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Match

- Alice Escobar -

Meus nervos estavam a flor da pele. Tínhamos acabado de chegar no local onde ocorreria o jogo e estávamos conhecendo o ambiente.

Neymar e Gavira estavam com o restante do time. Aquilo era tão estranho.

Quando deu o horário, fomos até o vestiário apenas para terminar de ajustar o equipamento e escutar algumas palavras motivacionais de Adrian.

Confesso que não prestei atenção no início, estava muito distraída com toda aquela situação em que tínhamos nos metido.

- [...] de ter a casca dela forte. - Comecei a prestar atenção em suas palavras. - Que os caras vão bater, vão bater aqui, mas não vão entrar. - Disse, dando tapas nas costas de Neymar, que fazia caretas. - Ela tá forte, ela tá forte. E isso me deixa orgulhoso, cara. Esse grupo que a gente conseguiu formar aqui.

Eu não estava entendendo nada do que ele estava dizendo. Cheguei a cogitar a hipótese dele estar sobre efeito de algum remédio ou simplesmente chapado de outras substâncias.

- Então, irmãs, lá dentro não tem meia-bola. Dividir é nossa. A primeira é nossa, a segunda é nossa, a terceira é nossa!

Todos começaram a aplaudir seu discurso sem pé nem cabeça, Inclusive eu.

- Bora!

- Vamos!

- Bora lá!

As garotas e os meninos que tinham chegado com Xavi começaram a exclamar, caminhando em direção a porta do vestiário.

- Bora galera! - Neymar gritou. - Vamos!

- Vamo que a bola é nossa, hein. - Gavi entrou na brincadeira.

- Vamo para cima, a primeira vai ser nossa. - Eu falei, antes de respirar fundo, sair daquele local e caminhar em direção à quadra.

Assim que fechei a porta atrás de mim, senti um peso em meus ombros. Era o braço de Neymar.

- Eu sei que você está nervosa. - Ele falou, me acompanhando até o restante do time. - Eu também fico nervoso antes de um jogo, em especial em jogos em que eu estou jogando um esporte que não é futebol. - Completou, arrancando uma risada minha.

- Você é um ótimo jogador de vôlei, Júnior.

- Eu sei, obrigado pela honestidade.

Neymar é aquele tipo de pessoa que com um "bom dia" é capaz de mudar meu dia completamente. Aquela conversa que parecia servir apenas para inflar seu ego, ajudou a me distrair.

Ficamos em posição e cantamos o hino espanhol.

O "pontapé inicial" foi dado. O jogo tinha começado.

Aquele foi o jogo mais surreal que eu já havia participado. Neymar e Gavi, dois jogadores de futebol que nem deveriam estar naquela quadra, pontuaram.

Fomos para o intervalo com 1x0, no caso, 1 para o Barcelona e 0 para o Madrid. Céus, com a ajuda de dois jogadores de futebol nós conseguimos fechar o primeiro set de 25 pontos.

Nos últimos três minutos de intervalo, as reservas chegaram. Eu não sabia como elas tinham conseguido, mas tinham.

Neymar e Gavi voltaram ficaram no banco com os demais jogadores e com as reservas que não iriam jogar. Eu nunca tinha visto aquele banco tão amontoado.

O jogo reiniciou, desta vez com os jogadores corretos.

Por mais que eu sempre saia machucada, eu adorava aquela sensação. Jogar vôlei, por mais clichê que seja essa frase, era minha válvula de escape. Um joelho ralado dói bem menos do que sentimentos.

3x0 para o Barcelona.

Nós tínhamos ganhado.

Nos abraçamos e começando a pular de felicidade, gritando: Visca al Barça y visca a cataluña!

Me segurei para não gritar: Hala Madrid.

Após nos separarmos do abraço coletivo, corri até o meu jogador favorito.

Pulei no homem e enrosquei minhas pernas em sua cintura. Suas mãos foram para minha cintura e as minhas para o seu pescoço. Ambos estávamos rindo. Era inacreditável como um ideia terrível como a de Adrian tinha funcionado. Talvez duas...

- Nós conseguimos. - Eu disse em seus ouvidos.

- Você conseguiu. - Foi a resposta que obtive.

Enterrei meu rosto em sua clavícula e continuei o abraçando. Eu estava muito feliz por ter ganhado um jogo depois de tanto tempo apenas perdendo.

Quando levantei minha cabeça, encontrei um jogador camisa 30 me encarando com um sorriso no rosto. Retribuí o gesto e voltei minha atenção para Neymar.

- Como vamos comemorar? - Ele perguntou assim que nos desvencilhamos.

- Não vamos. - Respondi simples e ele pareceu um pouco surpreso. - Você tem jogo amanhã, precisa descansar, e não é bom comemorar antes da final, pode dar azar.

Por mais que eu não quisesse comemorar antes da hora, o ônibus, grande o suficiente para caber os dois times, estava uma festa durante o caminho de volta para o hotel. Não fiquei de fora da comemoração.

Quando chegamos os reservas fizeram seus respectivos check-in e foram para os quartos reservados em seus nomes no oitavo andar.

Gavi subiu as escadas comigo, mesmo não precisando. O elevador não estava tão lotado assim. Talvez estivesse, mas o hotel possuía vários elevadores.

- Pode tomar banho primeiro. - Ele disse, assim que entramos no quarto.

Apenas assenti e peguei uma troca na minha mala, que ainda não havia sido desfeita.

- Obrigada. - Disse antes de entrar no banheiro.

- Pelo banho? Eu não posso deixar você deitar na cama toda suada. - Ele disse com humor.

Revirei meus olhos antes de responder:

- Você sabe o que eu quis dizer. - Ele fez cara de desentendido. Gavi queria mesmo que eu dissesse com todas as palavras? - Obrigada pelo que fez por mim.

- Eu não sabia que você era capaz de repetir um agradecimento em um intervalo tão pequeno. - Caçoou. - Da próxima vez, por favor, me acorde.

Nós sabíamos que eu não faria isso. Entrei no banheiro e fechei a porta.

Fui rápida, porque por mais que não deixasse transparecer, eu tinha uma pequena consideração por ele e sabia que o mesmo deveria descansar para o jogo que teria no dia seguinte.

Quando sai já vestida, ele entrou no banheiro e também não demorou muito. Voltou apenas com uma bermuda de pijama e se jogou na cama. Não levou nem cinco minutos para eu perceber que sua respiração estava mais leve.

Olhei de soslaio para a figura masculina capotada ao meu lado e não impedi o sorriso que meus lábios começaram a exibir.

Talvez ele não seja tão ruim quanto eu tinha imaginado.

Em CampoWhere stories live. Discover now