xxv. DOMINGO

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Fui acordada com a campainha, era triste dormir sem o Otávio, eu acordava me sentindo sozinha e demorava muito para dormir, quando ele dormia comigo, nós ficávamos conversando até os dois pegarem no sono. De qualquer forma, eu estava usando um short de pijama e uma regata do Otávio, que ficava confortável em mim, então abri a porta e segui para a porta, vendo a minha mãe com os olhos marejados, minha única reação foi abraçá-la e deixá-la chorar em mim, como sempre, era visível o quão abalada ela estava, passei meus dedos pelos seus fios de cabelo tentando acalmá-la.

— Ele fez de novo, eu vi no celular dele, de novo, ele continua com a Samantha, filha.

— Meu Deus, Mãe – Foi a única coisa que eu falei enquanto afagava seus cabelos, eu não sabia mais o que dizer, eu deveria saber?

— Por que ele faz isso? Por que ele me machuca tanto?

Fiquei em silêncio ouvindo seus soluços aumentarem, não importa o quanto eu fugisse desses momentos, eles sempre me seguiriam, independente de onde eu estivesse. Enquanto ela me abraçava e chorava, minha mente se encontrava distante dali, daquela situação e daquele envolvimento emocional em que nós duas, na mente dela, estávamos.

Eu me imaginava com o Otávio em alguma livraria distante na Itália ou na Irlanda, eu estaria com algum livro da Sylvia Plath que nunca tinha encontrado em outro lugar enquanto ele pegaria algum livro do Aristóteles e reclamaria sobre como ele era prepotente ou algo do tipo, nós dois acabaríamos indo tomar café em um local próximo, eu pediria um croissant e um café preto enquanto ele pediria um achocolatado e um misto, eu diria que ele tinha um paladar infantil e ele iria responder que eu tinha alma de velha.

Era bom pensar no Otávio e nas coisas que vivíamos juntos, mas, quando minha mãe chorava em mim e eu lembrava de como era o relacionamento dos meus pais antes de ela descobrir a traição, eu sentia medo, meu pai era uma pessoa diferente e atualmente eu tenho uma visão distorcida e confusa sobre quem ele era, sobre o que ele representava para mim e se eu ainda amava ele tanto quanto antes, ou pelo menos amava ele da mesma forma que antes ou se agora era um sentimento diferente. De qualquer forma, o relacionamento deles me fazia ter medo do meu, meu pai demonstrava o amor pela minha mãe de todas as formas possíveis, quase como o Otávio fazia comigo, o que me garantiria que ele não seria igual?

Ela passou um tempo considerável me abraçando enquanto chorava e minha única reação foi ignorar, fingir que aquilo não estava acontecendo na minha frente, quase como uma válvula de escape, eu não queria lidar com essa dor, eu amava minha mãe e odiava ver ela daquela forma, mas eu também tinha aprendido que aquela dor não era minha, a traição era contra ela, não contra mim, eu não podia deixá-los sugar minha energia para lidar com essa situação.

— Eu sinto tanta sua falta... – Ela sussurrou para mim, eu parei de dissociar e me senti ali – Você faz muita falta.

— Eu também sinto sua falta.

Era verdade, eu podia negar, mas nada se comparava ao abraço da minha mãe, sentir o seu cheiro e tê-la perto de mim, ela se afastou do meu ombro e fez contato visual, seus olhos e nariz vermelhos, seu rosto cabia perfeitamente na minha mão, ela era minha mãe no final de tudo, eu era ela e ela era eu, nós podíamos ser pessoas distintas mas sempre seríamos um só de alguma forma, querendo ou não, eu e ela já tínhamos sido um só, mesmo que agora pudéssemos nos afastar, continuaremos sendo só uma emocionalmente.

— A Luíza é tão distante emocionalmente, meu amor, você não, você é meu porto seguro, Luma, eu não consigo seguir sem você e você tem estado tão distante, mais distante que a sua irmã, o que eu faço para melhorar? Você tem ficado sozinha aqui?

— Tenho ficado com o Otávio, ele é uma boa companhia, cuida de mim – Sou honesta, ele era mesmo, o que eu podia fazer? Era a realidade.

— Você sabe que eu não gostei dele.

— Mas eu gosto.

— Você confia em mim, filha? – Confirmo com a cabeça – Então escute a mamãe, eu sei que você não é criança, mas eu queria te avisar que esse menino não presta, ele não é bom para você, meu amor, mãe sempre sabe, você devia se afastar.

— Mas eu realmente não quero fazer isso, Mãe, eu acho que você teve um pensamento precipitado sobre ele, ele me trata bem e é um amor, ele é gentil e carinhoso, prestativo e cuidadoso, eu não quero perder ele porque a senhora está com um mal pressentimento sobre ele e sobre as intenções dele.

— O que acha de fazermos um acordo?

— Fale sobre.

— Pede um tempo durante esse tempo que vamos voltar, se você achar que realmente ainda gosta dele, vocês continuam juntos, se não, você termina de vez, o que você acha?

Respirei fundo, pelo menos ela me deu a opção de decidir voltar caso eu quisesse, significava que eu teria a opção de escolha, mas como eu conversaria com o Otávio sobre isso?

— E como eu falo com ele sobre isso? E se ele falar tipo "tudo ou nada"?

— Se ele realmente sentir o mesmo por você, ele vai respeitar a sua decisão e se ele falar isso de "tudo ou nada", você escolhe o nada e espera para ver como ele vai reagir, eu neguei seu pai várias vezes antes de ficar com ele, mas ele gostava de mim e insistia em tentar ficar por perto; se esse menino realmente gostar de você, ele não vai desistir tão facilmente desse relacionamento, mas, você tem que ter noção de que ele é um adolescente e você também, esse sentimento que vocês tem vivenciado agora são mais os hormônios e as emoções de estar apaixonado do que realmente amor.

Ela falou algo plausível, eu realmente era muito nova e ele também, talvez nós dois só nos sentíssemos muito solitários e encontramos alguém que era da mesma forma que nós dois, ela poderia ter razão sobre isso, o quanto eu amava o Otário? Eu trairia ele com alguém? Tipo, Megan Fox pediu para ficar comigo, eu vou fundo ou digo que não porque eu namoro? Eu realmente amava ele?

Eram inúmeras perguntas norteadoras para uma explicação que eu não tinha a resposta, é complicado demais pensar sobre o que vivemos, eu me senti viva e bem desde que ficamos juntos, mas eu gostava de me sentir assim? Eu queria melhorar e ser feliz? Eu me achava digna de felicidade?

Eu odiava quando a minha mãe me fazia pensar por outras perspectivas e ela sempre fazia isso quando nós íamos uma contra a outra. Minha mãe me conhecia tão bem que eu ficava assustada, ela sabia como agir e como falar, mas não podia julgá-la, como disse anteriormente, nós já fomos e sempre seremos uma só.

jorge maravilhaWhere stories live. Discover now