Capítulo Trinta e Cinco

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Estou descendo as escadas, pensando no que a médica falou. Não posso deixar de pensar que ela não é a única que deve estar me achando estranha. Acabei de passar por duas meninas que estavam rindo, mas pararam de rir no momento que me viram e começaram a me encarar de uma forma estranha.

O assunto novo do condomínio sou eu. Todos devem estar falando que eu sou uma mutante. E acho que estão certos. Será que eu estou infectada? Será que sou mesmo a tal "Escolhida"?

Sinto que as respostas para essas perguntas estão longe de mim. Bem longe.

Entro no refeitório. Vejo poucas pessoas aqui. Eu começo a andar, deixo meu cabelo caído para frente e minha cabeça baixa, para evitar que as pessoas me vejam. Olho para frente e vejo que não adiantou. Em segundos, estão todos olhando para mim. Corro para fora do refeitório.

Preciso encontrar James. Preciso saber se ele é igual a mim.

Sei que ele não é do meu prédio, então vou até o prédio em frente ao meu. Vou até a primeira pessoa que vejo e pergunto sobre James. Mas ela me ignora. Então, pergunto para outra pessoa. Sou ignorada novamente. Parece que todos tem medo de mim. Meu coração aperta. Esse monstro que vive dentro de mim finalmente se mostrou para todos. E isso é uma coisa ruim. Muito ruim.

— Claire? — ouço uma voz me chamar.

Olho para frente. Então, para os lados a procura de quem tenha me chamado. Meus olhos param em Ariana vindo em minha direção.

— Não acabamos de ir te visitar na enfermaria? — pergunta ela.

— Sim, mas a médica me liberou — explico.

Arrumo o meu cabelo e agora encaro Ariana.

— O que está fazendo aqui? Está procurando o Harry? — ela sorri maliciadamente.

— Não, estou procurando outra pessoa — digo. — Conhece James Foster?

Ela começa a pensar. As pessoas ao redor começam a reparar em mim. Tantos olhares. Isso vai me enlouquecer. Vejo um guarda, na frente da porta da garagem. Ele também está me observando. Sinto uma raiva ao lembrar dos papéis na mesa, dizendo que estão a procura de um tal "Escolhido". E se todos nesse prédio saibam disso. E se todos estão procurando essa coisa de Escolhido e trabalham para LPB?

— Acho que não — diz ela. — Ele não deve ser desse prédio. Se você quiser, eu te ajudo a procurar.

Eu a encaro. Penso novamente no que acabei de pensar. Zayn, a pessoa que comanda o nosso prédio, que eu confiava bastante. E se ela for igual a ele? E se Harry for igual a ele?

Não posso confiar em ninguém dentro desse condomínio.

— Não — digo. — Eu procuro sozinha.

Volto para fora do prédio. Ignoro os olhares das pessoas e vou até outro prédio. Esse prédio está mais cheio. Eu pergunto para uma pessoa qualquer, ignorando o fato de eles me acharem estranha. A primeira pessoa é um menino moreno. Ele diz que não conhece e sai de perto, praticamente correndo. Então, pergunto para uma mulher de cadeira de rodas e ela me ignora e ainda passa a rodinha da cadeira por cima do meu pé. Queria saber como ela sobe as escadas. Talvez com a ajuda de alguém.

Pergunto para um menino pequeno.

— Minha mãe me disse que não era pra eu falar com você — ele respondeu e saiu correndo.

Estou começando a me arrepender por não ter aceitado a ajuda de Ariana. Todos me consideram uma aberração. Igual a um dos monstros lá fora.

Começo a sentir falta de Harry. Mas meus pensamentos me dizem para não ir atrás dele. E se ele estiver junto com a LPB? Posso estar enlouquecendo, mas é um pensamento provável. Então eu pergunto para um homem que finalmente me responde algo útil:

— Acho que ele mora no prédio ao lado.

Finalmente. Saio do prédio com um sorriso. Vou até o outro prédio. O refeitório daqui é o mais vazio que vi até agora. E as poucas pessoas insistem em olhar para mim. Nem tento perguntar para alguém. Subo as escadas até o primeiro andar. Assim que abro a porta, uma pessoa aparece. É mais alto que eu e veste roupas pretas. Por algum motivo, penso ser James.

Mas assim que reparo em seu rosto, percebo que estou enganada. É Louis.

Ele passa por mim, quase me empurrando. Eu continuo o caminho. Antes de dar o terceiro passo, eu paro. Volto para as escadas e então olho para as costas de Louis.

— Ei! — digo. Ele se vira. — Qual o seu problema?

— Nenhum — diz ele, então dá meia volta e continua andando. Eu avanço atrás dele, para não perdê-lo de vista.

— Então por que está me ignorando? — pergunto.

Ele se vira. Eu devo estar certa. Ele gosta de mim. Eu não queria estar certa.

— O que você quer? — pergunta ele.

— Quero que pare de agir assim — digo. — Mas que droga! Dá pra pelo menos falar o motivo de estar assim?

Ele fica em silêncio. Eu sinto vontade de ir lá e dar um soco em sua cara. Um longo tempo passa e o silêncio paira sobre nós. Então ele finalmente abre a boca:

— Não é nada. Eu só estou um pouco nervoso ultimamente.

Ele força o pior sorriso que já vi na vida.

— Agora eu tenho que ir.

Então, ele continua a descer as escadas. Louis com certeza é a pessoa que eu menos entendo no mundo. Eu não sei o que ele quer. Ele não admite que gosta de mim. Talvez ele não goste mesmo e eu estou paranoica. Ou talvez ele seja da LPB também. Talvez nem nele eu deva confiar.

Então, eu ouço mais passos correndo de duas pessoas subindo as escadas. Harry e Ariana aparecem.

— Finalmente achamos você — diz Harry, colocando as mãos nos joelhos e respirando ofegantemente. — Ariana me contou que você estava procurando o James.

Ariana se senta na escada, resmungando pra Harry que não foi uma boa ideia correr tanto.

— Sim, você sabe onde ele está? — digo.

— Claire... — ele diz, tirando as mãos dos joelhos e agora olhando nos meus olhos. — Dan e James estão mortos.

SinistraWhere stories live. Discover now