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The real hole truth

- Alice Escobar -

Neymar havia entrado no meu apartamento enquanto eu dançava e cantava com Davi. Seu semblante não era nada bom. Quando parei para analisar, vi que seu rosto estava machucado.

- Davi, meu amor, você pode esperar lá no meu quarto? - Perguntei suavemente.

O garoto concordou com a cabeça, desligou a TV da sala, que estávamos usando para tocar alguns clipes e subiu as escadas. Observamos ele sumir do nosso campo de visão.

Caminhei até o banheiro, peguei o kit de primeiros socorros do lavabo, enquanto ele servia dois copos de bourbon.

Ele está cumprindo a promessa do hospital.

- Vai me contar o que aconteceu? - Perguntei, limpando o sangue seco do nariz dele, no momento em que estávamos sentados no sofá.

- Eu fui até o Barcelona hoje, sabe, entregar o seu atestado.

- Sim... - Esperei que ele proseguisse.

- Acabei escutando uma conversa.

- Conte a fofoca. - Falei, animada.

Neymar segurou meu pulso com delicadeza, o afastou de seu rosto e o posicionou sobre meu joelho.

- Alice, é sobre você.

Respirei fundo. Engoli a seco. Tive medo do que ele estava prestes a dizer, eu sabia que seria algo sério.

- Neymar, você está me assuntando.

Ele tirou seu celular do bolso. Uma gravação começou a tocar.

O buraco era muito mais em baixo.

Joan Laporta, Adrian, Xavi, o chefe da equipe de marketing... Todos armaram contra mim. Senti as lâminas afiadas daquela confissão me atingirem.

Como dizia o meu irmão: no fundo do poço tinha um alçapão.

Neymar também foi sabotado. Eles tiraram Neymar da seleção brasileira para nos obrigar a renovar o contrato... Eles eram inacreditáveis.

- Você brigou com eles? - Minha pergunta saiu rouca e baixa.

- Não.

- Então esse olho veio de onde?

- Termina de escutar.

Então eles começaram a falar do Gavi.

Eu tinha esperança de que ele fosse inocente, de que eu havia interpretado tudo errado, mas não foi o que aquela gravação deu a entender.

- Eu sabia. - Disse, assim que a gravação acabou. Um suspiro seguiu minha fala.

- Você sabia? - Assenti. - Desde quando?

- Descobri essa manhã.

- Como?

Preferi não dizer, mas mostrar, assim como ele havia feito.

Me levantei, caminhei até a mesa da cozinha e peguei o computador de Gavi. Voltei para o sofá, liguei o eletrônico e busquei pelos e-mails.

- Quem é Isabel?

- Ex do Gavi. Ela veio aqui na manhã daquela entrevista que fizemos juntos, poucos dias antes da viagem para a Grécia.

- Essa não é a ex que o Pedri fala mal?

- É.

- A que só quis fama em cima dele?

- A própria.

- Então porque eles trocaram tantas mensagens?

- Ele me disse que estava na hora de usar ela para fazer marketing, também disse que ela era jornalista.

Neymar fechou os olhos com força, entendendo onde eu queria chegar.

- Leia as conversas, você vai entender tudo.

E assim ele fez.

Eu me levantei, não dando conta de olhar para aqueles e-mails outra vez.

- Eles... Eles vão postar tudo. - Neymar murmurou, ainda lendo as conversas. - Eles vão expor toda a sua vida, Lili.

Era tão óbvio. A verdade estava bem na minha frente, desenhada e com todas as letras, mas eu me recusava a acreditar.

- O que você vai fazer? - Ele perguntou, fechando o computador.

Nada.

- Pensei em conversar com ele, esclarecer tudo antes de decidir qualquer coisa.

Ouvi quando ele bufou, como se estivesse lidando com uma criança que não tirava ideias estúpidas da cabeça.

- Alice, você está muito calma para todo esse transtorno.

Não respondi nada, apenas o encarei.

Seus olhos fixos em mim. Dor, pena, tristeza, frustração, medo, decepção, preocupação, dúvida, tensão e vulnerabilidade, tudo em um só olhar.

- Eu te conheço, sei que assim que formos embora e as luzes se apagarem vai tentar abafar o som das lágrimas. - Neymar ficou de pé.

Pé ante pé em minha direção.

Uma mão pousou em minha cintura, outra no que restou do meu cabelo, que havia se tornado um Chanel, graças ao trabalho espetacular de Pedri.

- Escute. - Sussurou. - Eu vou cuidar de você, eu vou cuidar de você. Eu estou com você.

- Eu não posso… - Senti minha voz ficando falha. - Não posso deixar que pensem que eu sou fraca, que eu sou uma princesa indefesa. Não depois do que ele fez comigo. Ainda dói…

Me referi a Anderson, meu genitor, mas nada me impedia de direcionar meu pensamento a Gavi. Ele também havia me traído.

Todo mundo pode trair todo mundo, e Gavi não é exceção.

A traição mais dolorosa é aquela que vem de quem menos esperamos, mas a pior traição existente não é a amorosa, a pior espécie de traição é a de confiança.

Eu havia perdido minha confiança no meu namorado.

- Mas eu não vou terminar com ele. - Sussurei de volta.

Neymar se desvencilhou de meu abraço no mesmo segundo. Segurou meu cotovelos flexionados e me encarou com um misto de surpresa e desgosto.

- Como?

- Eu não estou pronta para acabar com esse relacionamento...

- Eu prometi te apoiar em tudo, Lili. Essa promessa é válida para ideias estúpidas, ideias que eu não concordo de jeito nenhum, por isso eu vou te apoiar nessa. Mas nada me impede de zoar essa decisão.

Após um leve tapa em seu ombro, um par de olhos revirado e uma risada, ele me puxou para outro abraço, um abraço reconfortante que durou alguns vários minutos.

Nos afastamos apenas pela porta que estava prestes a ser arrombada.

- É melhor você ter certeza da sua decisão, minha princesa.

Eu não sabia se tinha certeza, mas não voltaria atrás da minha decisão.

Me direcionando um minúsculo sorriso, Neymar se levantou e foi atender a porta. Foi o suficiente para seu rosto ficar sério, ou melhor, cheio de ódio.

- Preciso falar com a Alice. - A pessoa na porta disse.

Eu reconheci a voz.
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Apenas passando aqui para agradecer a vocês pela meta de 80K batida na noite de ontem (06/04/23). Também gostaria de desejar feliz páscoa a todos (acho que vou falar nos comentários ou no capítulo de domingo também).

Tropa do okay:

Em CampoWhere stories live. Discover now