arabella [zm]

03

"Então, Arabella, como se sente?"

Doutora Solther perguntou assim que me sentei em uma poltrona a frente da sua mesa.

"Na mesma." Afirmei, num tom baixo e ela olhou-me.

"Olhou-te ao espelho?" Ela fitou-me por instantes e respirei fundo enquanto assentia.

"Então estamos progredindo" Sorriu-me de lado e eu dei ombros.

"Qual o próximo passo?" Perguntei um pouco sonolenta, por não ter dormido muito depois das aulas.

"Era sobre isso que eu iria falar." Se levantou da sua cadeira, enquanto arrumava o seu liso jaleco branco.

"O quê?" Perguntei, realmente confusa.

"Hoje nós iremos ao ar livre. Você precisa se acostumar com a cidade movimentada, os ruídos, as pessoas, os sorrisos..."

Ela afirmou, me fazendo negar.

"Não, eu não vou sair!" Falei num tom de voz mais alto.

"Arabella, isso não é uma autorização. É um mandamento, faz parte do tratamento."

Ela afirmou, tentando pegar em minhas mãos e eu recuei.

"Não! Eu não suporto todos os barulhos possíveis transmitidos por seres humanos ou pelo que eles constroem. E olhe o frio que está lá fora. Aonde que nós iríamos?"

"Arabella, nós vamos ao Central Park. Eu preciso que você se acostume com barulhos. Disse-me que ama o som do piano, mas uma nota errada e você ficaria muito incomodada e veja, você ainda o adora." ela falou-me tranquilamente

"Eu gosto porque me acalma, os sons que me transmitem paz! O meu cérebro não rejeita esse som, ele gosta, é um som agudo mas que fica na minha cabeça de modo que cada neurônio meu se acalme" Eu gritei e ela parecia surpresa.

"Arabella, por favor vamos tentar, esses sons são os mesmos que você ouve na sua escola, são os mesmo ruídos mas em locais diferentes. Você pode se acostumar, aprender a ouvir as coisas com mais clareza, só basta você ouvir as coisas de outro modo." Ela esclareceu, num tom de voz baixo e calmo.

"Não! O Mutismo Seletivo me deixa sensível a muitos sons." Falei, um pouco mais calma.

"Não, o Mutismo Seletivo te deixa impossibilitada de ouvir música alto, de ouvir gritos histéricos e sons que te atormentem. Mas você pode aprender com o tempo. Se você quiser, você pode ouvir um som de rock, é só aprender a ouvir de outra maneira. Precisa desligar a mente e não pensar nesse problema que você tem, Arabella. Tudo tem uma cura, seja ela a música, ou amor."

"Eu não quero sair, não hoje." Murmurei para ela.

"Tudo bem. Então, eu vou marcar para outro dia."

Ela afirmou, se levantando e indo até a frente do seu computador.

"Obrigada."

Agradeci, fazendo-a sorrir.

"Então, aconteceu algo nesses dois dias?"

Eu costumava ter consultas com ela segunda, quarta e sexta. Eu queria contar para ela sobre o acontecimento de Zayn, sobre as brigas que eu ouvia dos meus pais, mas eu não sou boa em expressar sentimentos.

"Algumas coisas." Falei e ela me encarou.

"Quer me contar?" Doutora Solther voltou a se levantar e vir até ao meu lado.

Eu preciso pelo menos falar o que aconteceu comigo e Zayn.

"Um amigo..." eu comecei, vendo um expressão radiante se formar no rosto dela.