xl. QUARTA FEIRA

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Íamos gravar o clipe hoje, seria gravado na casa dos meninos e em uma lanchonete próxima ao local, iremos  começar as filmagens as duas e acabaríamos somente meia noite, caso tudo andasse como planejado. Eu expliquei para a minha chefe que hoje teria um trabalho de freelancer e não poderia ir, ela ficou super animada e disse que, quando eu chegasse no dia seguinte, iria para a sua sala contar tudo sobre como foi, como o Otávio foi se arrumar, o Leozin que me pegou na faculdade assim que minha aula acabou. Eu usava uma regata branca e uma calça moletom preta e ele usava uma calça igual a minha, porém masculina e uma blusa branca lisa.

— Pessoal sem estilo é foda – Ele murmurou de forma irônica e aumentou o som, estava tocando Lil Pump, eu odiava Lil Pump.

— Música bosta do caralho.

— Você quer ouvir bossa nova, caralho? Tá achando que tá andando com o seu namoradinho?

— Se foder, Leozin – Respondi rindo.

— O que o seu engomadinho acha de você e do Tavin estarem gravando um clipe juntos.

— Um, a opinião dele seria irrelevante para mim caso ele tivesse dado; dois, eu terminei com ele.

— Antes ou depois do Tavin lançar "pétalas"?

— E por que isso teria relevância para a situação?

— Entendi, Tavin lançou uma música repleta de indiretas para você e sobre vocês, te chama para gravar o clipe dele por motivos lógicos de que vocês ainda se gostam, você termina, mas nada disso tá interligado, entendi

Senti minhas bochechas corarem.

— Mas eu to tão errado que você ficou vermelha igual um pimentão, não é?

— Eu e ele somos passado, já passou, nada bom surgiria de uma nova tentativa de relacionamento entre nós dois.

— Vocês tão me lembrando o Apollo e a Lia, não quero que isso se repita.

— Então você sabe o que rolou entre eles dois?

— Sim, você não?

— Não.

— É que é meio tópico proibido, pode ser por isso.

— E você vai me contar?

— Não sei, será que eu devia? – Perguntou com um tom de humor e eu revirei os olhos – Você sabe que te conto tudo.

— Pois conte.

— Há alguns anos atrás, a Lia tava fazendo uma pesquisa para escola sobre rap e cultura negra, alguma coisa assim, era de história, enfim, ela começou a ir nas batalhas e conheceu o Apollo, foi algo bem imediato entre eles, tipo, a conexão, ele chamou ela para sair e levou ela no mc assim, mas ela gostou, ela disse que nenhum menino tinha sido tão sincero com ela sobre as coisas e o nunca tinham pagado a conta para ela antes, você sabe, o Rogério é bem charmosinho e ele que ensinou as manhas pro Tavin sobre isso, enfim, eles começaram a namorar, os pais da Lia não aceitaram muito bem porque, você sabe, Lia é podre de rica e queria namorar um menino que malmente tinha dinheiro para passagem do ônibus, enfim, eles mandaram a Lia para Itália por um tempo e o Apollo acabou desistindo dela, mesmo que ele gostasse muito dela e soubesse que ela gostava dele. Agora ele tá com outra mina, eles não tem nada sério, mas ele gosta dela e vice versa, porém nenhuma menina nunca foi para ele o que a Lia foi.

— Ah.

— Você e o Tavin se dão bem juntos, você vai mesmo acabar com o que vocês tem por outra pessoa?

— A outra pessoa é minha mãe, Leo.

— Sei disso, mas, enfim, é meu ponto de vista da situação, eu sei que validação de mãe é algo importante, mas não é ela que tá sofrendo, é você.

Nós chegamos, eu agradeci mentalmente por isso. Desci do carro e o Leozin me seguiu, quando eu entrei, vi que o Otávio já estava tentando apertar os botões da camisa, eu ri e me aproximei dele, fechando-os por ele, sua primeira reação foi sorrir para mim e beijar o topo da minha cabeça, ele era tão cheiroso que eu podia morrer sem ar de tanto tentar sugar o cheiro dele para dentro de mim.

