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ALERTA: Gatilho de automutilação

Panic room

- Alice Escobar -

- Supera... - Murmurei para mim mesma, enquanto batia a cabeça na parede do banheiro. - Supera. Supera. Supera!

- Alice! - Ele gritou. - ALICE!

Demorei um tempo para entender o que estava acontecendo, para recobrar a consciência.

Havia fumaça para todos os lados. Aquilo não era um bom sinal.

- Alice? - Ele chamou outra vez. - Alice, está me ouvindo? Por favor, me diga algo.

Eu conseguia escutá-lo. Eu conseguia escutá-lo perfeitamente, mas não era capaz de responder absolutamente nada. Eu estava em choque, eu não tinha controle sobre o meu corpo. A única coisa que consegui fazer foi continuar sentada em minha cama e inalando aquela fumaça, que ocupava cada vez mais o meu quarto.

Não, aquilo não era nada bom.

- ALICE! - Leonardo voltou a berrar.

Sua voz estava cada vez mais entrecortada, suspeitei ser culpa da fumaça.

Meus olhos começaram a arder, o fogo foi começando a ficar visível pela janela do quarto.

Aquilo não estava acontecendo. Aquilo não podia acontecer.

- Alice, por favor. - Ouvi sua voz, estava mais para um sussurro, era como se ele falasse consigo mesmo. - Por favor...

Abri minha boca para dizer algo, para avisar onde eu estava, dizer que estava viva, que estava bem, mas não saiu uma única sílaba.

- Por favor, Alice, por favor, esteja viva... - Ele continuou após uma série de tosses. - Esteja viva ou eu nunca serei capaz de me perdoar.

Continuei batendo minha cabeça contra o azulejo do banheiro na esperança de apagar aquela cena da minha cabeça.

- Supera... - Voltei a murmurar, mesmo sabendo que não adiantaria. - Supera.

Minhas mãos estavam sendo utilizadas para abraçar meus joelhos e me impedir de fazer algo precipitado.

Minha mente amava me pregar peças, amava repetir aquele pesadelo constantemente, amava me lembrar do maior erro que eu já havia cometido. Minha mente insistia em me lembrar o quanto amar Leonardo foi um erro.

Eu queria dormir, mas as vozes na minha cabeça ficavam gritando, repassando aquele pesadelo. Anisiedade gritava: Surpresa!

Eu queria fugir, mas meu corpo não se mexia.

Senti minha cabeça batendo no azulejo, mesmo sem um comando meu, não liguei.

Estava noites sem dormir porque noite não traz só o sono, ela traz solidão, traz desespero, traz um ambiente livre para a mente trabalhar como ela quiser... Inclusive contra si mesma.

Olhei para a janela, vi que a vida é bela. Tentei dar um sorriso... Mais uma vez.

"Querido toquinho, eu sobrevivi ao dia de hoje. Devo ter dito 'Eu estou bem, obrigada' pelo menos 37 vezes, e eu não quis dizer isso uma vez sequer. Mas eu notei, quando alguém diz: 'Como você está?', eles realmente não querem uma resposta."

"Querido toquinho, eu não poderia estar mais errada, eu achei que poderia sorrir e seguir em frente, fingir que está tudo bem. Eu tinha um plano, eu queria mudar quem eu era e levar a vida como uma pessoa nova, sem passado, sem a dor de alguém que viveu, mas não é tão fácil.
As coisas ruins ficam com você, elas seguem você. Não dá para escapar, por mais que se queira. Só podemos mesmo nos preparar para o bem, e quando ele chegar podemos aceitá-los, porque precisamos dele. Eu preciso. Eu preciso, mas não sei se sou capaz."

Em CampoOnde histórias criam vida. Descubra agora