EXTORSIONÁRIO [L.S]

By trouxapeloharry

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EXTORSIONÁRIO: aquele que prática extorsão. Extorsão é o ato de obrigar alguém a tomar um determinado compor... More

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epílogo
nota final & agradecimentos.
depois do fim
trailer final
🤍
Ebook de extorsionario (parte 1)

30

25.6K 3K 20.8K
By trouxapeloharry

Denver, Colorado.
28 de fevereiro de 2017.

Eu tenho tentado seguir a minha vida.

Tenho feito tudo o que costumava fazer antes do assalto e tenho feito coisas além disso. Continuo trabalhando o máximo que posso, tentando redirecionar a minha tensão para outro lugar. Continuo me reunindo com Niall às quartas-feiras buscando algum fio de esperança no caso de Louis e aproveitando uma boa companhia de um velho amigo. Também tenho tentando aproveitar o tempo livre para dirigir sem rumo pelas estradas do Colorado buscando algum conforto para o meu coração apertado.

O único problema é que Louis está presente e ecoa em meus pensamentos em todos os momentos em que a minha mente se torna minimamente livre. Eu foco tanto em outras coisas para não tentar pensar nele o tempo inteiro, mas basta apenas um descuido e ele povoa a minha cabeça.

Por mais que eu queira e me esforce para me desligar um pouco, eu simplesmente não consigo.

Tenho ciência de que fui imprudente em me deixar ser guiado por um sentimento que nunca deveria ter existido para início de conversa. Eu sabia que Louis era um bomba-relógio prestes a explodir e me explodir junto, mas o coração é mesmo traiçoeiro.

Eu sei de tudo. Sei que ele me usou, sei que ele me manipulou enquanto pôde, sei que ele me roubou e talvez nunca seja capaz de se desculpar por isso, sei que ele não tem a melhor das índoles, sei de todos os seus crimes, sei que ele será condenado e sei que é impossível construir um futuro ao lado dele.

Eu sei de tudo isso… eu nunca estive tão consciente, mas, eu também sei que se eu não seguir meu coração, eu irei me arrepender no futuro. Eu quero me arrepender de ter tentado tudo, de ter me exposto, de ter dado a cara a tapa, de ter feito o que eu poderia fazer.

Eu quero saber até onde meu coração aguenta, eu quero sentir os baques, eu quero o choque, eu quero me sentir vivo.

E é isso o que Louis sempre fez, ele me fez sentir vivo quando eu achava que nada mais restava em mim.

Durante um período da minha vida eu estava no topo da colina. Eu não tinha mais objetivos, mais metas, mais obstáculos. Eu consegui chegar ao topo e quando eu cheguei lá, percebi que não havia mais nada a ser feito e nem a ser conquistado, então, eu simplesmente estagnei. Eu olhava o horizonte sem nenhum estímulo, já que tudo que eu tinha me proposto na vida, eu já tinha cumprido no auge dos meus 28 anos. Eu me tornei engessado pela vida.

Até Louis chegar e virar meu corpo, me fazendo enxergar a beleza que é apreciar uma vista por completo. De um lado escura e cinza e do outro um lindo e perigoso pôr do sol num céu azulado.

Eu sabia que eu poderia cair pela virada brusca, mas eu me encantei, eu me encurralei, eu me prendi. Eu permiti que meu coração fosse feito de refém por ele.

Eu não me importava com o perigo; naquele momento, tudo o que eu quis foi apreciar a vista.

Sei também que ele sabe disso, já que no último mês ele tem tentado me afastar de todas as formas possíveis. Sempre que ele me vê na sala de visitas ele vem todo rabugento tirar satisfações do porquê eu ainda estar insistindo nisso, mas quando ele percebe que mesmo disparando suas armas contra mim, ele não me atinge, ele acaba desistindo. Eu sempre vou ao presídio de duas em duas semanas, ou quando a visita é permitida. 

Com a aproximação do julgamento, tenho ficado mais nervoso e tenho sido mais precavido. Tenho que tomar mais cuidado com a mídia que tem ficado em cima de mim para que eu dê alguma entrevista. Além do mais, o meu caso ficou famoso e as pessoas podem me reconhecer a qualquer momento, então dessa vez, eu precisei tomar algumas providências para visitá-lo.

O bom de Niall ser advogado criminalista, é que ele conhece bem as brechas do sistema e do presídio, e ele intermediou uma conversa entre mim e um policial penitenciário de índole duvidosa.

