iv. QUINTA FEIRA

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Acordei sorridente e, como na noite passada, antes da hora que eu geralmente acordava, então aproveitei para me arrumar com calma e arrumar uma mochila com roupa a parte para deixar com a Raissa com o objetivo de que eu não fosse para a batalha com roupa de estágio igual da última vez. Dessa vez, para ir para a faculdade, coloquei um vestido longo branco com flores azuis pequenas, um tênis all-star preto e minha mochila de sempre com um casaco dentro.

Tomei meu café da manhã como sempre e me lembrei das mensagens trocadas na noite anterior com o Tavin, eu nem sei ao certo o que deu em mim para afirmar que poderia vê-lo nos dois dias, foi uma impulsividade que eu não tinha a bastante tempo. De qualquer forma, segui a pé, como quase sempre, para a faculdade, quando cheguei lá, sentei no mesmo lugar que ontem e esperei uns cinco minutos até meus amigos chegarem, a Raissa estava com cara de cansada, mas bem, ela usava uma calça moletom acinzentado e um blusão branco.

— Eu nunca dormi tão mal na minha vida – Ela reclamou enquanto tirava uma garrafa térmica da bolsa – E as aulas de hoje não ajudam muito também.

A Raissa gostava da parte do jornalismo em que ela aparecia em frente às câmeras e dava as notícias, ela amava a ideia de ser repórter. Eu diria que eu prefiro a área do editorial, gosto da ideia de escrever as matérias e não de aparecer em si, talvez por isso sejamos uma dupla tão boa, nós nos completávamos.

— Sempre pense que podia ser pior quando não tem como melhorar – Eu disse e ela deu uma risada nasalada que soou sincera.

— E como foi ontem?

— Selado, esqueci de contar sobre. Foi bem estressante e tenso, mas deu tudo certo, eu entrevistei o Tavin.

— Sério? – Ela disse com um tom animado e de choque – E depois disso?

— Ele me seguiu e me mandou uma mensagem, eu vou de novo na batalha da sexta, mas também vou na de hoje.

— Você me dizia não toda vez que eu te chamava para me acompanhar nas batalhas, mas é só um macho pedir que você aceita, até quando?

Nós duas rimos e eu dei um soquinho leve no seu braço direito.

— Para de ser idiota, é só para ver no que dá! – Disse enquanto ainda ria.

— Você vai ficar com ele, né?

— Não sei, espero que sim e que, depois disso, meu encanto passe.

— Então você realmente está afim dele?

— Acho que é só fogo porque eu gostei da voz dele, sei lá, mas não acho que tem chance de dar em algo.

— O que não tem chance de dar em algo? – Escutei a voz do Matheus, ele tinha acabado de chegar em sala.

— A nossa amiga está dando em cima de um Mc das batalhas que eu frequento e ela tanto faz chacota! – Raissa rebateu e senti minhas bochechas corando.

— Você está dando em cima de alguém? – Ele perguntou olhando para mim, minha única reação foi dar de ombros – Uau, nunca esperei que você fosse fazer isso com alguém e, tendo em vista que é um cara que não somente frequenta as batalhas que a Raissa vai, mas também é o motivo para elas existirem, eu estou ainda mais chocado. Foi o cara que jogou cerveja em você?

— Foi – Respondi.

— Não sabia que o que um homem precisava fazer para te conquistar era te humilhar publicamente.

— Não foi isso! Foi porque ele tinha uma voz legal.

— Que seja, você não vai namorar o Faustão porque ele tem uma voz legal.

— Enfim, eu gosto da voz dele, eu não acho ele bonito, mas tô afim de ficar com ele, nada demais.

— É só que... Sei lá... – Raissa começou – Nunca imaginei esse casal

— Talvez seja porque não somos um casal, nós só vamos ficar e é isso. Se a gente ficar, porque ainda existe a possibilidade de ele não querer ou de eu desistir.

— Nah, ele não vai desistir, isso eu te garanto! Linda desse jeito, quem desistiria?

— Você é muito idiota.

