver medo — digo.

— Medo do quê? — ele pergunta.

Contar isso não vai me dar uma infração. Afinal, Zayn me contou isso minutos antes de começar o meu.

— Do teste. — Respondo.

De repente, a porta ao nosso lado se abre. Levo um susto, mas consigo disfarçar. Olho para quem abriu a porta. É Dylan.

— Claire, precisamos conversar com você. — Diz ele.

Precisamos? Quem será que quer falar comigo? Será que é algo de Demi?

Com esse pensamento, eu me levanto sem questionar nada e o sigo. Meu coração bate fortemente e eu começo a me preocupar. Nós vamos até o meu apartamento, onde Louis está esperando por nós. Começo a desanimar e pensar que não é sobre Demi que vamos falar. Então, eu vejo o médico atrás de Louis.

— O que aconteceu? — pergunto.

— É sobre Demi... — diz Louis.

Meu coração aperta. O médico saí de trás de Louis e me encara com cara de decepção. Meu coração bate mais forte. Começo a pensar que ele vai dizer que ela está morta. Entro em desespero por dentro, mas por fora mantenho a calma.

— A sua amiga ainda está viva — diz o médico. Meu coração alivia tanto que faz meu corpo todo relaxar. Respiro fundo. — Mas está bem machucada. O problema não foi só o soco do monstro. Ela estava com uma faca no coldre da perna. Parece que a faca machucou bastante sua perna. Ela corre risco de perder o movimento da perna ou perder a perna. — Ele suspira. — O risco é alto e só tem um jeito de impedir que isso aconteça. Além disso, ela quebrou uma parte da mandíbula e quase perdeu alguns dentes.

Parece que é bem grave mesmo. E se Demi perder a perna? O que vai acontecer com ela?

— Tem como arrumar a mandíbula dela, não é? — pergunto. — E como vamos impedir que ela perca a perna?

— Bom, arrumar a sua mandíbula é fácil, mas seria melhor se tivéssemos um soro. Ele aumenta a rapidez do conserto de ossos. E só vamos conseguir arrumar a perna dela com um remédio chamado Celfato. Já costuramos sua perna e desinfetamos, mas mesmo assim, parece estar infeccionando. O Celfato desinfecciona qualquer tipo infecção de qualquer bactéria.

— E vocês tem, não tem? — pergunto.

— Não — responde ele. — Por isso chamei vocês. Vão ter que ir para algum hospital pegar o remédio.

SinistraWhere stories live. Discover now