xx. SEGUNDA FEIRA

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Tirei minha roupa e tomei um banho gelado para tentar relaxar, depois me deitei na cama e peguei meu celular, tinha uma mensagem do Tavin avisando que finalmente tinha chegado em casa.

Quando eu namorava meu ex, eu não costumava sentir saudade dele quando ele viaja ou a gente não conseguia se encontrar na semana, mas, com ele, eu estava sentindo tanta que falta que meu peito doía, além de que minha comida era péssima comparada a dele. Vesti um moletom dele que ele esqueceu na minha casa, coloquei um short de pijama e decidi responder a mensagem dele, avisando que eu também já estava em casa e me deitando de bruços na minha cama, em seguida, a tela do meu celular é invadida com a imagem dele indicando que ele estava me ligando, atendi e coloquei o celular no viva a voz, depois posicionei ele no meu peito.

— Como foi seu dia? – Ele perguntou.

— Normal, mesma coisa de sempre, mas eu senti sua falta – Coloquei minha vergonha de lado e falei o que eu estava sentindo.

— Eu também to com saudade, Linda, muita.

— Como foi o seu dia? – Perguntei, em seguida, ouvi um suspiro alto e visivelmente estressado.

— Péssimo, odeio ficar perto do meu pai.

— Por que?

— Ele é complicado, sabe?

— Você se sente confortável em aprofundar?

— Sim, sim – Murmurou e notei pelo som que vinha do telefone que ele se moveu na cama – Ele não gosta que eu seja mc, ele queria que eu fizesse faculdade, mas, sei lá, eu malmente consigo fazer ensino médio, sabe? Como eu vou fazer um curso superior? Além disso, eu não quero fazer faculdade.

Eu queria julgá-lo, mas, eu acho que, no fundo, entendia o Otávio, ele já tinha seu trabalho próprio, independente do que seu pai queria.

— Eu parei de batalhar quando eu era mais novo por isso, eu podia ter um puta nome de destaque agora, mas não tenho porque eu ouvi ele, eu podia já ter álbum lançado e os caralhos, mas eu decidi ouvir ele e parar de batalhar ou investir nisso; eu sou bom, eu sei que eu sou bom, mas eu nunca vou ser bom o suficiente para ele.

— E você quer ser bom para você ou você quer ser bom para ele?

— Não importa, mesmo se eu fosse o melhor, para ele, eu ainda não seria bom o suficiente.

— E o que você quer?

— Em que sentido?

— Você quer ser o melhor porque você quer ser bom o suficiente por você e pela sua carreira ou você quer ser o melhor porque você quer que ele te veja como bom o suficiente?

Ficamos em silêncio por alguns segundos, pude ouvir sua respiração pelo telefone e desejei que pudesse ver seu rosto enquanto ele pensava na resposta sobre isso, mas, como não podia fazer isso, ouvir sua respiração e imaginar como ele estava era o suficiente para mim.

— Nunca pensei nisso.

— Você é bom, Vida, muito bom, me arrisco a dizer que um dos melhores, mas você vai se atrapalhar fazendo isso por outra pessoa, você tem que fazer por você. Mas, eu também sou hipócrita, então, se você não conseguir fazer isso, tá tudo bem.

— Por que você é hipócrita?

— Eu tenho uma irmã mais velha, ela faz medicina, ela é bem desligada dos meus pais e de mim, desde que eu fui embora, nós nos falamos uma vez no mês, quando nos falamos; mesmo que eu faça USP, mesmo que eu more em São Paulo e consiga ser mais presente que ela, que mora com eles, na vida dos meus pais, faça estágio no segundo semestre e etcetera, nunca vai ser suficiente, ela sempre vai ser melhor aos olhos dele, mais carinhosa, mais inteligente e também vai ser mais bem sucedida aos olhos deles, mas, enfim, eu faço tudo o que eu faço por eles.

jorge maravilhaWhere stories live. Discover now