Capítulo Vinte

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Estou em cima do prédio. No terraço. Está ventando muito. Tem muita neblina. Não vejo nada além da porta que daria para as escadas. Eu corro para ela. Mas ela não abre. Está trancada.

Olho para trás. Então, vejo que a ventania está parando. A neblina vai indo embora, junto com o vento. E o vejo. Na borda do prédio. Adam.

Ele vai pular. Corro até ele, o mais rápido que posso. Mas então, outra pessoa aparece atrás dele. Essa pessoa sou eu. Ela sorri para mim. Então, empurra Adam.

— Não! — grito.

Ela continua sorrindo. Fico brava. Algo dentro de mim perde o controle. Corro até a borda do prédio e sem hesitar, eu pulo com tudo.

Vejo-me caindo atrás de Adam. O prédio vai ficando maior. A distancia para o chão também. Parece que nunca vai acabar. Adam gira no ar. Eu vou em sua direção. Tento agarrar sua mão. Mas o vento acaba a afastando. Então, eu começo a dar impulsos no ar. Vou em sua direção mais rapidamente. Ele pede a minha ajuda. Seu corpo vai girando.

Grito seu nome. O chão para de se afastar da gente. Ele se aproxima. Estendo minha mão. Adam tenta pegá-la. Mas não consegue.

Seu corpo atinge o chão com tudo e se transforma em poeira. A ultima coisa que vejo é o chão bater na minha cara.

Acordo com um pulo. Meu coração está batendo forte. Coloco as mãos no rosto e tento relaxar. Ouço um barulho no banheiro e deduzo que Demi está lá. Vejo meu uniforme de Sinistra caído nos meus pés.

Levanto-me e o visto.

Quando estamos saindo, acabo tropeçando no diário que li ontem a noite. Após a página manchada de sangue, tem mais algumas coisas. Mas nada importante, como que ela foi para a casa de sua amiga e voltou tarde, então seu pai a colocou de castigo e outras coisas do tipo.

Guardo o diário na mesma caixa dos arcos que Zayn me deu.

***

Hoje o dia foi tranquilo. Não nos separamos. Nós investigamos um outro mercado próximo. Conseguimos alimentos. Não foram muitos, mas também não foram poucos.

Mas agora, temos que encarar isso. O funeral de Adam.

Meu coração aperta ao ver várias pessoas reunidas no térreo do condomínio, deixando flores em sua cruz. Cada pessoa que morre, recebe uma pequena cruz. Os Maléficos montam e a deixam pregada atrás do prédio em que a vítima morava. Normalmente, amigos e parentes deixam flores, pingentes e outras coisas penduradas no prego da cruz.

O nome de Adam está cravado na cruz. Eu me aproximo dela e encosto em sua cruz. Passo minha mão em um gesto de carinho. Então, afasto-me. Nunca fui a um funeral, nem quando tudo era normal e não existiam zumbis. Não sei exatamente o que acontece ou como funciona.

Olho para o lado e vejo que todos estão me olhando.

— Ela matou ele!

Diz um menino pequeno. Fecho os olhos e balanço a cabeça. Isso não é real.

Então, abro os olhos e vejo que não tem ninguém me olhando. E que eu estou ficando maluca. Ficar aqui só me faz sentir culpa. A culpa vai me consumindo aos poucos. Eu não posso mais ficar aqui...

Saio de trás do prédio e acabo esbarrando em alguém. Eu olho para a pessoa e meu coração aperta ainda mais.

— Harry... — digo.

Ele não diz nada. Apenas continua andando. Lágrimas começam a brotar do meu olho. Mas eu as afasto.

— Você estava certo — digo.

Ele para de andar, mas continua virado de costas para mim.

— Eu não consigo me defender sozinha. Sou fraca. — Admito, lembrando das palavras frias que aquele reflexo falou ontem. — E Adam morreu por minha causa. Porque eu preciso de muita gente me protegendo.

Ele se vira. Algumas lágrimas começam a escapar. Harry se aproxima e limpa as lágrimas do meu rosto.

— Ele não morreu por sua causa — diz ele. — E você não é fraca. Está tudo errado no que você falou. Só... não dá para salvar todo mundo.

Ele aproxima seu rosto e eu o beijo. Ele me beija de volta. Sinto o gosto de café em sua boca. Sinto vontade de ficar assim para sempre. Ele se afasta um pouco.

— Preciso ir — diz ele.

Balanço a cabeça, afirmando.

Ele se afasta e vai para trás do prédio, ver o funeral. Vejo uma menina com um garoto o abraçando, tentando consola-la. Ela chora desesperadamente. Se não fosse por mim, ela não estaria chorando.

Viro-me antes que minhas lágrimas comecem de novo. Sou pega de surpresa por Louis, um pouco mais à frente. Ele me olha sério. Parece um pouco bravo. Ele deve ter me visto com Harry. Será que ele está com ciúmes?

Passo por ele sem dizer nada. Tudo que eu não quero agora é meu chefe com ciúmes.

Observo o resto do funeral pela janela. Pelo menos daqui eu não ouço o choro das pessoas nem as vejo direito. Estou sentada no parapeito de dentro do apartamento, assim eu não corro risco de cair, pois essa janela está fechada.

Demi aparece pela porta com Niall. Ela se senta comigo e Niall fica de pé perto da gente. Andy corre para cheirar os dois.

— Oi — diz Demi. — Como foi o funeral?

— Horrível. Eu só sei que estou me sentindo culpada e que Harry me perdoou — digo. — Além disso, acho que Louis gosta de mim.

— O quê? — pergunta ela.

— Quando ele me viu beijar Harry, ele ficou bravo... Eu não falei nada. Não conseguia mais ficar lá.

— A culpa não é sua, Claire — diz Niall.

É sim. É culpa minha. Ele morreu por minha causa.

— Você está bem? — pergunta Demi.

— Estou — minto.

— Não está não — diz Niall.

— Não mesmo — diz Demi rapidamente.

Forço o pior sorriso falso do mundo para eles e eles dão risadas. Provavelmente meu sorriso foi engraçado mesmo. Demi começa a olhar pela janela também. Então, ela diz:

— Olha a desgraçada!

Dou risada ao ver para quem ela está apontando. Clarissa. Eu a vejo algo na mão. Não consigo ver direito daqui.

— O que é aquilo na mão dela? — pergunto.

— Um papel, eu acho... — diz Niall.

O que será que tem naquele papel? Lembro-me da vez em que forcei meus olhos e consegui ver um caminho escondido. Será que consigo fazer isso, mas em vez de ver através paredes, ver mais de perto?

Forço meus olhos. Sinto eles começarem a arder, mas ignoro. Minha cabeça dói um pouco também. Ignoro. Deixo minha visão se alongar. Então, consigo ver Clarissa de perto. Levo um susto ao conseguir. O papel está bem mais visível agora. Vejo que nele há algum simbolo. Uma caveira. Com o simbolo de infecção vermelho na testa.

LPB.

De repente, batem na porta. Levo um susto.

— Entre! — digo.

Então, a porta se abre e Harry aparece.

— Espero que não se importe... — diz ele, então Justin aparece. Logo depois Ariana. — Mas queremos saber quem eram aquelas pessoas que nos atacaram. Você parecia saber exatamente quem eram.

Então, de repente um vulto corre e para na minha porta também. Dylan?

— Desculpa, mas eu vi essa multidão e eu sei que eles não são desse prédio, então eu segui...

— Sai daqui! — diz Harry.

— Não... — digo. — Eu vou explicar tudo que sei. Para todos vocês.

SinistraWhere stories live. Discover now