Capítulo Quarenta

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Harry.

Vejo ele prender os braços dele com uma braçadeira de plastico. Merda. Tenho que salvá-lo.

— Olha o que encontramos aqui — diz o soldado que trouxe ele.

Seguro a escopeta com as minhas duas mãos e a aperto, com medo.

— Você veio com mais alguém, garoto? — diz um dos soldados.

Harry nega com a cabeça. Ele tenta disfarçar, mas sei que está me procurando. O soldado que o pegou começa à procurar armas no coldre de seu cinto.

— Mentir é feio e você sabe disso — diz o soldado. — Vasculhem tudo mais uma vez.

Eles vão me encontrar. Tenho que fazer alguma coisa. Sem pensar, eu me ergo com a escopeta na mão e coloco a ponta da escopeta nas costas do soldado que estava perto de mim. Parece que meu coração vai explodir.

— Soltem ele! — grito. — Ou esse aqui morre!

Várias armas são apontadas em minha direção. Eu tenho um deles nas mãos. Não podem me acertar. Então gelo. Sinto o toque gelado da ponta de uma arma na minha cabeça. Esbugalho os olhos e me viro. Vejo um fuzil encostado em minha testa. Penso que ele vai atirar, mas ao invés disso, recebo uma brusca batida na minha arma, o que a faz cair. O soldado me dá uma coronhada com seu fuzil e eu caio no chão. A dor é insuportável. Por um momento penso que vou desmaiar. Mas não posso. Minha cabeça lateja enquanto sou arrastada para perto de Harry.

Estou tonta e minha visão embaçada. Não consigo recobrar os sentidos. Estou muito zonza. Me colocam de joelhos ao lado de Harry. Isso está uma confusão. Sinto eles prenderem minhas mãos com uma braçadeira atrás das costas também.

— Procurem mais, devem ter mais espertinhos por aí — diz o soldado que me capturou.

Olho para Harry, que parece estar tão preocupado quanto eu. Nós estamos presos. Não tem como escapar.

Meus sentidos já estão recobrados, embora minha cabeça ainda esteja latejando um pouco. O ar frio de lá fora me atinge pelos furos que as balas fizeram. Acho que esfriou um pouco lá fora. Os alarmes continuam a tocar.

Tem uma coisa me incomodando desde que saímos do prédio. É um frio no pé. Como se algo gelado estivesse na minha meia. Algo como... Metal...

A faca!

Eu nem me lembrava mais dela. Ainda bem que eu coloquei na meia. Harry também deve estar com a sua. Ou deve ter caído na rua e nós não percebemos — o que eu acho mais provável, já que ele não fez nada até agora.

Sento-me em minhas coxas. Minhas mãos vão descendo de pouquinho a pouquinho. Os soldados que estão por perto começam a me encarar. Espero eles desviarem o olhar para continuar. Harry olha para mim, confuso. Não posso falar agora. Assim que os soldados voltam sua atenção para outras coisas, eu continuo.

Faço minhas mãos irem até as minhas meias e com os dedos, eu começo à tentar tirar a faca de lá. Estou com um pouco de dificuldade, pois a faca parece estar presa ali. Eu utilizo um pouco mais de força e tiro a faca. Agora ela está na minha mão. O soldado do meu lado me levanta pelo ombro.

— O que está fazendo? — pergunta ele.

Invento uma desculpa:

— Meus joelhos estavam doendo, aí eu sentei.

Ele volta a olhar para frente, mas mantinha o olhar desconfiado. Espero que tenha o convencido. Viro a faca na minha mão e começo a cortar a braçadeira. Não demora muito para ela arrebentar e me deixar com as mãos livres. Com os joelhos, eu vou para o lado demoradamente na direção de Harry. Então,  passo a faca para ele. Ele não expressa nada. É um ótimo ator.

SinistraWhere stories live. Discover now