• Capítulo 81

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Rugge: SEU PAI TAMBÉM NÃO ERA SANTO! ELE MATOU A MINHA MÃE!- ele grita com raiva e arregalo os olhos. Sinto minha respiração falhar e meu coração se acelerar.
Kah: O QUÊ? PARA DE FALAR MENTIRAS! VOCÊ NÃO CANSA?- grito sentido que a raiva dentro de mim não para de crescer. Estou frustrada, mal, mas acima de tudo brava e irritada pela forma como ele está se comportando como se matar meu pai fosse algo normal e agora ele vem com essa mentira!
Rugge: não é mentira!- ele tenta se acalmar.
Kah: sai da minha casa!- afirmo, vou até a porta e vejo que ele me segue. Sei que essa não é minha casa de fato, aliás nunca tive uma já que minha mãe nunca me considerou como filha mesmo, a casa do Ruggero nunca foi minha, muito menos a do Esteban e nem essa, mas quero que ele saia!
Rugge: Karol, não pode ficar agindo como uma criança. Temos que sentar e nos resolver!- ele afirma tão calmo que me pergunto como ele pode ser tão cínico? Caralho!
Kah: sai agora porra!- me viro para ele com raiva.
Rugge: sei que está brava, querendo exatamente me matar, mas não vou sair daqui até que me ouça, você querendo ou não!- bufo, olho para ele e começamos a nos encarar. Não sei se estou preparada para ouvir o que ele tem para me dizer, mas não posso continuar fugindo desse assunto e como ele já disse, ele não vai me deixar escapar, então de qualquer forma vou saber, eu concordando com isso ou não.
Kah: ok.- fecho os olhos suspirando. Porra, não acredito que concordei com isso! Ele solta o meu braço e por um momento me pergunto como a sua mão foi parar em mim? Estava tão estressada que obviamente nem percebi. Abro os olhos novamente e vejo que ele está andando de um lado para o outro- E então?- incentivo ele a falar já começando a ficar estressada, afinal ele vai me contar ou não?
Rugge: acho que você sabe que desde pequeno estou metido em coisas erradas. Tudo começou quando eu tinha onze anos e comecei a andar com alguns meninos mais velhos, de quatorze e quinze anos. A minha aparência e meu jeito, modo de falar e agir sempre fez com que as pessoas achassem que eu fosse mais velho, ou seja, com a mesma idade que os outros meninos que eu andava tinha. Eles mexiam com coisas erradas e estava tão curioso para descobrir novas coisas e também com medo deles deixarem de ser meus amigos que acabei entrando na mesma que eles. Eles roubavam algumas coisas de lojas, sempre faziam brincadeiras de mau gosto e não vou mentir, eu gostava! Achava que aquilo era ter amigos e tudo era divertido para mim. Eu ria só de atirar tomates na casa dos outros e depois sair correndo, aquela era minha vida, a vida que eu estava aparentemente gostando! Só que aí como nem tudo são flores comecei a participar de jogos que valia muita grana. Meus olhos brilhavam só de pensar que estava a um passo de ajudar o meu pai e a minha mãe.- ele fala e sei que está sendo sincero em tudo o que está dizendo. Não sei como, apenas sei!- Só que me meti em uma dívida e por acaso era com a gangue do seu pai. Não sabia dessas coisas de gangue ainda, só roubava com os meninos que chamava de amigos e irritava os outros.- ele dá um longo suspiro. Sei que ele está se abrindo agora comigo e estou feliz por isso, só gostaria que tivesse sido antes!- Enfim, não consegui pagar a dívida com o seu pai. Era de vinte mil reais e meus pais não recebiam nem o salário mínimo, fora que não podia nem falar para eles o que estava acontecendo, pois iriam ficar furiosos comigo! Fiquei desesperado durante essas duas semanas do prazo que seu pai me deu e procurava loucamente por alguém que pudesse me emprestar o dinheiro e depois eu falava que acharia uma forma de devolver, já que mesmo se eu procurasse um trabalho não daria certo, pois era muito novo. Os meninos que eu achava ser meus amigos não me ajudaram e fingiam que não me conhecia. Fiquei puto pra caralho na hora, mas não pude fazer mais nada além de continuar a procurar a grana, mas não consegui! Duas semanas se passaram e seu pai que nunca me esqueci do rosto entrou dentro da minha casa. Não pergunte como ele conseguiu, nem eu sei, mas depois descobri que ele tinha uma das maiores gangues então certamente foi por isso. Fiquei nervoso na hora e sem saber o que fazer! Meu pai não estava em casa, apenas eu e minha mãe e quando ela saiu da cozinha e viu dois homens mascarados e um usando uma arma sem máscara, o seu pai, ela ficou assustada! Não sabia o que fazer, pedi para ele mais um prazo e ele não me deu, apenas foi na direção da minha mãe e começou a bater nela. Tentei correr e ajudar ela, mas apesar de que eu era um menino que parecia ter quatorze ou quinze anos continuava sendo um garoto de onze. Os outros dois homens me seguravam enquanto vi seu pai atirar em minha mãe depois de torturá-la e foi a pior cena e dia da minha vida! Aí percebi que o que eu fiz, a dívida e todas as consequências que eram para ser minha foi nela, então depois decidi que ia matar o cara que fez aquilo- ele diz e minha boca está aberta em choque. Oh meu Deus!
Kah: era por isso que não gostava de falar sobre o assunto?- ele assente. Tenho medo porque ele ainda não está mostrando nenhuma emoção. Como ele consegue esconder tanto seus sentimentos?