E é nessas horas que eu percebo mais uma vez que Louis estava completamente certo quando disse que dinheiro pode não comprar tudo, mas ele compra muita coisa.

Ele inclusive compra uma sala no presídio, onde eu possa encontrar de forma íntima e a sós com ele, mesmo a visita íntima ainda não tendo sido permitida.

"Aproveitem os trinta minutos." O guarda aparece na porta segurando Louis pelo braço. Ele se vira para Louis e o encara. "E você, não tente nenhuma gracinha ou você sabe as consequências."

Louis me encara enquanto eu permaneço sentado no banco longo da única mesa quadrada disponível na sala vazia e franze as sobrancelhas enquanto o guarda o solta voltando para grade e fechando-a, permanecendo em pé em frente a porta e de costas para nós dois.

"E olha que eu jurava que estava indo para o corredor da morte de forma forçada." Ele comenta ao se aproximar e eu solto uma risada baixa e nervosa.

Com as mãos algemadas, ele passa uma das pernas para dentro do banco e se senta de frente a mim dessa vez. Minhas pernas permanecem para dentro da mesa e eu me viro levemente de lado para encará-lo. Nós nunca ficamos tão próximos desde que ele foi preso e meu coração dispara por essa aproximação.

Quero tocá-lo e sei que ele vai me repelir, mas mesmo assim, eu passo meus braços em volta do seu ombro e o puxo para perto, me afundando na curva do seu pescoço. Suas mãos algemadas permanecem entre nós dois, mas ele não me empurra e nem me para.

"Eu posso não estar cheiroso." Ele comenta baixo e eu solto uma pequena risada. "Esse spa é péssimo para banhos."

"Você sempre está cheiroso." Sussurro, mesmo não sentindo o cheiro típico de sua colônia, porém sua pele sempre me cheira a limpeza e frescor.

"Posso começar a falação ou você quer aproveitar o abraço por mais tempo?" Ele diz e pousa os lábios em meu pescoço, me causando um arrepio imediato.

Qualquer toque dele parece mais intenso do que nunca e eu praticamente estremeço em seu abraço.

"Eu quero aproveitar por mais tempo." Sussurro, me aninhando ainda mais em seu pescoço, fechando os olhos.

Quando ele traça uma linha de beijos desde meu ombro até abaixo da minha orelha eu só consigo implorar para que o tempo pare nesse momento para que eu possa sentir seus lábios em minha pele para sempre.

Solto um suspiro alto e ele parece tentar de algum modo ter um pouco mais de contato, mesmo tendo os movimentos limitados.

"Malditas algemas." Ele diz baixinho entre os dentes.

Me afasto levemente de seu corpo e encontro o seu olhar no meu. Seus olhos ainda são duros, mas eu sei que ele precisava desse abraço tanto ou até mais do que eu.

"Como você está?" Pergunto.

"Já acabou o abraço?" Ele ignora a minha pergunta e eu assinto rapidamente pressionando os lábios evitando um sorriso porque sei que a falação irá começar. "Que caralho de sala é essa, Harry?"

"Uma sala do presídio." Dou de ombros, tentando soar despreocupado.

"E como você conseguiu essa sala do presídio, oh minha preciosidade?" Ele diz de forma irônica e eu não contenho um riso baixo que me escapa.

"Eu tenho contatos."

"Você subornou os guardas." Ele afirma rapidamente.

"Baby, eu sou um advogado de prestígio, eu não pratico suborno."

Ele estreita os olhos em minha direção, parecendo avaliar o meu olhar e nega com a cabeça.

"Você subornou os guardas, seu filho da puta."

Solto uma risada baixa e mordo os lábios rapidamente, enquanto seus olhos ainda me queimam.

"Não foi suborno, foi um agrado." Digo em minha defesa.

"Agrado, meu pau. Suborno agora tem outro nome?"

"Qual é, Louis. Eu precisava ficar a sós com você, ter mais tempo, mais privacidade. Eu não posso ficar sendo visto aqui." Tento justificar. "Ganhamos uma sala e trinta minutos."

"E quanto você pagou nessa brincadeira?" Ele franze as sobrancelhas de forma séria e eu engulo em seco.

"Nada. Niall conseguiu pra mim." Respondo rápido.

"Harry, você não sabe mentir. Quanto você gastou?" Ele insiste.

