xxxiv. TERÇA

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Eu tinha acabado de entrar no meu campus quando recebi uma ligação do Apollo, minha primeira reação foi atender.

— Luma, desculpa a hora, mas to precisando de você – Ele disse com uma voz cansada, era evidente que alguma coisa estava dando errado.

— Para o que exatamente?

— Onde você tá?

— Na faculdade, por quê?

— Você pode vir para casa dos meninos?

— Posso, mas eu preciso saber o motivo.

— O Otávio não tá bem e ele precisa de você, sei que é uma situação chata, até porque ele é seu ex, mas, eu imagino que você entenda, eu te falei sobre isso por alto.

Respiro fundo, eu tinha uma aula importante, mas o Otávio largaria tudo por mim caso ouvisse uma ligação da Lia com a mesma tonalidade de preocupação, confesso que senti uma pequena dúvida sobre ir ou não e fiquei em silêncio sem saber ao certo o que dizer por, pelo menos quarenta segundos, até que decidi responder.

— Vou pedir um uber e vou colar aí.

— Ok, to te esperando, muito obrigado.

— Relaxa, eu sei que ele faria o mesmo por mim.

Pedi meu uber e, no mesmo momento, ele chegou. Fui em silêncio durante todo o percurso, apenas pensando no que eu deveria fazer, eu não fazia ideia do estado em que ele se encontrava, será que ele estava chorando? Será que eu conseguiria ver ele chorando? Eu não me lembrava de já ter visto ele chorando, lembro de vezes em que ele estava perto de chorar, mas nunca chorando de fato. Eu realmente queria entrar num relacionamento com alguém que não sabia expressar o que sentia e bebia para desestressar?

Assim que eu cheguei e apertei a campainha, o Thiago abriu a porta, ele aparentou estar aliviado ao me ver e me deu um abraço forte, eu definitivamente não esperava uma recepção tão calorosa dos amigos dele.

— Ele tá lá em cima, vou te levar lá.

Continuei em silêncio, nós subimos as escadas e eu encontrei o Otávio de cueca sentado no chão, era visível que ele não tinha tomado banho ainda e o seu quarto estava todo bagunçado, seus olhos tinham olheiras maiores que as de costume e seu cabelo estava completamente bagunçado. Quando ele me viu, seu mundo pareceu parar, ele olhou para baixo, imediatamente desviando seu olhar de mim, mas consegui ver suas bochechas vermelhas.

— Eu não acredito que vocês fizeram isso – Ele disse, ainda olhando para baixo, mas agora abraçando as próprias pernas.

— Você disse que só ia se abrir se fosse para ela, bem, ela tá aqui agora – Apollo falou com um tom autoritário – Você não pode viver desse jeito para sempre.

— E toma banho, por favor – Leozin completa o amigo, depois os dois saem do quarto.

Eu me sentei do lado do Otávio e olhei para ele, mesmo que ele não olhasse para mim, depois abracei minhas pernas, da mesma forma que ele estava fazendo. Eu usava uma calça jeans reta cintura baixa e uma blusa básica limpa preta.  Ele realmente fedia, mas ainda era possível sentir um leve aroma do seu perfume. Foi nesse momento que eu notei o quão bagunçado estava o seu quarto, roupas jogadas no chão, garrafas vazias e até alguns cacos de vidro, o buquê que ele tinha comprado estava na sua cama, próximo ao travesseiro.

— Eu não preciso da sua pena – Ele disse e eu concordei com a cabeça.

— Sei que não, mas eu quero cuidar de você.

— Eu não preciso que cuidem de mim.

— Todo mundo precisa.

— Bem, eu não.

jorge maravilhaWhere stories live. Discover now