Rugge: meu pai chegou horas depois e não tive coragem de mostrar o corpo da minha mãe, mas não tinha outra saída, ele viu! Naquele dia apanhei depois de ser obrigado a contar a verdade toda para ele, pois não tinha mais para onde fugir! Realmente mereci apanhar e o fato de apanhar era menos doloroso do que a dor da perda da minha mãe. Meu pai saiu de casa depois disso, chegou bêbado e o fruto disso foi uma mulher grávida dele aparecer depois de algumas semanas. Lembro que na época fiquei muito puto, comecei a roubar bebidas de lojas para beber e minha relação com meu pai ficou horrível, mas depois que vi o Leo pela primeira vez quando nasceu minha raiva pareceu diminuir, mas continuei puto com meu pai por ter agido sem pensar, porém aí me lembro que isso tudo foi por minha culpa! E a mulher? Ela sumiu depois de dar a luz e meu pai sofreu muito cuidando do Leo literalmente sozinho, principalmente os primeiros anos. Ela queria abortar na verdade, mas meu pai não deixou e quis assumir.- sinto uma lágrima quente cair em minha bochecha com toda essa história- Depois de eu fazer doze anos e da poeira baixar passei pelo inferno até entrar em uma gangue. Fiquei três meses em treinamento, fui torturado milhões de vezes, pois isso era como um teste de resistência. Levei vários tiros que não eram para me matar, mas também se acontecesse eles não ligavam, queriam mesmo testar a resistência. Os tiros doíam pra porra, também tive que raspar o cabelo na época e vivia em cela até finalmente entrar na gangue. Era um inferno tudo aquilo, literalmente! Tive que ficar longe do meu pai por esse tempo, larguei os estudos e ele teve que cuidar da criança sozinho, mas eu falava para mim mesmo que aquilo tudo era por uma boa causa. Depois do treinamento de três meses tive que voltar aos estudos, mas nem estudava direito, só me importava com a gangue. A gangue na época era do pai do Esteban, que era a rival do seu pai, então consequentemente queria entrar por isso. Por isso também Esteban sabia que matei o seu pai, porque na época que seu pai morreu Esteban já iria assumir o lugar do pai dele já que o mesmo estava muito doente e depois morreu. Eu teria assumido o lugar do pai dele na verdade se tivesse matado o seu pai antes da morte do pai do Esteban, porém seu pai foi morto por mim depois, então por isso não assumi como chefe e também porque era muito novo, mas isso não importava para mim, só queria matar o homem que matou a minha mãe. Entrei com doze anos nesse mundo e quando tinha treze anos depois de alguns meses invadimos a casa do seu pai. Ficamos sabendo que ele estava indo pra lá e era a nossa única chance de matá-lo já que ouvimos boatos que ele iria viajar para longe logo após. Lembro que foi tudo muito rápido! Alguns capangas da gangue do pai do Esteban estavam ao redor da casa e alguns entraram pelo porão, enquanto isso entrei pela porta de trás e vi o homem que tirou a vida da minha mãe conversando com uma mulher, a sua mãe. Estava com tanta sede de vingança que não pensei duas vezes antes de chegar nele. Eu queria matá-lo logo, mas precisava também falar umas poucas e boas para ele. Assim que atirei depois da mulher ao seu lado implorar para parar me senti satisfeito, os capangas do pai do Esteban entraram na casa e assim que viu o chefe rival morto comemoraram pela vitória enquanto sua mãe saiu correndo para não ser pega. Não foi tão difícil matar seu pai, pois ele não estava armado já que o pegamos de surpresa. Depois disso continuei na gangue. Meu pai era o único de fora que sabia que tinha matado o homem que matou a minha mãe, mais ninguém além também dos capangas da gangue. Ele não ficou tão feliz como achava que fosse e pediu para eu sair desse mundo, mas não o ouvi! Estava tão feliz com tudo que fiquei cego e só queria matar, roubar e torturar mais as pessoas até eu chegar aqui. Por um momento pensei em desistir de tudo, mas Esteban começou a me perseguir quando sai da sua gangue e não tive outra escolha a não ser criar uma também.- ele suspira terminando de falar e limpo as lágrimas que caíram durante a história. Isso tudo para mim é tão confuso! Sei que meu pai foi cruel em tudo isso, mas mesmo assim, ele continua sendo meu pai e ouvir sair da boca do Ruggero que ele o matou me dói! Não sei o que pensar nessa história e a minha mente está em uma batalha imensa! Ouvir tudo isso do Ruggero foi um choque para mim do quanto ele sofreu, mas ele sofreu por culpa dele mesmo! Ele só entrou nesse mundo porque escolheu andar com amizades erradas, ele sabe muito bem disso! Me parte o coração ouvir ele falar sobre tudo isso sem nenhuma emoção, sem nem sequer derramar uma lágrima enquanto estou chorando por uma história que nem é minha, bom, por partes sim, mas sei também que o Ruggero não mostra muito os seus sentimentos. Tanto é que só vi de fato uma vez- Não vai falar nada?- ele pergunta quebrando o silêncio.
Kah: não tenho nada para falar!- afirmo sendo sincera, afinal ele quer apenas que o perdoe, mas não é tão fácil assim! Se fosse fácil até eu estaria melhor!
Rugge: é sério isso?- a decepção é explícita em seu rosto- Acabei de contar toda a história e não tem nada para me dizer?

Love Barriers [CONCLUÍDA]Onde histórias criam vida. Descubra agora