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Nova York, 27 de Fevereiro de 2015. 

"Se importa?"

A voz da Doutora Solther soou pela a enorme sala revestida com tons de branco e marrom. Balancei a cabeça negativamente e a pude ver suspirar. Sim, isso também é difícil para mim.

"Então Arabella, será que pode me dizer qual o seu nome inteiro e sua idade?" Ela me questionou, como sempre fizera nas consultas.

E, como todas as vezes, eu nunca respondia. Eu não gostava de falar com ela, na verdade, não gostava e não conseguia falar com ninguém. 

"Vamos, eu sei que você consegue."

Ela me encorajou mais uma vez e eu engoli em seco, minha cabeça permanecia baixa e meus olhos estavam postos em minhas pernas, enquanto brincava com os meus próprios dedos nervosamente. 

"Meu.." Parei de falar assim que vi um pequeno gravador preto em cima da mesa branca. Eu não queria ser gravada, não queria que minha mãe ouvisse as tais palavras que gostaria de dizer mas não consigo.

"Algo te incomoda, Arabella?" Perguntou-me.

Assenti e apontei para o gravador.

"Você não quer ser gravada?"

Neguei, vendo ela respirar fundo e pegar no gravador. Doutora Solther desligou e colocou dentro do bolso do seu jaleco branco.

"Meu.. meu nome é Arabella Ward e tenho dezesseis anos, quase dezessete." Murmurei, ainda com a cabeça baixa.

"Quando você faz aniversário Arabella?"

Eu sabia que ela estava tentando socializar comigo novamente, mas sei que em algum momento, ela vai tocar no mesmo assunto e eu vou me fechar, me calar novamente.

"Faço 27 de março." Resmunguei em baixo tom, ao lembrar que faltava exatamente um mês para o meu aniversário de 17 anos.

"Arabella, você gosta de festas?" Ela perguntou e eu ri levemente.

"Preciso que me olhe diretamente nos olhos, Arabella." Afirmou.

Eu simplesmente neguei, não consigo fazer contato visual com uma pessoa por muito tempo, é intrigante o fato dos olhos mostrarem a alma das pessoas, o mundo dentro delas. Eu não gosto de olhar diretamente nos olhos das pessoas, é como se eu estivesse invadindo a privacidade dos pensamentos de alguém. 

"Não, eu não gosto. Não consigo ficar em lugares lotados ou com muitos ruídos."

Eu disse suavemente e ouvi seus saltos pretos embaterem contra o chão e o assento ao meu lado afundar. Recuei até a ponta com um contato muito próximo e ela chegou mais perto, me encurralando.

"Arabella, por favor, me olhe. Eu quero mostrar algo."

Ela tocou no meu braço e eu segurei a minha respiração, enquanto fechava os olhos. Senti ela tocar meu queixo e puxar a minha cabeça na sua direção.

"Agora, abra os olhos" Pediu-me e eu neguei.

"Vamos, você consegue" Ela afirmou, acariciando a minha bochecha e eu respirei fundo. 

Abri os meus olhos lentamente e pude ver a mulher de seus cinquenta anos de idade, cabelos com fios loiros puxados para o branco, perfeitamente arrumados. Os olhos negros e grandes e o seu rosto tinha algum vestígio de maquiagem clara.

"Vê, não é nada demais." Ela disse, me encarando.

Logo, afastou-se de mim e assim pude relaxar. Continuei a olhar o seu rosto, prestando atenção em alguns detalhes e ela parecia feliz com isso.

arabella [zm]Where stories live. Discover now