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Back to Barcelona

- Pablo Gavira -

Ficamos cerca de uma semana na Turquia. Dois jogos de cada time, duas vitórias de cada time. Os próximos jogos seriam no próximo mês, por isso Adrian e Xavi nos levaram de volta a Barcelona.

Durante essa uma semana que passei com Alice, senti que a mesma baixou um pouco sua guarda. Passamos quase toda a semana treinando, e dessa vez, treinos separados. Só nos encontrávamos durante a noite ou durante os jogos um do outro, onde estávamos sempre assistindo. Alice ia para ver Neymar, eu ia para assisti-la.

Escobar não teve mais nenhuma crise durante a viagem e não tomou os remédios das embalagens mais escuras, que eu descobri serem os comprimidos para se tomar quando uma crise estiver sendo desencadeada.

Chegamos a conversar durante as poucas noites em que não capotamos na cama.

- Odeio sentir frio. - Virei para ela. -  Odeio especialmente orelhas frias. Sente.

- Sentir suas orelhas?

- É.

- Por quê?

Quando ficou evidente que eu não as tocaria espontaneamente, Alice segurou meus pulsos e levou minhas mãos às suas orelhas.

Agora estávamos frente a frente. Minhas mãos eram quentes, o que me fez ter certeza de que suas orelhas deviam estar tão frias quanto eu imaginei que estariam.

- Viu? Frias.

Eu não disse nada, só fiquei olhando para ela. Eu me senti idiota e dei um passo para trás.

- Meias. Talvez possa me emprestar um par de meias.

- Para as orelhas?

Sorri.

- Para os pés.

Eu pigarreei e olhei para os seus pés, para as meias finas e curtas.

- Sim. - Com um gesto surpreendente rápido, eu puxei o capuz do moletom que ela usava
sobre a cabeça e apertei o cordão, deixando só uma pequena abertura para ela poder enxergar. - Isso também deve ajudar. - Havia um brilho debochado em seus olhos, um brilho que eu nunca tinha visto antes.

Ela deu risada e me empurrou, depois se libertou do capuz.

Alice chegou a me fazer promessas.

- Eu estava furioso com você.

Ela parecia se divertir com a história.

- Por quê?

- Você me deixou sozinho com o carro, mesmo sabendo que eu não sabia dirigir. - Respondi. - O carro estava parado bem na garagem, nem tinha como deixá-lo ali para alguém me ajudar depois. Você me odeia.

- Você gosta de tirar conclusões.

Meu coração deu um pulinho e eu o adverti pela reação. Tínhamos estabelecido uma regra. Ela não queria vínculos.

- Você já pensou em aprender a dirigir?

- Eu dirigi o carro da minha mãe do fim da rua até a entrada de casa quando tinha treze anos.

- Uau. Impressionante.

- Bati em duas caixas de correspondência.

- Ou não. Por isso não quis dirigir aquele carro.

Em CampoWhere stories live. Discover now