Permaneço em silêncio por um instante enquanto seus olhos permanecem nos meus. Ele arqueia as sobrancelhas como se esperasse uma resposta e eu solto um suspiro.

"Cinco mil." Respondo baixo.

"O quê? Puta que pariu!" Ele exala, negando com a cabeça parecendo irritado. "Eu desisto de você, baby."

"Nem foi tanto assim. Se eu soubesse que eu só precisava molhar a mão dos guardas, eu já teria feito isso há mais tempo." Digo de forma firme.

"E eu já disse que eu não quero que você gaste mais porra nenhuma comigo, Harry. Você não entende isso, caralho?"

"Eu estou gastando comigo." Digo e Louis revira levemente os olhos, ainda parecendo irritado.

"Quer saber? Faz o que você quiser. Eu já desisti faz tempo." Ele solta uma respiração pesada e deixa os ombros penderem levemente para frente, como se estivesse de fato desistindo.

"Posso fazer o que eu quiser?"

"Você já não faz?" Ele ergue uma sobrancelha.

"Não." Respondo baixo e encaro seus olhos.  "Porque se eu fizesse tudo o que eu quisesse, eu  teria beijado a sua boca no momento em que você passou por aquela porta."

Seu semblante vacila por minhas palavras e ele trava levemente o maxilar ao me encarar. Observo sua garganta se contrair de leve enquanto ele engole em seco.

"Oh, porra." Ele sussurra. "Colabora comigo, baby."

"Você não quer me beijar?" Sussurro de volta.

"Não." Ele hesita.

"Ah, achei que quisesse." Dou de ombros.

"Caralho, Harry, você não facilita a porra da minha vida." Ele leva as mãos algemadas até o rosto, apertando as têmporas por um instante enquanto fecha os olhos.

"Então estamos quites, porque você também nunca facilitou a minha."

Ouço sua respiração pesada enquanto observo seus olhos fechados e uma ruga brotando no meio da sua testa.

"Eu sonho com essa porra dessa boquinha linda e afiada todos os dias." Ele confessa baixo e de olhos fechados, causando um burburinho no meu estômago, e então abre os olhos para mim. "Mas eu preciso que você entenda que eu não-"

"Blá blá blá. Você fala demais." O interrompo revirando os olhos enquanto ele me encara com olhos azuis fuzilantes. "Nossa, parece que invertemos os papéis e tudo o que você faz é não calar essa boca. Você ainda não percebeu que eu não vou desistir, Louis? Que saco!"

"Você perdeu mesmo o medo, não é? E gosta de me enfrentar." Ele sussurra. "Pois saiba, baby, que mesmo com as mãos algemadas eu ainda sou capaz de muita coisa."

"Me prove então." Provoco, me aproximando do seu corpo, pareando meu rosto com o dele. "Me mostra o que você sabe fazer com suas mãos algemadas."

"Harry, não me tire do sério." Ele dispara entre os dentes e eu o ignoro.

"Se você quer beijar a minha boca, beija a porra da minha boca." Digo encarando os seus olhos. "Pare de dar desculpas."

Seus olhos me queimam e ele permanece me encarando. Eu não vou recuar e ele sabe disso.

"Eu não estou dando desculpas."

"Não?" Pergunto arqueando as sobrancelhas. "Ah, mas eu vou te machucar, eu vou te fazer sofrer… isso não é desculpa, Louis?"

"Isso é um fato." Ele dispara.

"Foda-se se é. Eu sou responsável pelo o que eu me permito sentir. E eu permito o que vier." Digo encarando os seus olhos. "A vida é assim, Louis, a gente leva soco atrás de soco, toda hora. Mas não se apegue à sua auto sabotagem para tentar me provar que você não me quer porque se acha indigno de mim. Você me quer o mesmo tanto que eu te quero. Você só não sabe como me dizer isso e tenta me insultar para que eu desista. Mas olha só, eu n-"

Minhas palavras morrem no exato momento em que ele inclina o rosto e sua boca se encontra de forma bruta com a minha, me arrancando um suspiro surpreso abafado por seus lábios.

Levo minhas mãos até a sua nuca e fecho os olhos sentindo sua língua me invadir me causando uma infinidade de sensações. Tento demonstrar a saudade que senti, do seu toque, dos seus beijos, dos seus lábios e invado sua boca com carinho, com pressa, com desejo. Abraço o seu corpo enquanto nos beijamos, e sinto todo o seu desejo por mim, mesmo suas mãos estando retidas e impossibilitadas de me tocarem.

