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Denver, Colorado.
Quinta-feira, 02 de novembro de 2016.

Baby,

Acredito que agora terei que me referir a você por codinomes, já que tenho sido assistido de perto e não posso correr o risco de que esse caderno se torne, de alguma forma, uma prova contra você.

Eu disse que eu não iria te entregar e não vou.

Não sei ao certo porque estou escrevendo, sendo que você não vai ler essas palavras rabiscadas em uma folha de papel qualquer, mas de certa forma, é uma espécie de relicário para que eu possa manter as minhas memórias frescas.

Eu tenho medo de te esquecer.

E esse medo me persegue mesmo eu ainda sentindo o gosto tão vivo da sua boca na minha. Se eu fechar os olhos quando eu estou deitado, posso jurar que ainda sinto os seus lábios encostando em minha nuca, e é por esse motivo que a maioria do meu tempo eu passo na cama, encolhido e relembrando esse toque. 

Sempre que eu me esqueço de comer, lembro de você praticamente enfiando um prato no meu rosto me dizendo com toda a delicadeza do mundo: come, porra.

E eu como pensando nas refeições que tivemos juntos, só que dessa vez, eu como sozinho.

Eu recebi alta do hospital na quarta-feira de manhã, e confesso que fiquei com receio de voltar para casa quando Linda, a minha governanta, que levou um tiro seu no ombro, me entregou as chaves. Por incrível que pareça, ela não pediu demissão e eu estou pagando pelo tratamento do ferimento que você causou (sem necessidade nenhuma, convenhamos) até que ela esteja bem para voltar.

Você só me dá prejuízo, baby.

Quando voltei, fiquei apreensivo que a minha casa fedesse a defunto, já que o corpo do Joshua deve ter apodrecido dentro do quarto, mas por sorte, minha casa parecia perfeitamente normal quando entrei nela.

A polícia fez um bom trabalho limpando a cena do crime, e felizmente não deram atenção a todos os detalhes, já que achei a minha blusa que você usou em cima do sofá.

A mesma que você jogou em mim dizendo que era pra eu guardar para sentir o seu cheirinho quando você fosse embora. E adivinhe? Eu não taquei fogo nela como disse que faria, pelo contrário, eu cheiro ela todas as noites enquanto sinto a sua falta.

O cheiro já foi embora, mas a saudade permanece.

Tenho tentado me ajustar, mas tem sido difícil quando tudo o que eu quero é ter notícias suas, saber de você, te ver de novo, ouvir sua voz,  sentir seu cheiro, seu gosto, seus toques…

Eu estou tentando, baby. Estou tentando fazer o que você instruiu quando me disse para voltar para a minha vida e continuar fazendo o que eu fazia.

Só que dessa vez, tenho tentado fazer melhor.

Depois que eu tive a discussão com meus pais no hospital, eu decidi reduzir pela metade a "ajuda de custo" que eu dava a eles. Poderia ter me recusado a pagar qualquer coisa, mas, no fundo, meu coração ainda é mole demais. Sei que eles não merecem, mas ainda continuam sendo os meus pais e essa é uma forma de manter a minha paz.

O meu braço está melhorando. Ainda está enfaixado e sei que a cicatrização está boa. Sempre que olho para ele eu sinto um misto de emoções.

Fico com raiva por você ter atirado em mim, mas sinto alívio por ter sido onde foi.

Você nunca erra os tiros e você não errou esse. Você não hesitou, como sempre me disse que não faria, mas você soube exatamente onde me marcar.

EXTORSIONÁRIO [L.S]Onde histórias criam vida. Descubra agora