• Capítulo 90 - Reta Final.

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Kah on·
Eu perdi! A Candelária venceu hoje e está tudo bem, tenho que aceitar que hoje não fui tão boa assim, mas a questão é que não sou nenhuma assassina. Por mais que eu tenha matado o Esteban e algumas outras pessoas, não nasci para essa vida. Só sei que quando senti o tiro acertando em mim cai no chão sem força alguma e ela também caiu, mas sentada se contorcendo de dor, já que estava acabada também. Ouvi um grande estrondo e minha visão já estava ficando embaçada, mas eu vi, eu vi o Ruggero vindo em minha direção desesperado e só queria tocá-lo uma última vez, mas não consegui pela dor que estava sentindo. Sim, realmente falei para ele me beijar. Não sei porque, não sei mesmo, mas no fundo algo me dizia que se eu não morresse ele iria e só queria guardar para sempre o nosso beijo de adeus. Senti minhas pálpebras pesarem e não consegui resistir mais, me entreguei verdadeiramente a escuridão.
[...]
Kah on·
Me remexo sentindo meu corpo deitado sobre algo macio. Faço esforço para abrir meus olhos e assim que consigo olho para os lados vendo que estou em uma sala toda branca. Teto branco, paredes brancas e chão branco. Meu olhar vai para baixo e vejo que estou deitada em uma maca com uma roupa branca. Tento me inclinar para sentar na cama, mas minha cabeça dói. Merda, aonde estou? A sala está completamente silenciosa, a não ser pela minha respiração. Assim que consigo me sentar na cama olho para trás ao ouvir barulhos de passos. Meus olhos se arregalam e um sorriso logo após se forma em meu rosto. Meu pai. Meu Deus! É ele mesmo. Sem perder tempo vou até ele e o abraço. Oh meu Deus! Não faço a mínima ideia da onde estou, mas isso não importa! Meu pai está aqui, diante de mim.

Ricardo: filha, quanto tempo!- ele se pronuncia pela primeira vez e me afasto com os olhos embaçados.
Kah: pai, é você mesmo?- pergunto sentindo uma lágrima cair e sinto sua mão ir de encontro com a minha bochecha para limpar a lágrima. Ele assente com um sorriso sereno e sinto uma felicidade imensa se formar dentro de mim, algo que não consigo explicar- Acho que finalmente nos encontramos de verdade, né?- pergunto com a voz calma e ele nega me fazendo franzir o cenho.
Ricardo: não, ainda não.- ele diz e se afasta um pouco me fazendo o olhar sem entender. Meu Deus, será que tudo isso é um sonho? Não, parece tão real!- Karol, outra vez você levou um tiro.- ele diz me fazendo suspirar, mas mesmo assim, eu ainda sinto uma felicidade imensa dentro de mim e não sei da onde vem- E dessa vez, diferente da primeira vez quando levou um tiro e eu disse para você acordar não irei fazer isso. Quero que seja uma escolha sua!- ele afirma, o sorriso em meu rosto some junto com a minha felicidade e agora só sinto tristeza. Olho para trás e vejo o... Ruggero? Não está dando para ver ele tão bem como meu pai, mas sei que é ele. Falando no meu pai quando voltei a olhá-lo ele estava mais distante, a mesma distância do Ruggero e de mim.
Kah: não entendo.- falo sentindo uma pressão em minha cabeça- Que escolha tenho que fazer?- pergunto confusa vendo que agora na direção do meu pai está vindo uma luz muito forte e clara. Desvio o olhar por causa da intensidade e olho para o Ruggero. Ele me olhava com um sorriso sereno, mas não dava para o ver nitidamente. Era como que seu corpo e seu rosto estivessem embaçados.
Ricardo: se vier comigo todo o seu sofrimento irá acabar. Não irá mais sentir dor!- ele afirma e dessa vez posso ter certeza que isso tudo é um sonho, mas não consigo acordar dele.
Kah: está falando que se eu for com você irei morrer?- pergunto calma.
Ricardo: sim, mas viverá em um mundo onde não tem mais dor e nem aflições.- ele diz enquanto a luz em sua direção vai ficando cada vez mais forte me fazendo desviar o olhar de novo e olhar para o Ruggero que mantinha a mesma expressão de antes. Nunca tinha o visto com uma expressão tão calma e serena. Sim, isso deve ser mesmo um sonho, um sonho que está começando a se tornar um pesadelo pela aflição que começou a tomar conta de mim.
Kah: eu quero ficar com o senhor- falo para o meu pai, mas olhando fixamente para cama que estava deitada a minutos atrás. Não consigo mais olhar para o meu pai por causa da luz fortíssima. De alguma forma sei que isso quer dizer que meu tempo está acabando.
Ricardo: então venha- ele diz e olho de relance vendo sua mão estendida para mim.
Kah: mas não posso deixá-los sozinhos.- falo me referindo ao Ruggero, minha irmã, meus amigos e minha mãe- Estou grávida também.
Ricardo: eu disse que hoje será uma escolha sua filha, mas não pode demorar para decidir. Se vier comigo sua vida será em paz. Poderemos aproveitar e nos conhecermos melhor, mas entendo se quiser ir com ele. Se for com ele irá ficar com as outras pessoas que ama, mas não quero que se sinta culpada por sua escolha quando acordar. Algum dia ainda iremos nos ver de verdade- ele diz e sinto uma lágrima cair em meu rosto. Por que essa decisão tem que ser tão difícil? Finalmente posso conhecer meu pai melhor, mas não quero deixar os outros que amo. O Ruggero continua calado enquanto o olho e estende sua mão para mim, assim como meu pai fizera antes. A luz na direção onde meu pai está, está tão forte que não consigo olhá-lo, apenas dizer.
Kah: eu prometo que nos veremos algum dia!- afirmo e sei que nesse momento meu pai está sorrindo. Mesmo que eu não esteja o vendo eu sinto isso.
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Kah on·
Sinto meu corpo sobre algo macio e tento mexer minhas pernas. Parece que elas estão cansadas de ficar na mesma posição o tempo todo, ou melhor, todo meu corpo parece estar cansado e doendo muito. Faço um esforço para abrir meus olhos, mas não consigo. Droga! O que está acontecendo? Onde estou? Será que eu realmente levei um tiro igual meu pai falou no meu sonho? Com certeza! Penso. Tento mexer minhas pernas novamente, dessa vez com sucesso e ouço uma voz cheia de alegria. Não consigo identificar quem é, só quero abrir meus olhos. Escuto mais vozes vindo do quarto e mãos me tocarem. Oh meu Deus! Por que o fato de não conseguir abrir meus olhos tem que ser tão agoniante? Sinto uma mão pegar na minha mão a acariciando e outra tocando em meu rosto, mas logo todos os contatos com o meu corpo foram quebrados fazendo com que eu abrisse os olhos de uma vez e posso ver um homem com jaleco branco em minha frente. Olho para os lados vendo que estou em um quarto grande e branco e deitada sobre uma maca enquanto meus amigos e amigas Valu, Lina, Mike e Agus me olham emocionados.

