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All the things they said

- Alice Escobar -

Havia acabado de sair do banho. Comecei a procurar por um pijama e percebi a bagunça que estava meu guarda-roupa. Vi que não poderia mais adiar uma arrumação na área.

Retirei algumas blusas e as arrumei por cores. Fui fazendo todos os processos aos poucos. Arrumei as calças, depois as jaquetas, logo as luvas, então os sapatos.

No momento em que estava organizando os calçados, percebi que havia uma caixa no fundo do armário, totalmente fora da minha vista no dia-a-dia. Eu sabia bem o que tinha dentro daquela caixa azul decorada com fotos minhas.

Era a caixa que Leo havia decorado e utilizado como embrulho de um presente em um de meus aniversários.

Sentada no chão, peguei o objeto e me permiti alguns instantes de nostalgia. Vi algumas fotos de meu noivo, algumas cartas que havíamos trocado entre nós, presentes antigos e até DVDs.

Quem ainda usa DVD?

Ri de mim mesma, recordando do aparelho próprio para tocar aquele tipo de CD na estante da minha sala.

- Nós guardamos esse amor em uma fotografia. Fizemos essas memórias para nós mesmos.

Eu estava feliz por finalmente ver aquelas fotos e conseguir não chorar. O sentimento era diferente, pela primeira vez. Eu sentia algo bom dentro do meu peito, não mais uma algo mórbido.

Eu estava progredindo.

- Eu sinto sua falta... - Falei, acariciando uma de nossas fotos. - Mais do que eu posso colocar em palavras.

- Conversei com Pedri hoje, ele disse que deveria agradecê-lo pela obra que fez no seu cabelo. Ele viu em algum lugar que cabelo pega fogo e que você poderia ter morrido naquele dia. - Falou Gavi, anunciando sua chegada.

Sua voz estava um pouco embolada, estranhei.

- Você veio até aqui me dizer isso? - Indaguei, começando a guardar o que tinha tirado da caixa.

- Te trouxe um presente. - Respondeu, me estendendo uma sacola de papel. Era uma camiseta número seis do Barcelona. - Agora você pode torcer por mim do jeito certo.

Após concluir sua fala, ele se inclinou e me deu um beijo na bochecha. Senti o cheiro forte de álcool.

- Saiu para beber com o Pedri? - Tentei puxar um assunto diferente.

- Essas fotos... - Disse, se ajoelhando e observando duas fotos caídas no chão. - O que é isso, Alice?

Sua voz não estava mais arrastada e despreocupada. Ele estava bravo.

Lá vamos nós.

Mais uma briga em um ínterim de algumas horas.

- O que foi, Pablo?

- Você está comigo, como ousa pensar em um defunto?

- Você está bêbado, é melhor ir embora. - Falei calmamente, me levantando.

- Vamos lá, Alice! Você acha que eu sou um traidor, mas o que é isso? Você está me traindo com um fantasma!

- Pablo, você não está bem. É melhor termos essa conversa amanhã.

- Para você me manipular e dizer que era tudo coisa da minha cabeça? Para me enganar dizendo que eu entendi tudo errado?

- Isso seria usar o feitiço contra o feiticeiro, Gavira.

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