24. Lágrimas e chuva

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"Plic... Plic... Plic..." Foi o som manso que as últimas gotas de água fizeram, ao chocar-se contra o resto do líquido despejado no copo de vidro que, a pirata-sem-bandana segurava, fortemente, com a mão direita, abaixo daquela torneira de metal, no escuro e silêncio da cozinha, daquela casa que não era a sua, em uma madrugada de Halloween, de domingo para segunda-feira.

Ok, tudo certo.

Sua tarefa, agora, se tratava de ir auxiliar outra pessoa que passava mal, notoriamente, por causa de álcool em excesso no estômago. O que era engraçado, desesperador e tantas outras coisas, ao mesmo tempo. O corpo humano possui formas, digamos que, peculiares, de expulsar o que não é bem-vindo por lá... Enfim, a missão da Pierce até que estava no nível fácil, consistia basicamente em: ir para o local do "acidente" e entregar o copo de água para a pessoa, para que assim, talvez, o estômago rebelde dela parasse de revirar... Ora, tão fácil assim? Afirmativo, na teoria.

Plic... Plic...

E continuava pingando água da torneira fechada, uma droga. Precisavam trocar o feixe daquilo urgentemente, a mãe natureza agradeceria de coração. Quantos litros de água não eram desperdiçados com isso? E francamente, aquele som não era manso, nem agradável, nem nada! Não mesmo. Não para ela. Não para Brittany Susan Pierce. Quem ela queria enganar? A si própria? Não iria rolar.

Respire normalmente, Brittany! Normalmente...

O som da água escorrendo, assemelhava-se mais com uma ampulheta que, jogava-a na cara, a cada gota, um limite curtíssimo, para que ela pudesse pensar, de forma brusca, em tudo que havia acontecido nos últimos minutos vividos. Quanto tempo, a garota estava parada ali? Muito? Pouco? Talvez, nem tanto tempo assim. Ou talvez, tempo demais. Ora, que confusão. Estaria ela adiando sua volta ao banheiro, ou o que? Que estúpida. Ser responsável em estado inquieto era deveras complicado. Sempre foi... Desde os primórdios do universo. Onde estava a luz no fim do túnel mesmo? Ah, a luz e a saída também, logicamente. O mapa, com o caminho para tal, poderia estar perdido, como muitas outras coisas, pelo mundo afora, bastava concentrar-se para encontrá-lo, pois era metafórico.

Ah, quem precisava de um mapa? Que idiota.

Bom, a questão era que...

"Trommm!"

Os trovões insistiam em manifestarem-se, tão pacificamente exóticos, como só eles tinham o privilégio de ser, em meio a outras coisitas lindas da natureza, assustando os meros humanoides da terra, da forma mais bela e irônica possível.

Santana era o ser que, localizava-se passando mal há poucos metros de distância, debaixo do teto da mesma residência, em que a loira se encontrava pirando. Brittany percebeu suas mãos tremerem, uma delas com o copo d'água cheio até as bordas, e a outra, segurando o feixe da torneira, e perguntou-se naquele instante, os olhos fixos em algum lugar da pia: quem estaria passando mais mal, ela ou a Lopez? Não fazia ideia. E nem queria saber a verdade, porque poderia ser ela a pior, que idiota. Um, dois, três... Quem precisava da água primeiro de fato? E pensar sobre isso não era meio egoísta de sua parte? Talvez sim, talvez não. Pensamentos são labirintos perigosos, a todo o tempo.

Brittany havia beijado Santana há menos de dez minutos... Quer dizer, elas tinham se beijado! Foi explicitamente um trabalho em equipe. Quão bom e ruim aquilo soava simultaneamente? Brittany mal conseguia acreditar no próprio impulso e coragem momentâneos. Mal conseguia descrever a ansiedade que sentiu quando aconteceu. Mal conseguia respirar direito depois, ou raciocinar... Como raciocinava sem pirar? Desaprendeu. Seu estômago estava revirando agora.

Destino ou não - BrittanaWhere stories live. Discover now