Louis separa minimamente as nossas bocas e cola a testa na minha por um instante.

"Te beijei só pra você calar essa porra dessa boquinha linda e mais afiada do que nunca." Ele sussurra em meus lábios e volta a me beijar.

Sorrio em meio ao beijo e ele morde meu lábio inferior, o puxando e o sugando logo em seguida. Praticamente gemo em seus lábios sentindo um gelo em meu estômago e levo minhas mãos até suas bochechas, fazendo um carinho em seu rosto, sentindo a sua pele macia sob os meus dedos.

Tenho vontade de chorar. Não sei nem ao certo porquê.

"Que saudade dessa boquinha gostosa do caralho." Ele sussurra ao separar nossos lábios. "Puta que pariu, baby. Que tesão. Eu poderia facilmente gozar só com a sua boca na minha."

Suas palavras me causam um arrepio gostoso no fim da espinha e eu mordo os lábios ainda de olhos fechados, sabendo que eu também estou completamente excitado.

"Cuidado para não confundirem seu pau com uma arma quando você voltar para a cela." Brinco em seus lábios. "Podem querer te revistar e te acusar de porte de armas."

Ele solta uma respiração pesada em minha boca, algo que parece uma risada involuntária e sorri pra mim, negando levemente com a cabeça.

"Você é um imbecil." Ele sussurra e volta a me beijar.

Sei que assim como eu, ele também quer aproveitar os poucos minutos que nos são concedidos e eu quero beijá-lo até que a minha boca fique dormente.

Mesmo sabendo que não podemos ultrapassar os limites, seu beijo se intensifica e eu me aproximo até estar no meio das suas pernas. Eu quero o máximo de contato possível, eu quero cada pedacinho dele, eu quero seus gemidos em meio ao beijo, eu quero suas arfadas em minha boca, eu quero tudo o que sou limitado a querer agora.

Estou tão envolvo no encanto dos seus lábios, que não sei quanto tempo se passa quando o guarda bate na grade nos assustando e nos fazendo interromper o beijo.

"Cinco minutos." Ele diz.

Louis pressiona a testa na minha e beija meus lábios rapidamente.

"Como você está?" Dessa vez é ele quem pergunta.

"Eu estou bem." Me afasto minimamente apenas para olhar seus olhos azuis. "E você? Está bem?"

"Estou." Ele diz rapidamente. Não sei se acredito, porém sei que é o máximo que irei conseguir arrancar dele.

"E sua mãe?" Pergunto em ponderação.

"Está na mesma."

"Eu gostaria do endereço dela. Gostaria de fazer uma visita quando for possível."

"Você não precisa fazer isso." Ele sussurra em meus lábios, me encarando.

"Eu sei que não, baby, mas eu quero."

Ele solta uma respiração pesada e me encara como se ponderasse. Mordo o interior da bochecha ainda o encarando quando ele diz:

"Johannah Tomlinson, Denver Memorial Center."

Memorizo os dados e sei bem onde o hospital fica. Concordo com a cabeça rapidamente, sabendo que quero visitá-la para que eu possa ao menos dar notícias dignas a ele.

"Eu irei assim que eu puder." Digo e pressiono meus lábios nos dele passando meus braços por seus ombros.

Meu coração começa a se apertar porque sei que o que temos agora é limitado, mesmo eu querendo ficar mais tempo assim com ele. Não sei quando poderei vê-lo novamente depois do julgamento e nem se conseguirei outra visita dessas tão cedo.

"O seu julgamento é daqui dois dias." Digo baixinho, ainda bem próximo ao seu rosto e ele assente com a cabeça."Como você está se sentindo?"

"Normal." Ele diz, parecendo despreocupado.

"Não está nervoso?"

"Nem um pouco, e eu não quero que você fique também." Ele diz de forma firme. "O que for pra ser, será."

Mesmo hesitante, eu concordo com a cabeça e volto a encostar a minha testa na dele.

"Me beije nos últimos instantes que nos restam." Peço baixinho, fechando os olhos. "Me beije e me faça sentir como eu me senti naquela estrada… como se o mundo inteiro pertencesse somente a nós dois."

Ele me encara com os olhos azuis mais lindos que eu já vi e aproxima os lábios dos meus, me arrancando um suspiro. Então, ele me beija, exatamente como eu pedi.

Denver, Colorado
02 de março, 2017.