Valu: você acordou!- ela sussurra deixando lágrimas caírem por seu rosto e o homem de jaleco, provavelmente o médico sorri de canto.
Médico: como se sente Karol?- ele se aproxima da maca com uma prancheta e caneta na mão- Sou o médico que está cuidando de você e preciso muito saber!
Kah: c-cansada- minha voz sai arrastada e fraca. Eu sei que estou deitada provavelmente por algumas hora, eu acho, mas mesmo assim, estou cansada, meu corpo principalmente.
Médico: oh, imaginava!- ele dá um sorriso.
Kah: o que a-aconteceu?- minha voz sai um pouco mais firme dessa vez.
Mike: não se lembra?- ele franze o cenho.
Kah: um pouco. Acho que tomei um tiro, certo?
Lina: sim, daquela vadia da Can...- ela para de falar quando Agus a olha a repreendendo. Droga, além do meu corpo está doendo minha cabeça está doendo pra porra também. Estou me sentindo estranha, nem sei para onde olhar e principalmente o que falar.
Médico: provavelmente não deve estar entendendo nada, mas eu e principalmente seus amigos vamos te esclarecer tudo!
Kah: ok, ficaria feliz se pudessem me falar tudo agora- falo com sinceridade.
Médico: acho melhor que espere um pouco Karol. Você ficou desacordada por três dias e aconteceram muitas coisas, pode te fazer mal- ele me alerta e meu queixo cai.
Kah: t-três d-dias?- minha voz sai arrastada novamente e ele assente. Nossa, três dias, nunca poderia imaginar! Eu sei que pode parecer pouco, mas eu pensava que estava desacordada só por algumas horas.
Médico: sim, por isso acho melhor esperar um pouco até que se sinta realmente bem e quando tiver com um bom raciocínio.
Kah: ok, prefiro não retrucar!- afirmo sendo sincera. Imagino que tenha acontecido muitas coisas mesmo, ainda mais pelas feições dos meus amigos e sei que talvez tenha muita novidade pela frente. Falando em novidade, cadê o Ruggero? Oh meu Deus, e o meu bebê? Será que ele está bem? Só agora fui parar e consegui raciocinar um pouco em tudo o que está acontecendo.
Médico: agora por favor vocês poderiam se retirar? Vou fazer alguns exames na senhorita Karol e depois se tudo estiver realmente certo podem vê-la novamente- ele diz para meus amigos que assentem.
Valu: claro, mas ela já está melhor né doutor?- ela pergunta preocupada. Dá para ver que todos meus amigos estão muito preocupados comigo.
Médico: sim, está, mas é necessário fazer alguns exames. Algo mais?- ele pergunta gentilmente e meus amigos negam.
Mike: iremos ir. Fica bem Kah- meus amigos vem até mim depositando um beijo em meu rosto e depois saem. Suspiro fundo e encaro o médico a minha frente.
Kah: doutor...- minha voz sai embargada e ele me olha rapidamente tirando sua atenção que estava na prancheta- E meu bebê? Ele está bem?- sinto meus olhos se encherem de lágrimas só de imaginar que algo pode ter acontecido com o meu bebê. Não posso correr o risco de perder outro filho.
Médico: por incrível que pareça ele está ótimo, mas iremos fazer mais alguns exames para ver- ele sorri e finalmente consigo liberar o ar que nem sabia que estava segurando. Graças a Deus meu bebê está bem. Com toda certeza eu não iria conseguir me perdoar se eu perdesse outro filho novamente.

Love Barriers [CONCLUÍDA]Onde histórias criam vida. Descubra agora