Capítulo 129

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HUGO NARRANDO...

Dor... Eu sentia muita dor e falta de ar e tudo ficou escuro. Eu sabia que algo ia acontecer nessa festa, eu não queria ter ido, eu não amava mais meu curso como quando eu passei, e nem era pelo curso era pelo trote. Eu achava isso de trote coisa de idiotas. Idiotas fazendo os outros de idiotas para beberem de graça e se divertirem com a humilhação dos outros. Encontrei a Maria Elisa lá. Ela era uma menina muito bacana, gente fina demais, a conheci no primeiro dia de aula, a gente sentava junto desde o primeiro dia. Eu já a admirava tanto. Ela era tão diferente da Beatrice. Ah... A Beatrice... Eu estava com tanta raiva dela e eu tentava não sentir isso porque raiva é um sentimento muito forte. Quando ela me procurou dizendo que esteve grávida de um filho meu e fez um aborto por causa da faculdade eu não conseguia mais olhar pra ela. Agora eu entendia porque a mamãe tomou raiva da mãe dela quando elas foram namoradas. Ela era uma copia perfeita da Luiza Cezar. No começo eu senti muito ódio dela, e gritei com ela, mas esse não era eu. Minhas mães não me ensinaram isso... E ódio é um sentimento muito forte e é o mesmo que beber veneno e esperar que a outra pessoa morra, então eu não ia ficar sentindo isso por ela, eu só queria distância dela, eu não a queria na minha vida nunca mais, eu não queria encontra-la nunca mais. Ela não me deu a chance de tomar uma decisão junto com ela de uma vida que também pertencia a mim que era a vida do nosso filho. Isso mostrou muito quem era ela. Sim, o corpo é da mulher e ela decide sobre ele, mas eu gostaria de ter sido informado sobre a gravidez, eu gostaria de ter sido perguntado sobre essa decisão, de ter pensado numa saída junto com ela. Eu achei melhor não falar nada disso com as minhas mães, pelo menos não agora. Estava tudo tão estranho entre elas que eu não queria piorar, ainda mais que o fato de tudo estar estranho entre elas tem a ver com a Luiza Cezar mãe da Beatrice. Conversei com a Maria Elisa de manhã na faculdade naquela sexta feira e ela dizia que estava com um mau pressentimento sobre aquela festa. Eu liguei pra minha mãe e falei que não estava feliz em ir, mas era obrigatório, era a ultima festa dos trotes idiotas. Encontrei a Mali lá e ficamos juntos por lá. Até que ouvimos gritos e gente caindo, gente se queimando. Senti meu corpo arder, a Mali sumiu e tudo escureceu. Minha garganta queimava, meu corpo doía muito e eu não parava de tossir até que tudo se apagou de vez. Quando eu acordei, tinha um tubo na minha garganta e eu fiquei apavorado. Um homem de branco parecia me limpar, eu olhei para o lado e tinha um monte de máquinas, eu estava no hospital. Ele tentou me acalmar, e logo chegaram outras pessoas de branco e aos poucos fui apurando minha visão e minha audição. Eram médicos e enfermeiros, eu estava no hospital. Eu engasguei com o tubo, porque eu estava respirando sozinho então o retiraram. Minha voz não saia, sentia dor para falar, e uma ardência. Me levaram para fazer exames e quando voltei tive a visão daquele lugar. Eu reconheci algumas pessoas, eles estavam na festa também. Eu sabia que aquela festa daria errado.

XX: Hugo, você sofreu duas paradas cardíacas, e está com pneumonia química por causa de um produto altamente toxico usado numa festa na sexta feira. Você se lembra do que aconteceu? – eu parei um pouco.

Eu: Pou...co. A Mali? On...de?

XX: Não se esforça ok? – logo eu senti muita dor e me agitei. Me deram uma medicação e eu só chorava. Eu me lembrava. O Arthur usou uma coisa branca e muita gente se feriu, tinha gente queimada. A Maria Elisa correu para se proteger e me gritou. Eu cai e alguém caiu por cima de mim. Logo vi minha mãe e minha irmã.

Mãe Pri: Filho... filho... se acalma... Está tudo bem agora, fica calmo. – tocava meu rosto.

Helena: Logo você vai pra casa, fica calmo. – aos poucos eu fui me acalmando e dormi. No dia seguinte eu acordei num quarto diferente. Um psicólogo veio falar comigo.

XXX: Hugo... Eu sou Marcos França, sou psicólogo aqui do Barra Dor, como se sente?

Eu: Cansado – minha voz saia baixa e minha garganta ainda doía.

XXX: Eu imagino. Hugo, você se feriu numa calourada, na casa do Arthur na sexta feira, se lembra?

Eu: Sim. Um pouco. Foi muito... rápido.

XXX: Você sofreu duas paradas cardíacas, pneumonia química e queimaduras de primeiro grau nas pernas e no braço esquerdo. Suas queimaduras foram desbridadas enquanto você estava em coma induzido.

Eu: Que... dia é hoje?

XXX: Hoje é sexta feira. Você ficou em coma por sete dias – eu arregalei os olhos.

Eu: Quando... eu... vou pra... casa?

XXX: Em duas semanas no máximo. Depende do seu desempenho na fisioterapia.

Eu: Alguém... morreu?

XXX: Sim... seis pessoas infelizmente. – fiquei com medo da resposta, mas eu queria saber.

Eu: A... A minha amiga... Mali? Ela... Ela está viva?

XXX: Mali?

Eu: Maria Elisa Medeiros. O nome dela. Ela... ela é da minha... sala. – ele pegou um tablet digitou algumas coisas.

XXX: Segundo os registros, ela acordou a três dias, está no quarto se recuperando. Em alguns dias ela deve ir pra casa. – eu suspirei aliviado. Ele falou muitas coisas e foi embora. O cirurgião plástico veio e me falou das minhas queimaduras que não eram muitas, mas eu já estava cicatrizando e não precisaria mais de desbridação e eu ficaria com marcas, que poderiam ser reparadas depois de alguns anos de cicatrização total. Minhas mães foram me ver, e elas estavam preocupadas, com cara de cansadas, elas com certeza não estavam dormindo direito a uma semana. Minha mãe Natalie estava cuidando de tudo sobre a minha amiga Maria Elisa, ela não tinha plano de saúde e ela e a mamãe estavam arcando com tudo. Minha mãe Pri pagou os dias que ela ficou sem a cobertura de um plano de saúde e a minha mãe Natalie a colocou num plano de saúde da empresa dela para sair mais rápido em caráter de emergência. A mamãe estava junto com outros pais processando o veterano que causou tudo isso na festa. Eu tinha que prestar depoimento, a maioria que já estava consciente já tinha prestado e eu prestei na segunda feira. Falei como foram todos os trotes. Nessa mesma segunda foi o dia que me deixaram ver a Mali.

A GRANDE FAMÍLIA SMITH-PUGLIESEOnde as histórias ganham vida. Descobre agora