Capítulo Oito

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O monstro fica no chão, imóvel. Ele está morto. O cheiro que agora predomina o ar é de carne queimada. Tem espuma do extintor por toda parte. Olho para o diário que incrivelmente continua intacto no chão. Eu o pego e me levanto.

— Como colocou fogo nele? — pergunta Louis.

— Eu estou bem — respondo. —, obrigada por perguntar.

— De nada — ele ri.

Coloco o isqueiro no bolso. Nunca se sabe quando se vai precisar disso de novo. Quando volto o olhar para Louis, percebo que ele está me encarando. Suas pupilas estão dilatadas e ele fica com um sorriso bonito, exibindo os dentes.

— Por que está me encarando? — pergunto.

— Porque eu tenho olhos — ele responde e me faz rir.

— Você é idiota — digo.

— Se eu ganhasse um real pra cada pessoa que falasse isso para mim... — ele diz, mas eu completo:

— Não ia mudar nada, não tem onde gastar mesmo.

Ele ri. Então o cheiro de carne queimada começa a ficar forte e nós saímos de perto do corpo e vamos para a sala de jantar. Está tudo arrumado, mas está tudo empoeirado. Pergunto-me se haveria alguém morando nessa casa.

Há uma porta de madeira do outro lado da mesa e outra de vidro, que eu imagino que dê para o quintal. A luz do céu cinza ilumina bem aqui.

Vou até a porta do outro lado da mesa e quando coloco a mão na maçaneta, Louis avisa:

— Está trancada. Já tentei abrir.

Eu olho para ele com os olhos semicerrados.

— Nunca está trancado — digo, com um sorriso.

Bato contra a porta usando o meu ombro com toda a força que tenho. Surpreendo-me com a minha própria força. A porta se abre e eu entro automaticamente. É uma salinha muito pequena, com apenas uma escrivaninha, um computador e uma cadeira com rodinhas.

Surpreendo-me novamente quando olho para o chão e vejo o simbolo da caveira que vimos na carta antes. O desenho está esculpido no piso abaixo de nós.

— O que é isso? — pergunto, agachando-me para encostar no piso.

Encosto meus dedos em volta das cavidades da enorme caveira no chão. É áspero e parece ter sido pintado há muito tempo, por alguém muito talentoso por sinal. Louis entra na sala e liga o computador sem dizer nada. O simbolo da caveira aparece girando na tela preta.

Então, a tela fica azul e um espaço branco aparece no centro. Louis clica nele.

— Acho que precisa de uma senha... — ele fala.

— Como isso ainda funciona? — pergunto.

— Os geradores de energia dessa casa não são tão velhos — responde ele. — Eu os vi um lá fora.

No condomínio, os geradores são horríveis. Nós temos que economizar o máximo de energia possível. Eles só acendem as luzes quando começa a escurecer e apagam depois da hora de dormir. Nada eletrônico existe lá além de luzes. Na verdade, há alguns apartamentos com computadores, mas ninguém usa.

— Qual seria a senha para entrar nisso ai? — pergunto.

— Não faço ideia — ele responde.

Reviro os olhos, bufando. Esse computador pode esconder o mistério sobre esse simbolo da caveira. Pode estar tudo aí dentro.

O diário começa a escorregar no meu braço e eu o ajeito. O diário!

Eu o abro e começo a ler, folheando as páginas aos poucos. Meus olhos param em uma página em que a única coisa que consigo ler é "senha". Começo a ler o trecho que está escrito isso.

Meu pai me pôs de castigo por demorar para chegar ontem. Mas nem me importei. Ele trocou a senha do meu celular, mas eu sei que ele só usa uma senha para nunca esquecer. Se eu não me engano, é o nosso sobrenome, Martin.

— Martin — digo.

— Não — ele fala. —, meu nome é Louis.

— Não! — digo, rindo. - Tenta Martin. A senha.

— Ah — ele ri também.

Ele digita Martin no espaço branco e aperta enter. O computador vai direto para uma área de trabalho com algumas pastas e arquivos. Tem uma pasta com o nome LPB. Peço para ele abri-la e ele obedece. Tem um arquivo com o nome de Ultra-Secreto, outro como Projeto Escolhido e um vídeo, nomeado de LPB.

— Qual abro primeiro?

O Ultra-Secreto chamou minha atenção e o Projeto Escolhida mais ainda. Mas é melhor uma coisa de cada vez. Precisamos descobrir o que é LPB agora.

— O vídeo.

Ele clica no vídeo e a tela fica preta. Logo depois um laboratório aparece com milhares de balcões com coisas cientificas em cima.

"LPB Laboratório de Pesquisas Biológicas." Uma voz começa a narrar. A imagem do vídeo muda para cientistas trabalhando. Parecem felizes como se estivessem fazendo um comercial sobre ciência. "O laboratório é usado para curas de doenças biológicas. Fundado em 2041, o laboratório tinha apenas um objetivo: encontrar curas, aprimorar a humanidade. Esse sempre foi o lema deles."  Na imagem agora está passando um tipo de lugar subterrâneo. "Mas todos sempre suspeitaram que não era isso que queriam. As coisas suspeitas já começaram quando o laboratório foi construído embaixo da terra, onde ninguém poderia ver seus experimentos." A imagem muda para cachorros latindo dentro de celas em um corredor. "Então, começaram a acusar o laboratório de sequestro de animais e de experimentos abusivos com eles." A imagem muda para um tribunal. "Em 2050, foi aberto um caso de investigação contra a LPB. Foi quando o governo anunciou que havia ajudado o laboratório com suas pesquisas." A imagem muda para dois homens conversando e apertando as mãos. "O governo confessou que estava ajudando financeiramente a LPB. Eles confessaram que o exército estava fraco e enfraquecendo cada vez mais. O presidente disse que as armas biológicas seriam muito mais úteis em caso de guerra." A imagem mostra um homem com roupa formal falando na frente de um imenso público. "Milhões de pessoas, já revoltadas com as outras coisas que o governo havia decidido, se revoltaram mais ainda. A população se transformou em uma multidão enfurecida." A imagem volta para o presidente e o homem conversando. "Mesmo após as ameaças de guerras acabarem por causa da Era do Isolamento, a LPB continua seus experimentos mortais e perigosos." O vídeo mostra pessoas protestando contra a LPB. Elas levantam placas com o símbolo e um enorme "X" vermelho por cima. "O laboratório subterrâneo esconde muitos segredos. Segredos que você não consegue nem mesmo imaginar. Todos sabem que armas biológicas são os piores tipos de armas existentes. Elas podem destruir uma população inteira, ou até mesmo, o mundo. Encontrar curas, aprimorar a humanidade?"

A tela fica preta. O vídeo acaba.

SinistraWhere stories live. Discover now