— Você acha que tá bom uma blusa branca mesmo? – Perguntou enquanto vestia o sobretudo. Tá, tava bonito, mas não gostava o suficiente.

— Vou pegar uma blusa preta sua, pode ser? – Ele concordou com a cabeça.

Eu subi as escadas o mais rápido possível e entrei no quarto dele, notei que tinha um quadro com uma foto nossa no seu criadomudo que, previamente, não existia, era uma foto nossa em uma batalha, ele estava usando um moletom branco e eu estava usando um preto, ele estava com os braços ao redor dos meus ombros e beijava a minha cabeça enquanto eu estava com a câmera no pescoço e meus olhos estavam fechados e tinha um sorriso enorme no meu rosto. Eu gosto muito dele. Muito mesmo.

Fui até o seu armário e peguei uma blusa que estava na cruzeta preta de botões, sai do quarto e fui até onde ele estava, entreguei a blusa para ele, que me agradeceu e desabotoou a blusa que estava usando antes, agora colocando a nova, eu ajudei ele novamente a abotoar a blusa, deixando três botões abertos, depois coloquei o sobretudo e, bem, ele estava bonito.

Depois disso, nós gravamos alguns takes dele sentado em uma poltrona cantando a música, foi divertido, o Leozin acabava rindo do Otávio tentando flertar com a câmera e precisávamos gravar a cena de novo, depois de acabarmos essas, partimos para a que ele ficava deitado em várias rosas vermelhas, a priori, era para elas serem brancas, ele definitivamente não tinha vergonha em deixar explícito que a música era sobre mim, mas acabamos por achar vermelhas melhor.

Assim que acabamos as cenas de terno, ele trocou de roupa colocando uma blusa manga comprida branca, uma calça jeans e um avental azul, depois seguimos para a lanchonete de bairro que gravaríamos as últimas cenas, lá teriam alguns figurantes, o que tornou a experiência um pouco desconfortável para ele.

— Tá tudo bem? – Perguntei para ele durante um dos takes que deu errado, ele negou com a cabeça e respirou fundo.

— Em casa, era como se estivesse só nós dois, aqui tem mais gente, é estranho.

— Você quer ficar sozinho comigo, é? – Ele riu e empurrou meu ombro de leve.

— Você é idiota demais, puta merda, tio.

— Finge que ainda estamos só nós dois, sou eu que estou atrás da câmera, pensa nisso.

— Você acha que eu to bonito?

— Hum, dá pro gasto.

Ele riu e se organizou novamente para regravarmos a cena, que depois disso, começaram a sair com perfeição, quando tudo acabou, notamos que estava chovendo do lado de fora, eu estava pensando na chuva que teria que pegar para entrar no carro, mas o Otávio tirou a própria blusa e colocou em mim para que eu não me molhasse, depois correu até o carro e deixou a porta aberta para que eu conseguisse entrar correndo me molhando o mínimo possível, em contrapartida, ele estava encharcado.

Ele estava todo molhado, lindo e despenteado. Eu gostava tanto dele.

— Você tá bem? – Perguntei e ele concordou com a cabeça – Você não tá com frio?

— Irrelevante.

— Isso é um sim?

— Você se surpreenderia com a quantidade de vezes que eu já passei frio para que você ficasse aquecida, eu não ligo para isso, de verdade.

— Você pode me deixar direto no metrô?

— Com essa chuva? Não, eu te levo até a sua casa.

— Mas é longe e já são duas da manhã já que as filmagens atrasaram.

— Eu não ligo, eu posso te deixar lá.

— Eu não vou conseguir aceitar isso.

— Então dorme na minha casa.

— Pode ser.

— Pode?

— Sim, ué, somos amigos.

jorge maravilhaWhere stories live. Discover now