Reportagem: Começa hoje o julgamento de Louis William Tomlinson, acusado de crimes como assalto, extorsão, assassinato… sendo o mais recente deles o assalto e sequestro do empresário e advogado Harry Edward Styles.  Louis foi preso no dia 08 de dezembro de 2016 numa emboscada da polícia e se entregou sem resistência. Ele está preso no presídio de Denver enquanto aguarda o julgamento. A promotoria rejeitou o acordo proposto pelo advogado de defesa que consistia em vinte anos de prisão com a possibilidade de condicional após cinco anos e rebateu com a oferta de quarenta anos sem possibilidade de condicional. Como não houve acordo entre as partes, Louis Tomlinson enfrentará o júri popular nesta manhã. Voltaremos a qualquer momento com atualizações sobre o caso.

A minha entrada na sala da corte só foi permitida na parte da tarde. A parte da manhã foi toda utilizada para o julgamento dos crimes que não me envolviam. Niall não pôde ter contato comigo e eu não sei bem quão favorável é a situação e nem como foi a reação dos jurados.

Eu acho que nunca estive tão nervoso em toda a minha vida. Nem no dia do assalto eu estive com o meu coração tão apertado e apreensivo como agora.

Estou no banco atrás da promotoria, e apesar dos meus olhos buscarem por Louis o tempo inteiro, seus olhos não se encontram os meus. Ele mantém a cabeça baixa, brincando com os próprios dedos em cima da mesa, parecendo inerte e distraído diante da situação. O macacão laranja ainda adorna o seu corpo, e eu não sei se foi exigência da corte ou se ele simplesmente não quis usar as próprias roupas para o seu julgamento.

Estou distraído olhando para ele quando me assusto quando a promotora se levanta em minha frente.

"A promotoria chama John Stell para depoimento."

Olho para trás e vejo um homem entrar pela porta da sala. Tento buscar na memória, mas o meu nervosismo não me faz recordar de quem seja. Ele caminha pelo corredor e jura perante o juiz antes de se sentar.

A promotora se encaminha para frente da cadeira e o encara antes de perguntar:

"Senhor Stell, o senhor estava no posto Texaco no dia 18 de outubro de 2016?"

Merda. É o cara da moto que Louis assaltou quando ele abandonou meu carro no caminho até a cabana.

"Sim." Ele responde.

"O senhor foi abordado por este indivíduo?" A promotora se vira e aponta para Louis, que não faz questão nenhuma de erguer o olhar.

"Sim."

"O senhor pode contar ao júri como isso aconteceu?"

"Eu estava abastecendo quando fui abordado por ele. Ele apontou uma arma para mim e me pediu que eu entregasse a moto. Ele estava acompanhado do advogado naquele dia, na hora eu nem percebi, mas depois com as reportagens de televisão, eu soube que eram os dois." Ele diz baixo.

"Então ele te abordou a mão armada?" A promotora pergunta.

"Sim." Ele responde.

"Sem mais perguntas. Testemunha à disposição da defesa." Ela diz e volta para a mesa, se sentando logo em seguida.

Observo Niall se levantar e ajeitar o paletó antes de caminhar lentamente até estar parado diante do homem, e meu coração acelera.

"Senhor, Stell, em sua abordagem, Louis utilizou de força excessiva?" Niall pergunta.

"Não." Ele responde.

"Ele em algum momento te agrediu?"

"Não."

"O senhor disse que o Sr. Styles estava presente no momento do roubo, correto?" Niall pergunta e ele assente. "O senhor se lembra de qual era o comportamento do Sr. Styles na presença de Louis William Tomlinson?"

"Objeção meritíssimo." A promotora intervém. "Qual a relevância da pergunta dirigida a testemunha?"

"A relevância, meritíssimo, é rebater os agravantes introduzidos pela promotoria que alegam que o meu cliente agredia fisicamente e ameaçava o Sr. Styles com uma arma de fogo durante todo o momento em que esteve com ele." Niall retruca.

"Objeção negada." O juiz diz e lança um aceno de cabeça para Niall. "Pode continuar."

"O senhor se lembra do comportamento do Sr. Styles aquele dia, senhor Stell?"

"Foi tudo muito rápido, mas pelo o que eu me lembro, Styles não parecia estar sendo coagido. Ele estava apenas aguardando os comandos dele." Ele responde e eu prendo o ar nos pulmões.

"Ele apontou a arma para ele em algum momento de sua abordagem?" Niall continua.

