Capítulo 92

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Eliane: Essa mediação foi marcada, para que chegássemos num acordo, para a senhora e as crianças conviverem amigavelmente. Porque reaver seus filhos legalmente isso não acontecerá em nenhuma instância, em nenhuma esfera judicial.

Rosana: Eu não sou um monstro, eu não sou má pessoa, eles não podem continuar me vendo como má pessoa...

Helena: Me desculpe, mas nós estamos aqui... Meu irmão e eu... As principais pessoas envolvidas nesse caso... As principais pessoas sofrendo nesse caso todo. Isso aqui não é sobre ela, é sobre nós. Porque está girando em torno da vontade dela? Eu sou uma pessoa, meu irmão é uma pessoa e estamos aqui. Vai mesmo deixar de lado o que nós duas como pessoas pensamos sobre tudo isso?

Eliane: Helena, cada um terá sua chance de falar.

Helena: Me desculpe, mas eu não estou percebendo isso. E outra coisa, não dei permissão para ter meu endereço exposto, agora eu vou me sentir mais vulnerável ainda com essa senhora sabendo até onde eu moro. Eu vou para o colégio e volto com medo todos os dias.

Eu: Helena, filha... Por favor...

Helena: Não mamãe... Os nossos interesses devem ser preservados e colocado em foco aqui e nós estamos aqui parecendo dois bonecos numa vitrine com 3 pessoas disputando. Eu nem deveria estar aqui, eu deveria estar no colégio, eu tenho aula até as 15:30 hoje e estou aqui sendo forçada a algo que eu não quero e a viver uma vida que não é minha.

Nat: Filha... Calma... – ela ficou sem saber o que fazer. Acho que ela nunca foi confrontada. A Lohana segurava para não rir.

Eliane: Helena e Hugo... A Rosana já recebeu diversas visitas de assistentes sociais, e ela tem um lar estável, ela é uma boa pessoa, o passado dela ficou no passado. Nós entendemos toda a sua angustia, a sua mágoa com relação a isso tudo que aconteceu com você e com o seu irmão. Mas gostaríamos que tentassem ter uma convivência com ela, conhecer os irmãos de vocês, seremos amigos dela. Não precisam chama-la de mãe se não quiserem.

Hugo: Mas isso não vai acontecer nunca. Isso aqui não deveria nem tá acontecendo, que dirá chama-la de mãe. Minha mãe se chama Priscilla e a outra Natalie. Essa senhora aqui não é nossa mãe, ela nunca foi nossa mãe. E forçar uma convivência só vai fazer tudo isso ficar pior. Se ela não tivesse nos perseguido na porta do colégio, se ela tivesse feito as coisas corretamente, a gente poderia talvez pensar em conhece-la. Mas não... Ela nos perseguiu por 3 dias na porta do colégio na frente dos nossos amigos. A Helena acorda de madrugada até hoje sonhando com alguém a perseguindo. Isso não é legal. Eu me lembro do que eu vivi. Eu não como macarrão porque eu me lembro de comer macarrão azedo porque ela me deu e eu estava faminto. – ela chorou. – Mas ela poderia ter feito isso de uma forma totalmente diferente e não fez... Então não... A gente não quer.

Eliane: A gente entende as ressalvas de vocês... Eu entendo perfeitamente, mas gostaria que vocês tentassem. Tentem... Um encontro, uma tarde. Vão até a casa dela, almocem com ela e com os irmãos de vocês. Vocês podem ser amigos, não precisamos fazer disso uma guerra.

Hugo: Pelo visto a gente não tem escolha né? Vamos para o abate.

Helena: Fazer o quê... – bufou.

Lohana: Alguma coisa a dizer Natalie e Priscilla?

Nat: Eu só quero que meus filhos fiquem bem. Não quero vê-los sofrendo. Não quero vê-los sendo obrigados a viverem uma vida que não é mais a vida deles. Eles vão tentar, contra a vontade deles, mas se não der certo, eu tiro meus filhos do país, mas essa mulher não coloca os olhos neles mais.

Eu: Finalmente eu posso falar... Meus filhos estão sendo obrigados a conviverem com a pessoa que quase os matou, que tentou vende-los a troco de drogas, que os agrediu, que os maltratou de todas as formas. Eu como juíza, jamais ia expor dois adolescentes a reviverem um passado com tanto sofrimento e amargura como esse, mas parece que a promotoria não tem o mesmo conceito não é mesmo doutora Eliane? Eu não dei permissão para expor meu endereço, e isso é perguntado quando a gente chega. Eu sei, eu sou juíza eu já fui promotora. Meus filhos estão expostos, assustados, com medo, mas estão sendo obrigados a viverem isso. Tudo bem... Mas quero deixar claro aqui, que a promotoria vai assumir todo e qualquer dano emocional que isso causar nos meus filhos, principalmente se houver algum dano físico. E outra coisa... Dona Rosana – olhei pra ela – Eu sempre soube que a senhora estava procurando meus filhos, mas eu não podia te dizer, porque é sigilo judicial e a senhora sabe disso e o seu advogado na época cometeu inúmeros crimes expondo meus filhos. Mesmo assim... Se a senhora tivesse em posse dessas informações, e viesse me procurar, apesar do processo que eu ia abrir contra a senhora, eu perguntaria sim aos meus filhos se eles queriam te ver, te conhecer, te encontrar. E se eles quisessem, eu ia intermediar com a minha esposa essa visita. Eu jamais impediria meus filhos de conhecer você se eu soubesse onde você estava e isso fosse um desejo deles. Os meus filhos tem liberdade para serem o que quiserem, para falarem o que quiserem. Eles tem um senso critico e um pensamento próprio além de mim e da minha esposa. Eles são bem instruídos, eles estudam muitas coisas além das matérias do colégio, minha filha acabou de voltar da Argentina numa apresentação com a escola de ballet dela e voltou encantada com os museus que ela visitou. Meus filhos não são adolescentes que ficam 24 horas no celular, que ficam ouvindo musicas que denigrem pessoas, meus filhos não são mal educados com os outros, eles não são riquinhos do Leblon que não dao um bom dia para as pessoas. Eles tem consciência de classe, tem local de fala e sabem quando eles tem que se calar porque a realidade que eles vivem é diferente da realidade de muita gente. Eles estudam num dos colégios mais caros do Rio de Janeiro falam em inglês o dia todo em casa, mas conhecem as realidades em volta deles, além daquela que vivem no colégio que só tem milionários. Eles são privilegiados, mas não são alienados. E por não serem alienados, a gente nunca falou mal da Rosana ou do Marcos pai biológico, a gente nunca invadiu o espaço deles tocando nas feridas deles se eles não quisessem falar. Então nada disso aqui era necessário. – deixei Eliane sem palavras. Ela por fim encerrou a mediação com a Rosana assinando o compromisso do que foi dito, eu e a Natalie também assinamos e foi encerrado. Logo o dia seria marcado e nos avisariam. Hugo e Helena foram para o carro na frente, eles não queriam falar com ela e nós respeitamos.

A GRANDE FAMÍLIA SMITH-PUGLIESEWhere stories live. Discover now