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As sirenes da ambulância ainda ressoavam na minha cabeça enquanto eu estava sentada na cadeira de espera do hospital.

Minha mãe estava ao meu lado com o rosto banhado de lágrimas e eu me sentia pior a cada olhada que eu lançava em sua direção.

Eu ainda estava petrificada com o que tinha acontecido. Foi tudo tão rápido e inesperado que a ficha ainda não tinha caído.

Eu estava em choque.

Tão em choque que nem percebi quando Camile chegou, sendo acompanhada de Marcela, Aurora e Samuel.

Apenas observei Camile trocando algumas palavras com a minha mãe e a abraçando em seguida.

Ela também estava chorando.

Eu afastei os olhos das duas e fitei o chão.

O que eu fiz?

— Elisa? — alguém me chamou. — Elisa, você está me ouvindo?

Olhei na direção da voz e vi Marcela sentada ao meu lado.

— Você está bem? — ela perguntou, colocando a mão no meu ombro.

Eu ignorei a sua pergunta e voltei minha atenção para o chão, mantendo o olhar fixo em um risco no piso.

— Vai ficar tudo bem. — Ela me abraçou. — O tio Mat vai sair dessa. Você vai ver.

Eu pensei no que ela disse. A imagem do meu pai com a camisa manchada de sangue, perdendo as forças a cada segundo retornou à minha mente e meus olhos se encheram de lágrimas.

— Vai ficar tudo bem — Marcela repetiu, parando de me abraçar.

Eu tentei acreditar no que ela disse. Juro que tentei. Mas no fundo eu sabia que nada ia ficar bem. Só aconteceu desgraça na minha vida desde o começo do ano. Tirei nota baixa, fui para diretoria várias vezes, me envolvi em brigas, fui arrogante com as pessoas, desobedeci os meus pais, mandei nudes para Pedro e tive as fotos expostas para todo mundo, ajudei a causar o acidente de Bianca, Teo terminou comigo e me odeia, ajudei Pedro a se vingar do meu pai...

Eu era uma pessoa horrível.

Todo o esforço que tive para parecer boa e competente aos olhos dos outros só serviram para me mostrar que eu não era bosta nenhuma.

Eu só servia para estragar a vida dos outros ao meu redor.

De repente, eu fiquei de pé e comecei a caminhar pelo corredor do hospital. Virei a esquerda e andei até o fim do corredor. Havia uma porta aberta e minhas pernas me levaram até a sala escura e vazia.

Era possível ver os prédios com as luzes acesas através da janela. Sem pensar muito, eu me aproximei e abri o vidro, deixando o vento entrar no cômodo, soprando meu cabelo para trás e secando as lágrimas no meu rosto.

A noite já tinha caído e havia poucas estrelas no céu, e por algum motivo, aquilo me deixou ainda mais triste.

Apertei os dedos contra o parapeito da janela e fechei os olhos, tentando impedir uma enxurrada de lágrimas que ameaçavam cair. Quando os abri, passei uma perna para fora da janela e evitei olhar para baixo, mas isso não durou por muito tempo, pois eu baixei os olhos na avenida movimentada e vi os carros em miniatura correndo pela estrada.

Respirei fundo, deixando a sensação de vertigem tomar conta de mim enquanto eu estava prestes a decidir o meu destino naquele dia.

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Atenção: eu pensei muito em colocar essa cena justamente por ser um assunto pesado, mas se você sente/se identificou com os sintomas da Elisa nesse capítulo, procure ajuda de psicólogo/psiquiatra ou ligue 188 (Centro de Valorização da Vida - o atendimento é gratuito, 24h por dia)

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Passa logo pro próximo capítulo 😉

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