"Não."

"E estavam em local público, onde o senhor Styles podia pedir ajuda ou fugir a qualquer momento, correto?"

"Sim."

"Sem mais perguntas, meritíssimo." Niall diz e se vira, voltando a se sentar na mesa ao lado de Louis.

Solto a respiração que estava prendendo, já que Niall acabou de pôr em dúvida para o júri a alegação de uso de força excessiva e coerção que a promotoria queria usar como agravante para o meu assalto.

O julgamento continua e percebo que Linda é a próxima a ser chamada para depor. Não disse nada a ela e nem a corrompi para que ela dissesse algo diferente do que ela viu aquele dia, mas acho que no fundo, Linda percebeu que eu estou do lado do Louis nesse julgamento, e de certa forma, eu tenho algum tipo de esperança que ela possa ajudar a diminuir a pena dele.

A promotoria começa com os questionamentos e eu fico apreensivo ouvindo as respostas que Linda dá sobre o fatídico dia.

"Você foi levada pelo segundo assaltante, correto?" A promotora pergunta.

"Sim."

"A senhora pode ter se confundido? E poderia haver apenas um assaltante?"

"Objeção, meritíssimo." Niall intervém olhando para o juiz. "Indução da testemunha."

"Concedido. Reformule a pergunta, promotora Chelsea." O juiz diz se voltando a ela, que solta um suspiro exasperado antes de dizer:

"Sem mais perguntas, meritíssimo."

Ela volta para o seu lugar e é a vez de Niall começar as perguntas.

"Sra. Linda, quando Louis atirou em você, qual foi a primeira coisa que você se lembra?"

"Do Harry gritando achando que ele tinha me matado." Ela diz e me olha por um instante.

"E o que foi que Louis disse a Harry? A senhora se lembra?"

"Que ele não errava os tiros, que me acertou no ombro e que eu não morreria." Ela diz e eu por pouco não dou um sorriso.

"Sem mais perguntas, meritíssimo."

Niall acabou de colocar em dúvida a questão da tentativa de homicídio para o júri, já que Linda confirmou de forma indireta que Louis não erra os tiros, e que acertou no ombro dela porque quis.

Um fio de esperança começa a brotar em mim, mas desaparece assim que ouço a voz da promotora:

"A próxima testemunha seria o senhor Harry Edward Styles, mas estamos dispensando a testemunha pelo laudo de Carmem Watts que confirma que a vítima sofre de síndrome de Estocolmo."

Arregalo os olhos e tento buscar o olhar de Niall em desespero. Eu seria a testemunha que mais ajudaria Louis nesse julgamento, não é possível que Carmem tenha dado esse laudo para a promotoria. Observo Niall se levantar com calma, pegando uma folha na mesa enquanto se encaminha diante do juiz.

"Objeção meritíssimo. Carmem é uma psicóloga criminal e teve apenas alguns encontros com o Sr. Styles, não sendo possível assim dar nenhum laudo com exatidão."

"Ela teve tempo o suficiente para avaliá-lo." A promotora rebate.

"Na verdade, meritíssimo, Harry foi acompanhado pelo doutor Alessandro Castanhas, que o tem acompanhado há dois meses, e aqui está o laudo dele confirmando que Harry Edward Styles está apto a depor e que não sofre de síndrome de Estocolmo."

Niall entrega uma folha de papel para o juiz, mas antes que o mesmo possa lê-lo, a promotora intervém.

"Objeção, meritíssimo, esse laudo não consta nos autos."

"O da promotoria também não." Niall retruca.

"Me deixe ver os laudos. Os dois." O juiz exige.

Mordo os lábios com força enquanto o observo colocar os óculos e passar os olhos atentos em ambos os documentos. Fico apreensivo e minhas mãos começam a suar de nervoso.

"Senhor Chelsea, aqui consta que a Sra. Watts se reuniu com o senhor Styles apenas três vezes." O juiz começa.

"Sim. Mas foi o suficiente para constatar a síndrome." Ela rebate.

"Mas no caso do senhor Castanhas são ao todo sete sessões. O que me faz questionar a validade do laudo da senhora Watts. Não há como ter dúvidas em um julgamento." Ele diz e encara a promotora. "Em caso de dúvida, eu irei permitir o senhor Styles como testemunha."

Solto um suspiro tão alto que tenho medo de que as pessoas ao meu redor tenham ouvido. Ela relutantemente assente e aponta para a cadeira ao lado do juiz.

