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Call me by my name

- Alice Escobar -

Seus lábios mais macios do que qualquer coisa que já tinha conhecido, macios como a primeira neve, como morder algodão-doce, como derreter e flutuar e não ter peso na água. Era doce, era doce sem fazer esforço.

E, então, mudou.

- Ó, meu Deus...

Ele me beijou de novo, desta vez com mais força, desesperado, como se precisasse me ter, como se estivesse morrendo para memorizar o toque dos meus lábios contra os dele. O gosto dele estava me deixando louca; ele todo era calor e desejo e hortelã e queria mais. Havia acabado de começar a atraí-lo, a puxá-lo para mim quando ele se afastou.

Ele estava respirando como se tivesse perdido a cabeça e estava olhando para mim como se algo estivesse quebrado dentro dele, como se tivesse acordado e descoberto que seus pesadelos eram apenas pesadelos, que nunca existiram, que eram apenas um
sonho ruim que parecia real demais, mas, agora, ele acordou e estava seguro, e tudo ficaria bem e...

Estou ruindo e caindo dentro do coração dele e sou um desastre.

Ele estava me analisando, procurando algo em meus olhos, sins ou nãos ou talvez uma deixa para continuar em frente, e tudo que queria era me afogar nele. Queria beijá-lo até desmoronar em seus braços, até ter deixado meus ossos para trás e flutuado em um novo espaço que era inteiramente nosso.

Sem palavras.

Apenas os lábios dele.

De novo.

Profundo e urgente como se ele não pudesse mais se dar ao luxo de ir devagar, como se houvesse muito que quisesse sentir e não houvesse anos suficientes para viver tudo. As mãos dele passearam pelas minhas costas todas, aprendendo cada curva do meu corpo, e ele estava beijando meu pescoço, minha garganta, o declive dos meus ombros e sua respiração estava mais pesada, mais rápida, suas mãos de repente emaranhadas em meu cabelo e estava girando, estava zonza, estava me mexendo e alcançando sua nuca e agarrando-me a ele e era um calor gelado, era uma dor que atacava cada célula do meu corpo. Era um desejo muito desesperado, um desejo tão primoroso que rivalizava com tudo, com cada momento feliz que pensei que tivesse vivido.

Estava contra a parede.

Ele estava me beijando como se o mundo estivesse rolando por um penhasco abaixo, como se ele estivesse tentando se segurar e
tivesse decidido se segurar em mim, como se estivesse faminto por
vida e amor e nunca tivesse sabido que poderia ser tão bom estar tão perto de alguém. Como se fosse a primeira vez que já sentiu algo além de fome e não soubesse se equilibrar, não soubesse comer em pequenas porções, não soubesse fazer nada, nada, nada com moderação.

Minhas calças caíram no chão e as mãos dele eram as responsáveis.

Estava nos braços dele usando roupa de baixo e uma regata que pouco conseguia me deixar decentemente vestida e ele se afastou só para me olhar, para sorver a visão que tinha de mim e estava dizendo "você é tão linda" ele estava dizendo "você é tão inacreditavelmente linda" e puxou-me para seus braços de novo e me levantou, carregou-me até meu sofá e, de repente, estava apoiada em minhas almofadas e ele estava sobre meus quadris e sua camisa não estava mais em seu corpo e não fazia ideia de para onde tinha ido. Tudo o que sabia era que estava olhando para cima e para os olhos dele e estava pensando que não havia nada que eu mudaria neste momento.

Ele tinha centenas, milhares, milhões de beijos e estava dando todos para mim.

Ele beijou meu lábio superior.

Ele beijou meu lábio inferior.

Ele beijou logo abaixo do meu queixo, a ponta do meu nariz, a extensão da minha testa, as duas têmporas, minhas bochechas, por toda a linha do meu queixo. Depois, meu pescoço, atrás das minhas orelhas, descendo minha garganta e suas mãos deslizam para baixo em meu corpo. O corpo todo dele estava descendo pelo meu, desaparecendo enquanto se movia para baixo e, de repente, o peito dele estava pairando sobre meus quadris; de repente, não conseguia mais vê-lo. Podia apenas distinguir o topo da sua cabeça, a curva de seus ombros, o irregular subir e descer das suas costas conforme ele inspirava e expirava. Ele estava descendo as mãos pelas minhas coxas nuas, contornando-as e subindo de novo, passando pelas minhas costelas, ao redor da parte baixa das minhas costas e descendo de novo, passando um pouco do meu osso do quadril. Seus dedos se engancharam no elástico da minha calcinha e eu ofeguei.

