48. De coração aberto

230 26 0
                                    

Por que Brittany S. Pierce dormia com tantos travesseiros sobre a cama?

Já de inicio, era justamente isso que Santana Lopez almejava saber dela, através daquele "jogo" de sinceridade em seus aposentos. Foi assim, pá-pum, complicado. Agora, Brittany sentia necessidade de mentir e a conversa mal começara. Nada bom. Ela ouvia seu organismo implorá-la penosamente para correr, não lembrar, não dizer, não sentir, não se abrir.

Mas, percebendo os sinais, a réplica dos olhos castanhos aos azuis foi: não fuja.

Então, ela não o faria. Nunca mais, se fosse capaz. Porque ela queria contar tudo a Santana. Tudo. Independentemente das sensações que brotassem nela mediante a recordação. Aliás, mediante a toda a conversa. Sozinhas, só estavam as duas naquele quarto, naquela casa, naquele exato ponto de Rosefield, com seus corações quase na palma da mão uma da outra. E tudo dependia disso. Da honestidade expressada com qualquer palavra que surgisse nos lábios rosados e depois nos da outra, partindo daquilo. Ela podia arcar com isso. E bom, a verdade era que, nem sempre foram travesseiros ocupando tanto espaço naqueles lençóis.

Com cinco anos de idade...

Brittany foi levada a um lugar. Se perguntassem a ela o caminho percorrido até lá, não saberia dizer. Em contrapartida, com sua estatura na época, ela recordava de tudo que conseguia ver ao entorno da área visitada. Tinham imensas, gigantescas e enormes gôndolas espalhadas por todo lado, todas sem cor, sem vida, sem nada, exceto altura, embora o que mais tivessem sobre elas fossem brinquedos com uma variedade tremenda de pintura, tamanhos, utilidades e preços. Contudo, não a importava. Ela não conseguia enxergar. Logo, não queria estar ali, e também não via sentido em estar ali. Era uma loja qualquer, num dia qualquer, em qualquer canto de Seattle. Mas, a pequena loira só queria estar em seu quarto, junto a seu novo teto de estrelas, a única coisa que lhe fazia sentir-se perto da mãe, realmente, pois a mesma havia se transformado em uma no céu, segundo o seu pai.

— E aí, já pensou no que vai querer levar? – Robert indagou enfim, olhando para a baixinha calada com quem andava de mãos dadas. – Brittany...?

A menina direcionou a visão para cima para poder prestar atenção no homem. Se não estivesse enganada, podia jurar que ele falara algo a ela. Arriscou-se:

— O que?

— Já pensou no que vai querer levar pra casa?

Ahn...— Ela fitou o corredor em que os dois se encontravam de um lado a outro, concentrada. Vários e vários bichinhos de pelúcia cercavam-nos. Do seu ponto de vista, nenhum interessante. – Papai, eu não quero nada.

Ela só estava sendo franca, e, aquele ambiente tinha tanta luz, mais tanta luz, que, lembrava-a de hospitais, odiava isso.

— Como assim, filha? Dá mais uma olhada.

— Vamos embora?

— Oh, certo. – Ele agachou de frente para a menina. – O que houve? Me conta. Não combinamos que acharíamos amiguinhos pra ficar com você de noite?

— Sim, mas eu não quero mais.

— Por quê?

— Eu... Não sei... Só quero ir pra casa.

Robert respirou fundo e compreendeu, apoiando as mãos nos braços da criança, continuou:

— Olha Brittany, eu não quero mais ter que te dar medicação pra dormir, você sabe. Eu e a doutora Vivian percebemos que você tem mais pesadelos ainda quando toma, e não é sempre que o papai pode ficar com você quando acontece, então, por favor, dê uma chance aos bichinhos. Já estamos aqui, não temos nada a perder, só a ganhar. Tudo bem?

Destino ou não - BrittanaOnde histórias criam vida. Descubra agora