"A promotoria chama Harry Edward Styles para depor." Ela diz e eu me levanto, respirando fundo.

Minhas pernas tremem e eu preciso me segurar levemente no banco para não cair. Caminho até a cadeira e coloco a mão direita no ar, jurando contar a verdade e somente a verdade. Quando me sento, os olhos de Louis se erguem para mim pela primeira vez e ele me encara por uma fração de segundos, antes de abaixar o olhar para as mãos mais uma vez.

"Senhor Styles, o senhor estava na sua casa quando foi abordado por Louis William Tomlinson, Joshua Ulhoa e mais uma assaltante que não foi identificado no dia 15 de outubro de 2016, correto?" A promotora começa e eu assinto.

"Correto."

"Os homens estavam armados quando fizeram a sua abordagem?" 

"Sim."

"Em algum momento eles ameaçaram a sua vida?"

"Não." Respondo com firmeza, apesar da minha voz estar trêmula pelo nervosismo. "Eles sempre me disseram que não tinham a intenção de me  matar, que a única intenção deles era o roubo."

"Mas você foi alvejado pelo o réu, correto?" Ela pergunta.

"No braço, quando demonstrei resistência em ser libertado por ele."

"Você acredita que tenha sido feita uma lavagem cerebral para que você pudesse vê-los como assaltantes do bem?"

"Objeção, meritíssimo. A promotora não é perita e nem psicóloga para estar fazendo esse tipo de pergunta." Niall interrompe.

"Concedido." O juiz diz e a promotora me encara por um instante antes de dizer:

"Sem mais perguntas, meritíssimo."

Ela volta ao seu lugar e Niall se levanta, caminhando em minha direção de forma calma e calculada. Ele para de frente a mim e me encara antes de começar as perguntas.

"Sr. Styles, em algum momento durante o seu assalto, o senhor foi agredido?"

"Apenas por Joshua Ulhoa, que foi morto durante o assalto."

"Joshua Ulhoa que consta entre as vítimas de homicídio de Louis William Tomlinson, correto?"

"Sim." Respondo firme.

"E o senhor pode esclarecer os fatos que aconteceram antes dele ser morto?"

"Ele me abordou de madrugada enquanto os outros dois estavam dormindo e me levou para o quarto mais afastado da minha casa para tentar  abusar sexualmente de mim."

Assim que as palavras saem da minha boca, observo de soslaio o olhar de espanto dos júris em minha direção.

"E o que aconteceu? Pode nos relatar em detalhes?" Niall pergunta.

"Ele me ameaçou com palavras, me agrediu com um tapa no rosto e tirou a minha roupa, me deixando nu da cintura para baixo. Quando ele estava prestes a conseguir o que ele queria, eu no momento de desespero, consegui chutar sua arma para o chão. Quando ele se abaixou para pegá-la, eu consegui pegar um abajur que estava próximo a mim e acertá-lo na cabeça. Ele caiu para trás e eu peguei a arma dele. Foi nesse momento que Louis chegou no quarto."

"E o que aconteceu depois disso?" Niall continua.

"Louis encurralou Joshua quando eu disse a ele o que ele tinha tentado fazer comigo. Louis me pediu calma e me pediu para entregar a arma." Engulo em seco quando os olhos de Louis se voltam para mim, e ele me encara com o cenho franzido. "Eu estava completamente atordoado e traumatizado, então, quando Louis se aproximou eu destravei a arma e atirei. Minhas mãos tremiam e eu acabei acertando o seu braço." 

"E depois disso, Sr. Styles? O que aconteceu?" Niall pergunta.

"No meu momento de distração, Joshua pegou a arma de Louis e mirou em mim."

"E depois?" Niall pergunta e eu solto um suspiro antes de dizer com firmeza:

"Eu mirei e atirei em sua têmpora, e matei Joshua Ulhoa antes que ele me matasse primeiro."

Ouço suspiros surpresos e burburinhos começarem a ecoar dentro do tribunal quando olho para Louis, vendo seus olhos arregalados e seu semblante em completa incredulidade. Seu peito começa a subir e descer de forma apressada e ele nega com a cabeça repetidas vezes, parecendo chocado demais para sequer dizer algo. Desvio o olhar dele rapidamente apenas para olhar para Niall que me lança um aceno de cabeça contido antes de se virar para o juiz e dizer:

"Sem mais perguntas, meritíssimo."

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