O lado bom do primeiro horário era que ele não tinha professor, mas esse também era o lado ruim ao mesmo tempo porque isso fazia com que muita gente esquecesse que aquela aula teoricamente livre, na verdade, tinha um objetivo. De qualquer forma, eu e meus amigos paramos de conversar e começamos a desenvolver as nossas pesquisas, ou era o que eu queria fazer, mas acabava me distraindo enquanto pensava no Tavin e naquela voz tão marcante. Isso nunca tinha acontecido antes, ou pelo menos eu não lembrava de já ter ficado tão fixada em uma voz quanto eu estou na dele.

Quando o tempo de aula de "Pesquisa da comunicação" acabou, o Antônio entrou em sala e a de "Filosofia" iniciou, eu nunca gostei de filosofia e nunca fui boa, mas eu sabia o suficiente para passar de semestre com um oito no boletim, o que era o essencial para mim, eu tinha alguns planos como fazer uma especialização na França, preferencialmente na Universidade Lumière Lyon, ou na Irlanda na Trinity. Para conseguir isso, eu preciso de boas notas e bons extracurriculares e, com isso, conseguiria trabalhar em um grande jornal como o "Le Parisien", ganhar um salário bom que pagasse as contas e conseguisse me sustentar. Eu tinha muitos planos e metas.

Ao fim da aula, fiz o mesmo de sempre, com a exceção de que eu dei minha mochila com roupa para a batalha para a Raissa, almocei e fui para casa tomar banho e me arrumar para o estágio. Coloquei uma calça jeans com lavagem escura, uma blusa básica branca e levei na mão um suéter de tricô da Polo Ralph Lauren azul marinho, coloquei um brinco prata com formato de estrela e um cordão de lua, pela primeira vez desde que eu comecei a estagiar, me arrisquei a passar corretivo para esconder minhas olheiras e definir o meu nariz, depois passando o gloss que sempre passava.

Eu marquei com a Raissa para ela me pegar às 17 horas, pela primeira vez, desde que eu comecei a estagiar, eu ia sair no meu horário normal sem ter sido liberada antes da hora. Como planejado, transcrevi a entrevista com o Tavin e estruturei o possível texto da matéria, levei três horas até considerar que ele estava bom o suficiente para ser considerado um rascunho, depois encaminhei para a Dona Camila, ela demorou mais ou menos uns quarenta minutos para me responder, mas disse que só ia ajustar algumas coisas e estaria pronto para ser disponibilizado no site.

Cinco minutos depois disso, a Raissa me mandou mensagem avisando que já tinha chegado para me buscar, assim eu desci e entrei no seu carro.

— Como estamos? – Ela fala assim que eu entro.

— Bem, eu acho.

A garota loira tinha seu cabelo solto e brilhante, ela usava um short jeans com lavagem clara e um blusão branco com uma borboleta do Matuê. Ela era uma das pessoas mais bonitas que eu conhecia, por dentro e por fora.

— Você pretende trocar de roupa onde? – Ela perguntou.

— Aqui no carro mesmo, tem problema?

— Nah, e hoje vai demorar para chegarmos na batalha, então aproveita esse tempo para ficar suave.

Eu tirei o meu cardigã e abri minha bolsa, lá dentro tinha uma mini saia de tecido simples e lisa cintura baixa marrom escuro com efeito evasê, uma bolsa pequena também marrom, mas com um tom de marrom café e uma piranha rosa bebê para caso ficasse calor e eu decidisse prender meu cabelo, mas ali notei que tinha esquecido de colocar um tênis all-star e eu estava usando um doc martens.

— Fodeu.

— Você é muito paty coquette só que com cores do tom de outono e primavera. – Ela disse sorrindo e eu revirei os olhos.

— Eu esqueci tênis, vou ter que ir de doc martens.

A garota riu alto e negou com a cabeça algumas vezes enquanto eu sentia minhas bochechas corarem, será que o Tavin iria rir da minha cara?

— Você tá linda, não se preocupa com calçado.

— Mas eu vou ficar muito fora do dress code, não?

— E qual o mal disso? Você tá linda e vai dar pro Tavin.

— Eu não vou dar para ninguém, sua promíscua– Sua resposta foi uma risada ainda mais alta que a anterior.

jorge maravilhaWhere stories live. Discover now