Seus lábios tocaram minha barriga nua.

Era apenas o sussurro de um beijo, mas algo desmoronou em minha
cabeça. Era o roçar leve como pena de sua boca contra minha pele em um lugar que não podia ver bem.

Minha mente estava falando em mil idiomas diferentes que não entendia.

E percebi que ele estava subindo pelo meu corpo.

Estava deixando um rastro de fogo pelo meu torso, um beijo após o outro, e realmente achei que não conseguia aguentar mais aquilo; realmente não achei que fosse ser capaz de sobreviver a isto. Havia um choro crescendo em minha garganta, implorando para se libertar e estava trancando meus dedos no cabelo dele e puxando-o para cima, para mim, em cima de mim.

Precisava beijá-lo.

Levantei as mãos apenas para deslizá-las pelo seu pescoço e pela extensão de seu corpo e percebi que nunca me senti assim, não neste nível, não como se cada momento estivesse prestes a
explodir, como se cada respiro pudesse ser nosso último, como se
cada toque fosse suficiente para incendiar o mundo. Estava esquecendo tudo, esquecendo o perigo e o horror e o terror de todos os dias e nem conseguia lembrar por que estava esquecendo, o que estava esquecendo, que havia algo que eu parecia já ter esquecido. Era difícil demais prestar atenção em algo além dos olhos dele, queimando; a pele dele, nua; o corpo dele, perfeito.

Ele estava completamente desarmado pelo meu toque.

Ele tinha cuidado para não me comprimir, os cotovelos apoiados
em cada lado da minha cabeça, e achei que devia estar sorrindo para ele porque ele estava sorrindo para mim, mas ele estava sorrindo como se pudesse estar petrificado; ele estava respirando como se tivesse esquecido que devia respirar, olhando para mim como se não tivesse certeza de como fazer isso, hesitando como se estivesse incerto
sobre como me deixar vê-lo assim. Como se não fizesse ideia de como ser tão vulnerável.

Mas lá estava ele.

E lá estava eu.

A testa de Gavira estava prensada contra a minha, sua pele corada com o calor, seu nariz tocando o meu. Ele trocou o peso para um braço, usou a mão livre para acariciar minha bochecha com delicadeza, aninhar meu rosto como se fosse feito de vidro e percebi que ainda estava prendendo a respiração e nem consegui me lembrar da última vez em que expirei.

Os olhos dele baixaram para meus lábios e subiram de novo. Seu olhar era pesado, faminto, carregado de uma emoção que nunca o achei capaz de sentir. Nunca pensei que ele poderia ser tão completo, tão humano, tão real. Mas ali estava. Estava bem ali. Pura, escrita pelo rosto dele como se tivesse sido arrancada de seu peito.

Ele estava me dando seu coração.

E disse uma palavra. Sussurrou apenas uma coisa. Com muita urgência.

Ele disse:

- Alice.

Fechei os olhos.

Ele falou:

- Não quero mais que você me chame de Gavira.

Abri os olhos.

- Quero que me conheça. - Ele disse, sem fôlego, os dedos tirando uma mecha solta de cabelo do meu rosto. - Não quero ser o Gavi com você. - Ele falou. - Quero que seja diferente agora. Quero que me chame pelo meu nome.

E estava prestes a dizer sim, é claro, eu entendia perfeitamente, mas havia algo neste momento de silêncio que me confundiu; algo naquele momento e na sensação do nome dele na minha língua que destrava outras partes do meu cérebro e havia algo ali, algo empurrando e puxando minha pele e tentando me lembrar, tentando me dizer e levei um tapa na cara, levei um soco no queixo, fui jogada no meio do oceano.

- Leo.

Em CampoWhere stories live. Discover now