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Habits

- Alice Escobar -

Era noite.

Eu estava caminhando pelo corredor do hotel, tentando ficar longe do Gavi. Havia cogitado trocar de quarto com Neymar, mas seria maldade fazê-lo dividir cama com Gavira e o mais novo tinha deixado claro que não iria trocar de dormitório.

Ouvi uma movimentação no corredor e, movida pela curiosidade, comecei a prestar atenção e tentar descobrir quem estava fora do quatro. Esperava que fosse algum dos meninos do futebol. Sabia que era alguém do time porque o andar tinha sido reservado para nós.

Reconheci as duas figuras. Bruna e Emma.

- Alice! - Bruna me avistou e se aproximou. - Estamos indo para uma boate aqui perto, quer nos acompanhar?

- Não, mas agradeço o convite. - Tentei ser simpática. - Vocês tem certeza que vão sair hoje? Temos jogo amanhã.

- Relaxa, Alice, não vamos fazer nada demais. - Emma respondeu.

Elas sorriram e voltaram a caminhar em direção ao elevador.

Eu não era nada próxima do meu time, mas essas duas eram as mais próximas de amigas que eu tinha.

Tínhamos tido um treino durante o final da tarde e o começo da noite. Os reservas ainda não tinham chegado, o que estava preocupando todos, inclusive Adrian. Por isso eu tinha medo da saída das meninas. Jogaríamos na noite do dia seguinte, precisaríamos de todas as jogadoras cem por cento.

Ignorei meus pensamentos negativos e voltei para o quarto.

Gavira já estava dormindo. Fiquei feliz, pelo menos teria paz.

Não me dei ao trabalho de tentar dormir, eu sabia que não conseguiria, então apenas me sentei onde antes estava meu travesseiro - que Gavi tinha roubado - e fiquei encarando a parede a minha frente. Cogitei mexer no meu celular para passar o tempo, mas resolvi respeitar o garoto - e o restante da minha pouca paciência - e evitar qualquer brilho ou som que pudesse acordá-lo.

Mente vazia é oficina do diabo. Minha mãe - adotiva - costumava me dizer. Ela tinha razão.

Não tinha nada ocupando meus pensamentos, então minha cabeça estava livre para trabalhar como quisesse, inclusive contra mim.

São 2 da manhã, não consigo desligar meus pensamentos, desejando que essas memórias desaparecessem, mas elas nunca desaparecem.

Desde 22 de junho meu coração tem pegado fogo. Tenho passado as noites na chuva, tentando apagá-lo. Nunca consegui.

Acontece que as pessoas mentiram. Eles disseram: É só estalar os dedos. Como se fosse fácil assim conseguir superar.

Eu só preciso de tempo. Eu só preciso de mais tempo. Luto não é algo com que se acostuma, que você aprende a lidar conforme a frequência, na verdade, fica cada vez mais difícil de superar as pessoas que se vão.

Estalando em 1, 2, onde está você Você ainda está no meu coração.

Estalando em 3, 4, ainda preciso de você aqui. Saia do meu coração porque eu posso acabar por perder o controle.

E se mais uma pessoa disser: Você devia superar isso. Oh, talvez eu perca o controle.

Desejei voltar a ver Leonardo, talvez eu pudesse sair do quarto e conversar com ele, mas eu sabia que não seria possível. Eu estava sem vê-lo desde que havia acordado naquele hospital.

Em CampoWhere stories live. Discover now