ii. SEGUNDA FEIRA

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Pela primeira vez em uma quantidade de tempo considerável, eu acordei atrasada para a faculdade, consequentemente, ao ver a hora, eu corri para avançar o que eu podia fazer; tomei um banho rápido, vesti um vestido longo preto de alça fina aleatório, peguei minha mochila, uma maçã e sai correndo - no sentido literal - da minha casa para tentar chegar a tempo na aula.

Assim que eu cheguei, vi que a Marisa, professora de História do Livro no Brasil ainda não tinha entrado e que meu lugar de sempre ainda estava vago, então, sentei-me e acenei para a Raissa e para o Matheus.

— A Raissa me contou do seu novo namorado, Lulu – Matheus disse animado e minha única reação foi revirar os olhos e abrir minha mochila, logo em seguida vendo a blusa do menino que eu não lembrava o nome.

—Raissa, você que frequenta esses ambientes – Iniciei a fala e tirei a camisa do garoto de dentro dela, depois coloquei na mesa da Raissa – Podes entregar para ele essa blusa?

— Posso sim, mas você não prefere entregar você mesma para seu namorado?

— Porra, de onde surgiu isso? Eu só falei uma vez com esse menino, pelo amor de Deus.

— Vocês têm química, sei lá. Ah, ele também pediu pra um amigo meu perguntar para mim qual era o seu nome.

— Por que ele queria saber meu nome?

— Ele não deu motivo.

— E você falou meu nome?

— Imaginei que você não fosse gostar disso.

— Não acredito que você fez isso, Raissa! – Matheus falou em um tom de voz alto com humor e minha única reação foi revirar os olhos.

— Ele tem dezessete anos, Matheus!

— Eu sou um ano mais novo que minha namorada, e aí, Luma?

— Eu gosto de homens mais velhos – Disse brevemente.

— E se ele for sua exceção?

— Não existem exceções nesse caso.

— Para uma marxista, você tá bem conservadora pro meu gosto – Raissa falou e minha única reação foi revirar os olhos.

Para a minha sorte, a professora entrou e a conversa sobre o menino cujo nome é desconhecido pela minha pessoa e um possível interesse romântico por mim se encerrou. Todavia, mesmo que eu não quisesse, a imagem dele, dessa vez, ficou na minha cabeça, era quase como um hiperfoco espontâneo em um tópico aleatório, mas esse tópico era uma pessoa e eu definitivamente não queria descobrir o nome dele.

Quando a aula acabou, fiz o mesmo de sempre, mas, dessa vez, o Matheus decidiu que ia almoçar na sua própria casa, então eu fui para a fila sozinha, eu não tinha problema com ficar sozinha, mas, neste momento, tudo o que eu queria era alguém para conversar para que eu conseguisse parar de pensar no me4smo acontecimento várias e várias vezes. Para a minha sorte, eu vi a Lia, uma amiga minha que fazia letras, se aproximando da fila e, em seguida, ela acena para mim de forma gentil e, de certa forma, fura a fila.

— Quanto tempo, acho que não te vejo desde o semestre passado – Ela diz com um sorriso cativante no rosto.

— É, você andou meio sumida.

— Passei as férias fazendo um intercâmbio de língua para aprender italiano.

— Nossa, que legal! – Respondi com um sorriso simples.

Eu sempre esquecia que a Lia era milionária, os pais dela eram donos de alguma empresa que trabalhava com água, eu acho e, enfim, ela era tão rica que fazia faculdade por hobby; seus cabelos eram castanhos e sua pele era pálida, tinha um nariz muito bonito e olhos verdes, ela era mais velha que eu, ela fez um ano de cursinho e atualmente estava no quinto semestre do curso, nós nos conhecemos em uma palestra da Lilia Schwarcz no semestre passado, bem no começo do ano e, desde então, nos tornamos inseparáveis.

Enquanto não chegava nossa vez na fila, eu e ela ficamos conversando sobre sua viagem para a Itália, assim descobri que ela estava namorando um italiano que ela conheceu lá, o nome dele era Wyatt e ele jogava tênis profissionalmente, mas não era famoso nem nada, ele era de uma família rica também e aparentavam adorar ela.

Depois do almoço, o garoto tinha saído do primeiro plano da minha mente, então consegui tomar banho e me arrumar para o estágio sem pensar nele. Eu coloquei uma calça jeans preta com uma pegava boot cut e uma blusa de botão com listras brancas e ciano, meu cabelo estava com a selagem em dia, então decidi ir de cabelo solto, para finalizar, coloquei um mocassim preto e segui até o metrô.

O dia foi tranquilo e sem muita demanda, o que me ajudou a estudar para o meu artigo, mas acabou me dando espaço para pensar novamente na pessoa sem nome. Eu senti vontade de vomitar, eu só queria parar de pensar nele, o que estava acontecendo comigo?

— Está ocupada, Luma? – Escutei a voz da dona Camila.

— Não, senhora.

— A entrevista vai ser na quarta, você pode ir? – Confirmei com a cabeça.

— Claro que sim

— Tá bem, na quarta, eu te dou um documento com as informações básicas sobre ele que você precisa saber, não precisa ficar nervosa e, como não vai ser televisionado, eu te indico ir com um look mais casual, para ele se sentir confortável e você também. Por fim, me encontre aqui na porta, vou te levar lá de carro e acho que vai ser legal, não se preocupe muito, vai dar tudo certo.

Antes que eu falasse qualquer outra coisa, ela saiu da sala e me deixou sozinha com os meus pensamentos, consequentemente, minha mente voltou a criar cenários em que eu e o menino sem nome nós encontrávamos, conversávamos e ele era alguém que provavelmente seria importante para mim.

Quando meu expediente acabou, eu fui para casa, cheguei umas oito horas e fui surpreendida com uma mensagem da Raissa:

jorge maravilhaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora