Capítulo Trinta e Nove

7.4K 661 65
                                    

Já andei em um duto antes. Esse aqui é um pouco mais apertado do que eu andei. Espero que essa seja a última vez que eu ande em um duto. Arrasto-me, tentando fazer o mínimo de barulho possível. Atrás de mim, Harry se arrasta também. Dylan explicou que se nós seguirmos reto pelo mesmo duto, sairemos bem perto da porta da saída da garagem. Mas ele nunca saiu do prédio por esses dutos, então não tinha certeza. Não sei nem como ele sabia como sair. Talvez já tenha tentado.

O problema é se tiver um Maléfico lá na porta. E provavelmente vai ter. Em uma das portinhas do duto, vejo pés, alguns carros empoeirados que nunca usamos e a porta para carros. Ao lado tem uma porta menor, para as pessoas passarem. Tem dois guardas na frente das portas. Forçando os olhos, vejo uma portinha para o duto perto da porta de carros. Não é tão perto, mas é a mais perto que parece ter. Daquela portinha, eu vejo uma luz. Será que é a luz do lado de fora? Será que esse duto tem um fim? Se tiver, não precisaremos se arriscar saindo perto dos guardas.

Deixo escapar um sorriso.

Continuo a me arrastar. O duto fede a mofo e a poeira está começando a irritar meu nariz. Começo a rezar para o duto terminar logo. Não posso espirrar, mesmo sendo a coisa que mais quero neste momento é isso.

Segurar o espirro é muito ruim. Não posso deixá-lo sair da minha boca. Vamos, continue. Arrasto-me mais rapidamente, fazendo um pouco mais de barulho. Isso vai ser difícil. Fico imaginando quando nós sairmos. Como vamos fazer para não sermos vistos pelos guardas lá fora. Se estivesse de noite, seria mais fácil. Mas acontece que se fossemos de noite, as probabilidades de chegarmos lá e o homem estar morto são grandes.

Lágrimas estão escapando do meu olho por causa do meu nariz. Droga de rinite! É raro minha rinite atacar, mas com a quantidade de pó que eu estou inalando aqui nesse duto, estava óbvio que ela iria me atacar. E com força. Minha pior inimiga agora é ela.

Estou começando a me sentir apertada com esse duto. Não vejo a hora de sair daqui. Já estou com vontade de voltar e deitar na minha cama para dormir. Voltar... Como vamos voltar?

Como não pensei nisso antes? Estava tão fissurada em como sair do condomínio, que esqueci de bolar um plano para voltar. Droga. Depois nós pensamos em algo. Precisamos sair daqui primeiro.

Suor está escorrendo de todas as partes do meu corpo. A adrenalina com o calor que está aqui me fazem soar muito. Já me acostumei com o fedor daqui, mas meu nariz ainda está irritado. Parece que estamos aqui fazem dias. De repente, uma luz reflete no duto na minha frente.

Rapidamente, coloco minha cabeça para cima e vejo, um pouco mais lá na frente, uma portinha. Uma claridade enorme sai dela. A claridade do sol. Torço para estar certa. Começo a ir mais rápida do que estava. A minha ansiedade agora aumentou muito. Muito mesmo. Meu sorriso volta e eu finalmente posso comemorar por alguma coisa. A luz vai ficando mais forte cada vez que me aproximo. Estou quase chegando. Nessa altura, não ligo mais para o meu nariz, nem para o barulho que estou fazendo e nem para o pouquíssimo espaço que estou. Eu só ligo para sair daqui logo.

Assim que chego até a portinha, eu me estremeço toda. Com muita dificuldade, eu dobro os meus ombros. Então jogo os meus braços para frente com força total. A portinha do duto voa para longe. Puxo-me para fora do duto. A claridade me cega por alguns instantes. Saio do duto e consigo sentir uma brisa gelada de ar. Me jogo contra o chão e fico sentada por um tempo, me esticando no chão. Uma sensação muito boa me vem. Mantenho os olhos fechados por um tempo e me deixo espirrar, finalmente, tentando ser o mais baixo possível.

Abro os olhos com dificuldade, por causa do sol. Então, vejo Harry sair do duto. Ele cai no chão na minha frente. Eu teria rido se não tivesse caído da mesma forma. Ele se arrasta até o meu lado, esticando os músculos e fazendo uma careta de dor. Me deito no chão de concreto. O calor aqui fora é abafado pelo vento meio gelado que nos atinge com força. Balanço a cabeça e me levanto. Consigo enxergar melhor agora.

SinistraWhere stories live. Discover now